A venda de um lote para construção de habitação na Rua Damasceno Monteiro, está a gerar uma interessante discussão sobre se deve ou não avançar este projecto.
A Rua Damasceno Monteiro, inserida nas freguesias dos Anjos e da Graça, é uma rua integralmente constituída por edifícios de habitação, alguns com espaços para comércio ao nível da rua. Nos últimos anos, foram construídos dois edifícios novos, no inicio da rua, os quais ainda dispõe de apartamentos para vender, apesar de estarem prontos à mais de 4 anos. Um deles é um condomínio fechado com piscina.
Esta rua caracteriza-se pela falta de estacionamento suficiente para os moradores, assim como pela ausência de transporte público, e escasso comércio/serviços, apesar de ter por exemplo um supermercado (LIDL), uma agência bancária (BPI), a piscina municipal e uma boa papelaria, entre outros.
Quem passe no local verifica que existem inúmeros apartamentos para venda ou arrendamento, o que é uma constante dos últimos anos. Julgo que uma das principais razões para que uma família deseje deixar esta rua será sem dúvida a escassez de estacionamento. Ao final do dia, é corrente ver os automóveis a deixarem pessoas junto ao prédio onde vivem, para depois o condutor ir á procura de lugar nas ruas limítrofes. É sem dúvida uma rua que atingiu o seu limite em termos de “capacidade” para absorver mais habitantes.
O lote em questão tem por atractivo principal o facto de permitir usufruir de uma vista impar sobre a cidade. Quem já foi ao restaurante “Via Graça”, no prédio contíguo, sabe do que falo. É certtamente uma característica que irá atrair os potenciais interessados.
No entanto, face ao actual estado do mercado imobiliário, sobre o qual não vale a pena acrescentar mais, face á existência de vários edifícios de apartamentos na zona, concluídos e com apartamentos que não encontram comprador (Rua Damasceno Monteiro, Rua da Senhora do Monte, Rua de São Gens, Rua da Bela Vista à Graça, Rua da Voz do Operário), face aos projectos que estão previstos para a zona assim melhore a dinâmica de mercado e face à complexidade e custos da obra, tenho sérias dúvidas que surja um promotor para este projecto.
O interesse da discussão prende-se então com o facto de chegarmos a uma conclusão sobre se em casos semelhantes, se deve construir ou mudar o uso do terreno, afectando-o por exemplo ao usufruto público. Nesse sentido, várias questões são pertinentes, a ver:
- Existe excesso de construção no centro de Lisboa ?
- Necessita esta zona da cidade de mais habitantes ?
- Deve a aposta continuar a incidir na construção nova versus reabilitação/recuperação do edificado ?
- Faz sentido uma entidade como a EPUL, surgida numa época onde havia escassez de oferta imobiliária na cidade ?
Embora tenha as minhas próprias respostas, penso que este projecto pode significar o surgimento de uma nova filosofia na vida da cidade, um novo paradigma, fruto não só da crise, mas também de uma nova perspectiva acerca da qualidade de vida nos centros urbanos.
Finalizo referindo que em Paris e Nova York, estão a aproveitar lotes de terreno não utilizados, para construir jardins, com evidente benefício das populações dos respectivos bairros.
23/03/2012
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8 comentários:
Caro Carlos Leite de Sousa:
O seu texto é todo ele profundamente tendêncioso, mas não posso deixar de me rir com uma passagem em particular, nela se lê, que na sua rua: "Ao final do dia, é corrente ver os automóveis a deixarem pessoas junto ao prédio onde vivem, para depois o condutor ir á procura de lugar nas ruas limítrofes", coisa que para quem não olhar apenas para o seu umbigo, é evidente que se passa em quase todas as ruas centrais de Lisboa (... e Londres, e de Paris...etc.)
Mas a conclusão desta observação é ainda mais notável:"É sem dúvida uma rua que atingiu o seu limite em termos de “capacidade” para absorver mais habitantes."
Aqui só me ocorre uma dúvida, será que o caro autor se enganou trocando a palavra "habitantes" por "automóveis", ou será que confunde mesmo os dois termos, e considera que "habitar" e "estacionar" são o mesmo verbo?
cumps.
f.
Falta de estacionamento, na Damasceno Monteiro, tem graça quando se falou de fazer aí um silo para estacionamento, os moradores ficaram escandalizados e preferiram a horta... pois agora comam as couves e andem de eléctrico!
Caro anónimo,
Para quem é anónimo o seu texto é bastante deselegante.
Com efeito existem ruas no centro de Lisboa, onde estacionar é mais fácil que na rua em questão. Por exemplo no "triângulo" entre a Av. Duque de Ávila, a Av. Fontes Pereira de Melo, e a Av. António Augusto de Aguiar, é bastante fácil estacionar ao final do dia. Sei-o por experiência própria.
O meu texto não é tendencioso mas realista. Conhece a realidade da rua em questão ?
Para além disso, devemos escrever tendo em conta a realidade e a vivência dos locais. Ou prefere que diga, que a rua comporta perfeitamente mais habitantes, podendo os mesmos ser inseridos em edificios de 20 ou 30 andares ? Também acho cómico que pretenda escrever sobre esta rua esquecendo o modo de vida em Lisboa. Ou acredita que os futuros habitantes serão pessoas que não possuem automóvel ?
Acabo por não perceber a sua opinião, se é que a tem. Em caso afirmativo exponha-a, para a podermos debater.
Caro Carlos Leite de Sousa:
O tal "triângulo" que refere, mais uma vez mostra de novo alguma miopia crítica, ou não lhe ocorre que se trata do CBD de Lisboa, e que obviamente tem muito poucos residentes.
Quanto à Damasceno Monteiro, também a conheço bem e sei que é dificil estacionar, tal como na Rua e no Largo da Graça, na Angelina Vidal, no Bairro das Colónias ou no Bairro de Inglaterra, tal como na minha rua, etc... etc...
Quanto á minha opinião pessoal, acho que a rua suporta mais pessoas sim, Lisboa precisa deseperadamente de recuperar habitantes, não suporta é mais automóveis e de acordo com o PDM, e aliás de acordo com o mercado e o tal "modo de vida em Lisboa" é impensável estas novas casas não terem garagem para dois, três ou quatro automóveis. Lembre-se que estamos com toda a certeza a falar de pessoas com elevado poder de compra e que não querem morar nos subúrbios, devemos proteger e acarinhar estas pessoas pois não queremos fenómenos de expulsão do poder de compra dos centros urbanos para os suburbios, como acontecceu nos Estado Unidos, este fenómeno está finalmente a inverter-se com cada vez mais "Gentrification".
Também acho, como expus no post anterior que os espaços verdes nesta zona são necessários, é urgente reclamar a cerca do Convento da Graça para uso publico, não é facil dada a pendente, mas é urgente.
Quanto ao terreno da Epul é muito valioso para não ser vendido, julgo que deverá ser vendido ao melhor preço e só tenho pena que não se aproveite a ocasião para redesenhar o edificio do Via Graça, demolindo o último piso do usando um apartamento neste terreno como contrapartida.
Obviamente o desenho do novo edifício deve ter em conta, como aliás parece ter na imagem aqui publicada do Arquitecto Carrilho da Graça, os cones de vistas do miradouro, que estão protegidos pelo PDM e a vista de rua (que hoje não existe por causa do muro) com recurso a um piso vazado também parece apetecível...
Estes são genericamente os vectores da minha opinião pessoal, digo-lhe também a título de declaração de interesses que não moro na rua, não trabalho na Epul nem na JLGR arquitectos...
cumps.
f.
Ora ai está. Apenas segui o seu raciocinio que diz "é evidente que se passa em quase todas as ruas centrais de Lisboa ". Há zonas no centro de Lisboa onde é fácil estacionar, caro anónimo. A freguesia de São Sebastião da Pedreira tem cerca 6000 hab./km2 e a freguesia da Graça tem cerca de 17000 hab./km2. Acha que necessita de mais ? Respeito o conceito de qualidade de vida de cada um, mas...
No entanto, e como pressuponho que não está a dizer para outros avançarem com o projecto, pois seria indelicado tecer considerações sobre dinheiro alheio, concluo que é seu interesse concretizar o empreendimento. Se é com fundos próprios gabo-lhe a coragem. Se é recorrendo a financiamento bancário, teria todo o gosto em ver o bussiness plan que apresentou à instituição financiadora, pois será certamente brilhante. Vejamos, algo do género, "empreendimento imobiliário bem situado com garantia de sucesso comercial e financeiro, numa zona em que há escassez de oferta...".
Caro Carlos Leite de Sousa:
Já que falamos de densidade populacional posso falar por exemplo de Paris (cidade) que é considerada relativamente saudável em termos urbanos com um bom equilibrio entre espaços verdes e densidade, tem 20.909hab/km², contra os menos de 6500hab/Km² de Lisboa, com todas as consequências que isso tem para a rentabilidade dos transporte públicos.
Já que é tão contrário ao automóvel por certo saberá que só com altas densidades habitacionais consegue transportes publicos rentáveis e que não dependam de subsidios estatais.
Não tenciono, até por incapacidade financeira, promover o dito empreendimento, mas gostaria de ver uma declaração de interesses sua, até porque me parece que está é preocupado com a depreciação do seu investimento, por a sua casita ir deixar de ter vista... ou não será esse o caso?... e mascara a questão com um pretenso interesse pela questão urbana!
Se está tão preocupado é certamente porque percebe que o invetismneto é bastante apetecível e com rentabilidade garantida... com ou sem slogan publicitário da sua autoria.
cumps.
f.
Caro anónimo
Demonstra pouca atenção na leitura e pouca compreensão da mesma. De qualquer forma esclareço que não tenho nenhum imóvel naquela rua.
O objectivo do post é tão simplesmente discutir o tema "construir/não construir", sem o afectar de forma tão enérgica à rua em causa.
Quanto a Paris, compara o incomparável. Por acaso tem em Lisboa algo parecido com a Vélib ?
Caro Carlos leite de Sousa:
Talvez se Lisboa tivesse os 20.909hab/km² de Paris em vez dos cerca de 6500hab/Km²que tem, pudesse ter um sitema de partilha de bicicletas... e talvez tivesse um sistema de transporte publicos maior e mais eficiente, com mais procura e menos dependente do orçamento de Estado... percebe agora o argumento da densidade?
Em resposta ao objectivo declarado do "o tema construir/não construir" a resposta será sempre casuística. No terreno em particular a eventual mais-valia urabanistica (que no caso nem julgo que seja uma mais-valia tratando-se de uma interrupção simples numa malha consolidada) do hipotético Jardim não justifica o investimento (na menos-valia para Epul do terreno). Quanto à cerca do Convento da Graça, não construír nunca... essa sim poderá tornar-se o mini-pulmão do bairro e na sua àrea de lazer por excelência.
Na linha da discussão que porpõe vem-me á memória a polemica das "Torres do Siza" em Alcântara onde se propunha libertar o terreno para uma zona verde de usufruto publico concentrando a construção em 3 torres, na filosofia modernista de Corbusier.
A resposta dos "iluminados" (incluindo aqui neste blog) foi a de preferir para o mesmo volume de construção uma malha densa de edificos de seis pisos como a Zona Sul da Expo, com umas pracetas pífias para passear os canídeos.
cumps.
f.
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