02/09/2010
Câmara aprovou condomínio contra pareceres dos seus técnicos
In Público (2/9/2010)
Por José António Cerejo
«Último espaço livre na Av. Infante Santo, Lisboa, vai ser parcialmente ocupado com quatro blocos de cinco pisos, construídos na encosta
Um parque de estacionamento mal explicado
Salgado não responde
A Câmara de Lisboa autorizou, no fim de Julho, um loteamento que foi considerado inviável pela Estrutura Consultiva do Plano Director Municipal e que suscitou fortes reservas de outros serviços camarários. A proposta aprovada, subscrita por Manuel Salgado, vice-presidente e vereador do Urbanismo, omite o essencial das objecções levantadas e foi aprovada apenas com os votos da maioria.
Com um historial iniciado há uma dúzia de anos, o projecto envolve duas parcelas contíguas, num total de 4242 m2, que o grupo liderado pelo empresário João Pereira Coutinho possui entre a Av. Infante Santo e a Calçada das Necessidades. Juntamente com uma faixa de quase 100 metros de comprimento e uma área de 1134 m2, de propriedade municipal, que lhe é contígua e deita para a Infante Santo, as parcelas da imobiliária SGC correspondem ao único espaço ainda não-urbanizado daquela avenida.
Na década passada houve três propostas para o local, a última das quais foi indeferida por Manuel Salgado no fim de 2008. Tal como os anteriores, o projecto contava com a promessa de "cedência" da parcela camarária confinante para "complemento de lote". As conclusões da sindicância de 2007, que apontavam para a ilegalidade da generalidade deste tipo de "cedências" - e desta em concreto -, contribuíram, porém, para que Salgado indeferisse a pretensão.
O loteamento agora aprovado contempla a transformação de um edifício fronteiro ao muro da Tapada das Necessidades, a demolição de um outro e a construção, no logradouro, de quatro blocos de apartamentos com cinco pisos, recuados em relação à Calçada das Necessidades, mas sobrelevados em relação à Infante Santo. A intervenção abrange apenas as duas parcelas do promotor, mantendo os dois lotes actuais, e dará origem a 29 apartamentos, com 75 lugares de estacionamento privativo no subsolo. A área total a construir será de 6938 m2, dos quais 670 serão para comércio e o restante para habitação.
O Núcleo Residente da Estrutura Consultiva do PDM - serviço composto por técnicos municipais - entende, porém, que a intervenção não deveria ter sido sujeita às regras dos loteamentos, devendo, pelo contrário, obedecer às normas para construção avulsa.
Proposta "inviável"
No parecer emitido, aquele serviço salienta que o recurso à figura do loteamento "não tem sentido" porque não são criados mais lotes, novos arruamentos, ou infra-estruturas. Porém, enfatiza, a utilização dessa figura "potencia a edificabilidade para além do permitido pela aplicação das normas gerais para construção em Área Histórica Habitacional". Ou seja, permite aumentar a área de construção.
Além disso, o parecer defende que o projecto da SGC "não respeita" o artigo do PDM que ali interdita a construção nos logradouros. "As questões atrás colocadas apontam para a inviabilidade da presente proposta", conclui. O incumprimento do PDM em matéria de estacionamento e áreas comerciais mínimas nos loteamentos é igualmente uma das raras conclusões a que chega o Departamento de Projectos Estratégicos (DPE), responsável pela informação em que se baseou Manuel Salgado. No estacionamento, manda o plano que o projecto contemple 69 lugares e ele não prevê um único. Quanto às áreas comerciais, faltam 23 m2 para o cumprir.
Apontados estes dois aspectos, a informação resume os pareceres emitidos, sem nada propor, deixando tudo "à consideração superior". Salientado no texto, bem como nos despachos da hierarquia do DPE, é o facto de a informação responder a um despacho de Manuel Salgado que ordenou a sua elaboração por forma a instruir "uma proposta de deliberação".
O despacho de Salgado
Nesse despacho, de Janeiro deste ano, Salgado diz que o processo "tem sido acompanhado" no seu gabinete, estando a ser desenvolvida, "em articulação com o promotor", uma proposta "diametralmente oposta à que vem sendo usual nesta zona da cidade". Por isso, acrescenta, "neste momento é necessário serem tomadas opções político-urbanísticas", determinando a feitura da informação do DPE e de uma outra do Departamento do Património Imobiliário (DPI). A propósito desta, tece uma crítica severa ao DPI, dizendo que o seu trabalho se deve "circunscrever ao que lhe é pedido, não emitindo juízos de valor sobre áreas que são da competência" de outros serviços. O remoque dirigia-se a uma anterior informação do DPI em que se emitiam sérias reservas sobre o projecto e se concluía que ele desvalorizaria a parcela municipal contígua.
Na proposta que fez aprovar, Salgado omite parte das objecções dos serviços, nomeadamente as da Estutura Consultiva do PDM. Quanto às outras, justifica-as sobretudo com a cedência, pelo promotor, de 1572 m2 que, juntamente com os 1134 da parcela municipal [o que, somado, dá 2706 m2], permitirão "constituir um único espaço verde de utilização pública com a área total de cerca de 2900 m2".
Quanto à falta dos 69 lugares de estacionamento público, o autarca diz que ela é compensada em dinheiro. Aplicando as fórmulas em vigor, o DPI apurou 137.548 euros a pagar como compensação (1993 euros por cada lugar em falta). Adicionalmente, Salgado diz que "a operação viabilizará a construção de um parque público para 200 lugares, parcialmente em terreno" da SGC (ver caixa).»
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13 comentários:
Então e o Zé, que fez um enorme escarcéu sobre o que se passava na Infante Santo (lembro-me de uma entrevista inteira a Mário Crespo), por onde anda hoje essa criatura que lá fazia tanta falta como uma viola num enterro?
É desta que esta avenida vai finalmente ficar toda elaà sombrinha com os arranha céus que a compõem. Por alguma razão os prédios que lá estão dos anos 50 são perpendiculares à via tal como os da Av. Estados Unidos da América.
Vai ficar fantástica não haja dúvida....
Não é este zé que estava há uns tempos muito interessado em defender os interesses dos moradores da cril???onde está ele agora??
já sei...a defender os interesses dos moradores da Infante Santo!!!
Os lisboetas têm de saber o que se passa na CML: o compadrio e a impunidade que por lá reinam fazem lembrar tempos antigos - o tempo do soarismo e do sampaísmo. Quem não se lembra dos processos do El Corte Inglés ou do Saldanha Residence? Dos milhões que custaram à autarquia lisboeta? É bom que a verdade começe a vir ao de cima!
É uma vergonha o que se passa nesta câmara... contra os canhões, marchar, marchar!!!
Costa, Salgado & Zé.
Vamos a casa.
Fazemos orçamentos grátis.
Connosco nem precisa de meter cunhas.
Os ultimos comentários mostram bem a incompetência do PS.
Mas este partido continua a ganhar eleições o que mostra que os eleitores portugueses não sabem tirar partido da democracia. Vivemos numa ditadura de centro! Ora PS ora PSD, só mudam as moscas porque de resto já se sabe.
Está na altura de acabar a cleptocracia e devolver o Estado Novo a Portugal. Portugal te que ser um Estado de Direito tal como a Constituição da Republica Portuguesa o diz.
Portugal merece uma politica de bom senso onde se tomem medidas que não são populares mas inevitáveis ao progresso do país.
VERGONHA!!!!!
Agora o Salgado põe mordaças na boca dos técnicos municipais que tentam salvaguardar a cidade deste tipo de especulação.
VERGONHA!!! Construir no logradouro? Então o logradouro não é a área onde não se constrói?
Este processo ainda vai dar bronca...
Quando o crime urbanístico der cadeia
Este Xico não perde uma oportunidade para querer deitar o menino - o regime democrático - fora com a água do banho: o compadrio, a corrupção.
O Xico205 tem razão no que afirma mas ninguém se esquece das ideias dele, muitas vezes aqui expressas, sobre carros em cima do passeio, corte de árvores, destruição de património, ordenamento do território etc, que violam as leis do estado de direito! É preciso ter um pouco de congruência... e decoro, por favor!
Anónimo disse...
O Xico205 tem razão no que afirma mas ninguém se esquece das ideias dele, muitas vezes aqui expressas, sobre carros em cima do passeio, corte de árvores, destruição de património, ordenamento do território etc, que violam as leis do estado de direito! É preciso ter um pouco de congruência... e decoro, por favor!
9:38 AM
Há estacionamento legal em cima de passeios. Se não acrdita dou-lhe casos concretos, é só pedir. Desde que não afecte os peões não tem mal nenhum. Muitas vezes não há solução a não ser nos passeios, tem é que haver espaço suficiente para os peões. Muitas vezes as câmaras autorizam o estacionamento nos passeios porque fica mais barato que reduzir o paseio e alcatroar o estacionamento, e quando não há carros estacionados os passeios ficam maiores para os peões. Acho muito bem que assim seja.
Quanto ao património, há património e +atrimónio. Algum tem interesse em ser preservado outro não interessa para nada. Agora defender um mamarracho só porque é velho?!!!
Será que vocês ao criticarem a construção dum edificio novo, se forem vivos daqui a 90 anos vão ser defensores acérrimos da não demolição do prédio porque nessa altura já é velho?!!!!
Conforme vocês defendem um edificio só porque é velho, quando ele foi construido secahar muita gente o criticou por ser feio.
Numa cidade tem que haver construções novas e vehas, tem é que haver harmonia entre o novo e o velho.
Sou a favor de corte de árvores? Sim, se se justificar. Ainda há menos dum mês uma palmeira podre caiu em cima de três pessoas, matou uma imediatamente e duas foram em estado grave para o hospital, e uma ficou paralitica. Sim preferia que a árvore tivesse sido cortada. Secalhar quem é defensor acérrimo das árvores e lhe morresse o pai a mãe ou os filhos na queda da árvore, mudava radicalmente de opinião, mas isso já se sabe, casa assaltada, trancas à porta.
Quanto ao ordenamento do território, obviamente sou a favor dele, até porque sou tecnico superior de ordenamento do território.
Só falta publicarem o meu outro comentario após o das 9:28PM!
Se publicaram um, publiquem o outro.
Concordo com o Xico e vou mais longe, o actual modelo de organização do estado, moldado para alimentar partidos políticos apinhados de parasitas cujo único objectivo é deitar a mão aos cargos e tachos criados junto das estruturas do estado tem de acabar. Enquanto perdurar este "fartar de vilanagem" Portugal não pode ser considerado um estado de direito.
Ouço cada vez mais as famosa frase da Manuela Ferreira Leite.... "acabe-se com a democracia por 6 meses, mete-se tudo na ordem e depois venha a democracia novamente"
Já simpatizei menos com essa idéia ...
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