In Jornal de Notícias (10/11/2008)
NUNO MIGUEL ROPIO
«Renault pagou para Câmara cobrir de alcatrão trilhos da Carris na Avenida da Liberdade
Parte da linha do eléctrico Rato - Alto de S. João, em Lisboa, desapareceu com o evento publicitário da Renault, na Avenida da Liberdade há duas semanas. O troço da Carris acabou sob uma cobertura de alcatrão.
A obra da Câmara Municipal de Lisboa estava incluída no pacote de contrapartidas dadas pela marca francesa ao município, para a ocupação da Avenida da Liberdade no fim-de-semana de 25 e 26 de Outubro. Uma das exigências da Renault era poder utilizar esta artéria da cidade sem a existência da irregularidade verificada no piso, provocada pela linha do eléctrico proveniente da Rua Alexandre Herculano e que atravessava a avenida lateralmente.
A troco de 22 mil euros, que incluíram as taxas de ocupação e publicidade, além do corte da circulação rodoviária durante os dois dias, os serviços municipais assumiram aquela intervenção e a recarga betuminosa sobre a linha que se encontra desactivada.
Ao JN, fonte da Carris adiantou que apesar desta ligação ser propriedade da transportadora, as intervenções sobre o conjunto de 20 quilómetros de linhas que se mantêm inactivas na capital podem ser realizadas pela autarquia, mesmo sem a anuência da empresa, porque se encontram em pleno espaço público. "Não é a primeira vez que o município coloca alcatrão sobre estas estruturas. As linhas continuam lá e são responsabilidade da Carris. Se quisermos reactivar alguma, tem de ser retirado esse tapete", explicou a mesma fonte. Da Câmara de Lisboa não foi possível obter qualquer esclarecimento sobre a obra.
Para o presidente da Junta de Freguesia de São José, João Miguel Mesquita (PSD), a intervenção sobre a linha deveria motivar uma discussão sobre o futuro da avenida. "Estas acções são avulsas. Não se quer planos para o presente mas para o futuro, discutidos à luz do PUALZE (Plano de Urbanização da Avenida da Liberdade e Zona Envolvente)", disse o autarca. "Gostava de não ter trânsito nas laterais mas há quem queira. É pela diferença de opiniões que o senhor presidente da Câmara deveria ser o primeiro a dizer o que quer afinal da avenida", frisou. »
O grave, como eu disse ao jornalista e se esqueceu de referir, não é tapar-se com alcatrão os carris do eléctrico que fazia o Rato e a Amirante Reis, via Conde Redondo, pois o alcatrão sairá na hora em que haja vontade política para reabrir as linhas de eléctrico que foram indevidamente encerradas ao longo dos últimos 25 anos.
O grave é que esta Lisboa chegou a ter dezenas largas de km de carris de eléctricos, que iram a praticamente todo o lado da cidade, e, paulatinamente, voltámos para trás. Ou seja, em vez de desenvolvermos o transporte público não poluente, com mais linhas, mais articuladas, com mais composições, pequenas e maneirinhas, fizemos coisas como a compra daquele monos gigantes, ao tempo de Ferreira do Amaral, impingidos a Lisboa sabe-se lá em troco do quê, e que não servem rigorosamente para nada; em vez de seguirmos os exemplos, os bons exemplos, das cidades evoluídas do lado de lá dos Pirinéus.
Este episódio da Avenida da Liberdade é resultante, realmente mas apenas em parte, da ausência de um plano de fundo da CML de ataque à poluição na zona da Baixa, a partir do Marquês, e de mais qualidade de vida naquele troço da cidade, mas é sobretudo fruto do imenso analfabetismo reinante nas diversas áreas da governação.
Será mais fácil a CML e o Governo encetarem contratos para novos túneis rodoviários na Duque de Loulé, no Saldanha, na Penha de França, etc., do que fazerem reabrir as linhas de eléctrico, pois isso mexe com muitos interesses instalados. É só isso. Pago para ver o dia em que a CML e o Governo, sobretudo este porque é ele quem manda na Carris (pelo menos é isso que se supõe...), se reabre o ramal do E-24 do Cais do Sodré às Amoreiras, com extensão ao Carmo...
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1 comentário:
o objectivo deveria ser o contrário, alargar o mais possivel a rede de electricos a toda a cidade, por todas as razões e mais alguma. Quanto ao resto já estamos habituados.
AL
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