A Polícia Municipal de Lisboa anunciou o reforço de agentes que vão andar a vigiar as horas a que fecham os bares do Bairro Alto. Os comerciantes, e até alguns moradores, temem que se esteja a "matar"a zona.
Bruno Pereira, 27 anos, trabalha há dois no Jurgens Bar, na Rua do Diário de Notícias. Ontem, quando confrontado, pelo JN, com o anúncio de que a Polícia Municipal (PM) vai reforçar o dispositivo de agentes para verificar se todos os estabelecimentos cumprem os novos horários, não hesitou: "Agora que obrigam os bares a fechar mais cedo é que metem mais polícia? Antes ninguém verificava os horários e aí, sim, havia muitos abusos. E andávamos a pagar por mais polícias".
Ainda só passaram duas semanas desde que a Câmara de Lisboa impôs novos horários no Bairro Alto, com os bares a ter que fechar às 2 horas e as discotecas às 4 horas, ao fim-de-semana. Mas só há uma discoteca no Bairro, o Frágil, na Rua da Atalaia. A polémica está para durar. É que, dizem vários dos interpelados, "as pessoas trabalham até às 20 horas, vão a casa mudar de roupa, chegam tarde para jantar nos restaurantes, e depois só lá para a 1.00 hora é que vão para os bares". Um agente da PM reconheceu ao JN: "A noite aqui começa tarde".
Já alguns residentes, como Joaquim Francisco, 76 anos, há mais de 30 anos a morar na Travessa do Poço da Cidade, desdenham destas medidas: "Eles fecham as portas, mas depois os clientes ficam lá dentro até mais tarde". E diz mesmo que o "ruído não incomoda muito, apenas a sujidade".
Também há comerciantes, caso de Jaime Godinho, 41 anos, dono do "41", que se dizem pouco incomodados com as alterações, embora este reconheça perdas de facturação ao fim-de-semana na ordem dos 20%. "Há três anos que abro as portas às 18 horas e nunca fechava depois das três", explicou.
Já Sabine Grün, 44 anos, uma alemã que explora uma loja de roupa na Rua das Salgadeiras e mora no Bairro, foi mais directa: "O problema é a recolha do lixo, que é péssima, isso é que devia mudar". Já sobre a noite do Bairro, diz que "é fantástica, tal como descrevem os guias de turismo". O problema do barulho, para Sabine, "é como viver ao lado do aeroporto". "As pessoas têm de se habituar". E dá o exemplo de Barcelona. "Era uma cidade fantástica para sair à noite, mas leis iguais a estas tornaram-na insuportável" .
In JN
Onde a PM fazia falta era a fiscalizar o estacionamento na zona de Santos que nas noites de sexta e sábado se apodera do largo Vitorino Damásio (sim, esse mesmo que tem um parque subterrâneo) do passeio em redor do Jardim de Santos e dos passeio no cruzamento entre a Rua das Janelas Verdes e a Calçada Ribeiro Santos
6 comentários:
o bairro vai morrer juntamente com o seu comércio e a segurança...
O que é interessante é que esta medida começa precisamente quando o Bairro começava a criar dinâmicas sociais identitárias, sofisticadas o suficiente para que as próprias pessoas organizassem espontaneamente a garantia de segurança do público.
Já na Baixa, querem o milagre inverso: as dinâmicas não emergem, logo é precisamente aí que querem impô-las à força e torná-la num "centro comercial ao ar-livre". Lembro que um dos parâmetros para a sua concretização era a segurança. (à conta do herário público, desta vez.)
Malditas pessoas que se organizam para lá dos sonhos dos dirigentes!
Durante anos os comerciantes da zona andaram a pedir reforço de policiamento para a zona nomeadamente devido ao tráfico de droga que de esquina em esquina se fazia à descarada. Os comerciantes depois de pedirem durante anos reforço policial que nunca chegou, tiveram de ser eles próprios a pagar. Agora, para cumprir uma lei camarária de encerramento ás 2 da manha, é vê-los chegar ás dezenas em carrinhas da polícia. Está tudo errado. Num dos bares de que conheço o dono já foram despedidos 3 funcionários pois obviamente a receita caiu abruptamente e, a insegurança, entre as 2 e as 5 da manha voltou ao BA já que boa parte dos jovens que por si só a garantiam, a essa hora partem para outras paragens. Aquela que deveria ser considerada uma zona de excepção e conhecida mundo fora, acabou de ser brutalmente morta ás mãos de quem em vez de resolver os problemas, muito à portuguesa os varre para debaixo do tapete tomando medidas destas.
Continuo sem perceber porque é que estas pessoas acham que podem incomodar os residentes do bairro alto até altas horas da madrugada. Os jovens davam segurança das 2 às 5 da manhã? Com quê? Com as constantes bebedeiras, garrafas pelo ar, etc? Em vez de ficarem na paródia até Às 5 da manhã,vão mas é trabalhar, que se trabalhassem nem tinham vontade de incomodar residentes até tão tarde. Quem defende que os bares devem ficar abertos até tarde é cretino (a começar pela Lesma Morta), devem ser betinhos e meninos ricos que nunca tiveram um restaurante ou um bar à porta de casa.
Este último comentador parece que se esquece de quão inseguras são as zonas do Bairro Alto com menos movimento.
Parece que se esquece do direito das pessoas à diversão. Do direito das pessoas a sua grande maioria trabalhadores em se divertirem ao fim-de-semana. E que têm mais que fazer do que ter vontade em incomodar seja quem for.
E pela ordem de ideias da última frase proíba-se toda e qualquer actividade económica. Seja ela desterrada.
A Sabine Grün tem toda a razão. Isto é manifestamente desproporcional e se a CML não volta atrás vai destruir a noite de Lisboa...quem vai para o Bairro não quer saber nem de Santos, nem da Expo, nem das Docas ! E muita, muita gente não quer nem ouvir falar em discotecas ! É ali no meio da rua num ambiente livre e descontraído, sem exibicionismos sociais, que gostamos de estar !
Quem defende a balbúrdia do B.A. e de Santos não sabe o que é viver junto a bares.
Saibam que é das piores coisas do mundo ter que ficar todos os dias a ouvir barulho de música e bêbedos até às 4 da manhã. É um atentado à saúde e à dignidade das pessoas. Foram os piores anos da minha vida.
O Sr. Sá fala do direito à diversão...
Fique sabendo que a noite de LX dá muito dinheiro e que não se lhe exige nada em troca: um bar abre em qualquer zona habitacional até às 4 da manhã com a mesma facilidade com que se abre uma sapataria. Condições de segurança, nenhuma: carros partidos, espaço público degradado, droga à porta de casa. etc. Condições de isolamento acústico, zero: pessoas que ficam acordadas até às altas horas da madrugada, diariamente, porque há quem se queira divertir.
Veja bem que nem a Kapital se dignou a fazer um isolamento acústico decente (não devem ter dinheiro, ou sabem que nada lhes acontece) forçando muitas famílias a ter que fugir de casa ou ouvir batidas até às 8 da manhã.
Já vivi em Paris junto a um bar muito frequentado por miúdos e garanto-lhe que nada disto se passava. Desordem, nenhuma; ruído, zero. Limpinho.
Deixe lá de pensar na sua cervejinha e pense um pouco na dignidade das pessoas. É possível haver "noite lisboeta" sem anarquia e violência sobre os residentes. Basta que se exiga mais condições aos proprietários dos bares e discotecas e que se ponham as coisas na ordem. Custa muito?
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