16/03/2012
Graças ao metro estamos mais perto uns dos outros
Por Luís Villalobos in Público
A viagem começa mal desde o início. O comboio da Linha de Cascais, pelo qual espero na Parede para chegar ao Cais do Sodré, já vem cheio pelo menos desde S. Pedro. Para evitar ir a viagem toda de pé, há mesmo quem opte por mudar em Oeiras, mesmo se isso significa parar em todas as estações. Chegado a Lisboa, normalmente recordava-me que o vício sempre tem algumas virtudes. Uma delas era ajudar a evitar o fluxo de pessoas que desagua no metro do Cais do Sodré, um caudal humano engrossado pelos passageiros dos cacilheiros que chegam da margem sul. A táctica, utilizada por mim e por vários passageiros, consistia em fumar um cigarro na plataforma exterior e esperar que a migração urbana desanuviasse.
Agora, no entanto, já nem essa estratégia resulta. Paga-se mais pelo passe, mas há menos carruagens (três) e as plataformas subterrâneas permanecem inundadas de pessoas que são obrigadas a esperar pela chegada de novo transporte. Quanto este chega - sob o signo do coelho gigante desenhado nos azulejos e que lembra que estamos sempre atrasados - rapidamente se enche de passageiros, numa dança das cadeiras, avidamente disputadas.
Entre o Cais do Sodré e a Baixa-Chiado a hora de ponta demonstra que a crise nos obriga a conviver mais de perto uns com os outros. Na verdade, a aproximação é apenas corporal, já que ninguém fala com quem não conhece, nem se ouvem reclamações pelo desconforto de um serviço sobrelotado que torna cansativo um dia de trabalho que ainda mal começou. De resto, som só o da chiadeira aguda dos carris que nos agride os tímpanos, o som abafado proveniente de uns headphones ou uma conversa público-privada ao telemóvel.
A mudança na Baixa para a linha azul nada ajuda. Há o dobro das carruagens (seis), mas também o dobro das pessoas. A pressão demográfica só desanuvia no Marquês, uma estação antes do meu destino. Feitas as contas, consigo, desde a Parede, ir sentado do Marquês até ao Parque, o que equivale a cerca de um minuto. É nesse período que fico a pensar que mais vale utilizar um automóvel.
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5 comentários:
vai mais cedo :)
E para ir da Parede ao Marquês de Pombal este homem precisa de ir à Baixa primeiro? Isto é completamente arcaico!
Ainda dizem que quem anda de transportes são os desgraçados. Já viram, até faz turismo o raio do homem e tudo, hein? E tudo isto pago pelo contribuinte.
Ó filho sai em Alcantara e apanhas o 712 ou o 742 ou 720 ou 738 ou o 727.
Ou então sai do comboio em Oeiras e apanha a 115 da Lisboa Transportes (incluida no L123) e em meia hora mete-se na Pç de Espanha.
Tem piada mas a descrição da viagem de Metro é muita parecida com as que eu fazia lá para 1972-73. Headphones e telemóvel não me recordo, mas sim funcionários no Marquês, de farda bem cinzenta, a empurrar a sardinha para a lata....é que as portas não fechavam mesmo.
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