16/11/2008

Horários do Bairro com maior controlo

A Polícia Municipal de Lisboa anunciou o reforço de agentes que vão andar a vigiar as horas a que fecham os bares do Bairro Alto. Os comerciantes, e até alguns moradores, temem que se esteja a "matar"a zona.

Bruno Pereira, 27 anos, trabalha há dois no Jurgens Bar, na Rua do Diário de Notícias. Ontem, quando confrontado, pelo JN, com o anúncio de que a Polícia Municipal (PM) vai reforçar o dispositivo de agentes para verificar se todos os estabelecimentos cumprem os novos horários, não hesitou: "Agora que obrigam os bares a fechar mais cedo é que metem mais polícia? Antes ninguém verificava os horários e aí, sim, havia muitos abusos. E andávamos a pagar por mais polícias".

Ainda só passaram duas semanas desde que a Câmara de Lisboa impôs novos horários no Bairro Alto, com os bares a ter que fechar às 2 horas e as discotecas às 4 horas, ao fim-de-semana. Mas só há uma discoteca no Bairro, o Frágil, na Rua da Atalaia. A polémica está para durar. É que, dizem vários dos interpelados, "as pessoas trabalham até às 20 horas, vão a casa mudar de roupa, chegam tarde para jantar nos restaurantes, e depois só lá para a 1.00 hora é que vão para os bares". Um agente da PM reconheceu ao JN: "A noite aqui começa tarde".

Já alguns residentes, como Joaquim Francisco, 76 anos, há mais de 30 anos a morar na Travessa do Poço da Cidade, desdenham destas medidas: "Eles fecham as portas, mas depois os clientes ficam lá dentro até mais tarde". E diz mesmo que o "ruído não incomoda muito, apenas a sujidade".

Também há comerciantes, caso de Jaime Godinho, 41 anos, dono do "41", que se dizem pouco incomodados com as alterações, embora este reconheça perdas de facturação ao fim-de-semana na ordem dos 20%. "Há três anos que abro as portas às 18 horas e nunca fechava depois das três", explicou.

Já Sabine Grün, 44 anos, uma alemã que explora uma loja de roupa na Rua das Salgadeiras e mora no Bairro, foi mais directa: "O problema é a recolha do lixo, que é péssima, isso é que devia mudar". Já sobre a noite do Bairro, diz que "é fantástica, tal como descrevem os guias de turismo". O problema do barulho, para Sabine, "é como viver ao lado do aeroporto". "As pessoas têm de se habituar". E dá o exemplo de Barcelona. "Era uma cidade fantástica para sair à noite, mas leis iguais a estas tornaram-na insuportável" .

In JN

Onde a PM fazia falta era a fiscalizar o estacionamento na zona de Santos que nas noites de sexta e sábado se apodera do largo Vitorino Damásio (sim, esse mesmo que tem um parque subterrâneo) do passeio em redor do Jardim de Santos e dos passeio no cruzamento entre a Rua das Janelas Verdes e a Calçada Ribeiro Santos

6 comentários:

Anónimo disse...

o bairro vai morrer juntamente com o seu comércio e a segurança...

Joao disse...

O que é interessante é que esta medida começa precisamente quando o Bairro começava a criar dinâmicas sociais identitárias, sofisticadas o suficiente para que as próprias pessoas organizassem espontaneamente a garantia de segurança do público.

Já na Baixa, querem o milagre inverso: as dinâmicas não emergem, logo é precisamente aí que querem impô-las à força e torná-la num "centro comercial ao ar-livre". Lembro que um dos parâmetros para a sua concretização era a segurança. (à conta do herário público, desta vez.)

Malditas pessoas que se organizam para lá dos sonhos dos dirigentes!

Lesma Morta disse...

Durante anos os comerciantes da zona andaram a pedir reforço de policiamento para a zona nomeadamente devido ao tráfico de droga que de esquina em esquina se fazia à descarada. Os comerciantes depois de pedirem durante anos reforço policial que nunca chegou, tiveram de ser eles próprios a pagar. Agora, para cumprir uma lei camarária de encerramento ás 2 da manha, é vê-los chegar ás dezenas em carrinhas da polícia. Está tudo errado. Num dos bares de que conheço o dono já foram despedidos 3 funcionários pois obviamente a receita caiu abruptamente e, a insegurança, entre as 2 e as 5 da manha voltou ao BA já que boa parte dos jovens que por si só a garantiam, a essa hora partem para outras paragens. Aquela que deveria ser considerada uma zona de excepção e conhecida mundo fora, acabou de ser brutalmente morta ás mãos de quem em vez de resolver os problemas, muito à portuguesa os varre para debaixo do tapete tomando medidas destas.

Anónimo disse...

Continuo sem perceber porque é que estas pessoas acham que podem incomodar os residentes do bairro alto até altas horas da madrugada. Os jovens davam segurança das 2 às 5 da manhã? Com quê? Com as constantes bebedeiras, garrafas pelo ar, etc? Em vez de ficarem na paródia até Às 5 da manhã,vão mas é trabalhar, que se trabalhassem nem tinham vontade de incomodar residentes até tão tarde. Quem defende que os bares devem ficar abertos até tarde é cretino (a começar pela Lesma Morta), devem ser betinhos e meninos ricos que nunca tiveram um restaurante ou um bar à porta de casa.

Pedro Sá disse...

Este último comentador parece que se esquece de quão inseguras são as zonas do Bairro Alto com menos movimento.

Parece que se esquece do direito das pessoas à diversão. Do direito das pessoas a sua grande maioria trabalhadores em se divertirem ao fim-de-semana. E que têm mais que fazer do que ter vontade em incomodar seja quem for.

E pela ordem de ideias da última frase proíba-se toda e qualquer actividade económica. Seja ela desterrada.

A Sabine Grün tem toda a razão. Isto é manifestamente desproporcional e se a CML não volta atrás vai destruir a noite de Lisboa...quem vai para o Bairro não quer saber nem de Santos, nem da Expo, nem das Docas ! E muita, muita gente não quer nem ouvir falar em discotecas ! É ali no meio da rua num ambiente livre e descontraído, sem exibicionismos sociais, que gostamos de estar !

Pedro Matias disse...

Quem defende a balbúrdia do B.A. e de Santos não sabe o que é viver junto a bares.
Saibam que é das piores coisas do mundo ter que ficar todos os dias a ouvir barulho de música e bêbedos até às 4 da manhã. É um atentado à saúde e à dignidade das pessoas. Foram os piores anos da minha vida.

O Sr. Sá fala do direito à diversão...
Fique sabendo que a noite de LX dá muito dinheiro e que não se lhe exige nada em troca: um bar abre em qualquer zona habitacional até às 4 da manhã com a mesma facilidade com que se abre uma sapataria. Condições de segurança, nenhuma: carros partidos, espaço público degradado, droga à porta de casa. etc. Condições de isolamento acústico, zero: pessoas que ficam acordadas até às altas horas da madrugada, diariamente, porque há quem se queira divertir.
Veja bem que nem a Kapital se dignou a fazer um isolamento acústico decente (não devem ter dinheiro, ou sabem que nada lhes acontece) forçando muitas famílias a ter que fugir de casa ou ouvir batidas até às 8 da manhã.

Já vivi em Paris junto a um bar muito frequentado por miúdos e garanto-lhe que nada disto se passava. Desordem, nenhuma; ruído, zero. Limpinho.

Deixe lá de pensar na sua cervejinha e pense um pouco na dignidade das pessoas. É possível haver "noite lisboeta" sem anarquia e violência sobre os residentes. Basta que se exiga mais condições aos proprietários dos bares e discotecas e que se ponham as coisas na ordem. Custa muito?