16/03/2012

Utentes da linha verde queixam-se de viajar como sardinhas em lata




Por Inês Boaventura in Público

A redução do número de carruagens e o aumento do intervalo entre os veículos introduzidos em Fevereiro estão a gerar uma onda de contestação. O Metropolitano de Lisboa diz que está a monitorizar a procura e admite fazer alterações


A redução da oferta na linha verde do Metropolitano de Lisboa, que entrou em vigor a 22 de Fevereiro, já motivou a criação de um abaixo-assinado na Internet, o envio de quatro queixas ao Provedor de Justiça e a publicação de dezenas de reclamações na página da empresa no Facebook. Os utentes queixam-se de longas esperas nas estações e de viajarem como sardinhas em lata, ou de nem sequer conseguirem entrar nas carruagens de tão cheias que estas andam.
Na origem deste descontentamento estão duas alterações introduzidas há quase um mês: ao mesmo tempo que diminuiu de quatro para três o número de carruagens que circulam entre o Cais do Sodré e Telheiras, a transportadora aumentou o intervalo médio entre os veículos. A primeira modificação foi comunicada aos utentes no interior dos comboios e na página do metro na Internet, tendo sido justificada com "motivos de adequação da oferta à procura", mas a segunda não.
Em respostas escritas através da sua agência de comunicação, o Metropolitano de Lisboa informou que neste momento o intervalo entre comboios na linha verde varia entre os três minutos e 50 segundos (das 7h30 às 9h30) e os 11 minutos e 50 segundos (das 22h30 à meia-noite e das 0h30 à 1h). Dessas respostas não constavam informações que permitissem uma comparação com a realidade anterior a Fevereiro.
Ainda assim, olhando para documentos do grupo de trabalho que no fim de 2011 estudou a reformulação da rede de transportes públicos na Área Metropolitana de Lisboa verifica-se que o intervalo médio entre os comboios aumentou em todos os períodos horários, aos dias úteis. Entre as 7h30 e as 9h30 era de 3,83 minutos há um ano atrás e agora é de quatro; entre as 9h30 e as 17h era de 4,65 e agora é de 5,81; entre as 17h e as 20h era de 3,83 e agora é de 4,2; entre as 20h e as 22h30 era de 5,75 e agora é de 6,84, e entre as 22h30 e a 1h era de 9,25 e agora é de 11,48 minutos.
Em simultâneo o metro entre o Cais do Sodré e Telheiras passou a circular, em permanência, com apenas três carruagens. Esta modificação também foi introduzida nas restantes linhas do metro, mas aí apenas aos fins-de-semana e feriados. Durante a noite essa já era a realidade existente na totalidade da rede.
Na linha verde, onde existem várias correspondências com os comboios da CP e com os barcos que fazem a ligação a Cacilhas, ao Seixal e ao Montijo, viajam diariamente mais de 129 mil pessoas. Já na linha vermelha, onde o metro decidiu manter a circulação com seis carruagens durante o dia, o número de passageiros é menos de metade. O PÚBLICO confrontou o metropolitano com esta disparidade mas sem sucesso.
Sem resposta ficaram igualmente as perguntas sobre o investimento feito nos últimos anos no alargamento dos cais de embarque de pelo menos duas estações da linha verde - Roma e Alvalade - para permitir que os comboios que antes tinham quatro carruagens passassem a ter seis. Sobre isto o metro limitou-se a informar que estão em curso obras nesse mesmo sentido na estação Areeiro, que deverão custar 16 milhões de euros e ficar concluídas em Agosto de 2013. E defendeu que estes trabalhos continuam a justificar-se "numa lógica de futuro aumento da oferta e de resolução de problemas de acessibilidade à estação".
A empresa acrescentou que a diminuição do número de carruagens concretizada em Fevereiro "teve como motivo um ajuste da oferta à procura, numa lógica de otimização dos seus recursos, independentemente de questões relacionadas com a hora do dia e sempre respeitando princípios de qualidade da oferta internacionalmente aceites".
Ainda assim, a transportadora fez saber através da agência de comunicação que, "tendo constatado a existência de algumas reclamações dos clientes que utilizam essa linha diariamente, iniciou um programa de monitorização da procura, tendo em vista identificar eventuais alterações de comportamento desta, os quais justifiquem um aumento da oferta actual". Se os resultados obtidos o justificarem, o metro assegura que promoverá "a necessária alteração da oferta".

Petição na Internet

Enquanto isso não acontece, avolumam-se no Facebook da empresa as reclamações sobre a falta de informação transmitida aos seus clientes e sobre a "degradação do serviço" na linha verde. "Reponham as quatro carruagens. Eu não sou atum nem sardinha para andar enlatado", diz Paulo Pinhão. Já Bruno Gomes lamenta aquilo que diz ser "uma verdadeira enchente de pessoas a toda a hora, obrigando as pessoas a andarem umas em cima das outras". "Vergonha" é uma palavra várias vezes utilizada a propósito da redução da oferta sentida desde 22 de Fevereiro.
Pedro Alves garante que se tornou "impossível pura e simplesmente" entrar com a sua filha bebé no metro de manhã, acrescentando que tem "muita dificuldade" em fazê-lo com o filho de dez anos, que "fica com a cabeça apertada no meio de gente que não conhece". A estas e outras queixas no Facebook, o metro não deu resposta.
Até à tarde de ontem o Provedor de Justiça tinha recebido, segundo a sua assessora de imprensa, quatro reclamações sobre as modificações no troço do metro entre o Cais do Sodré e Telheiras. Na Internet foi criada uma petição, que à hora de fecho desta edição somava 77 assinaturas, criticando o "retrocesso na qualidade do serviço prestado, (...) tornando desproporcional a relação entre o preço praticado e a qualidade do serviço prestado".

1 comentário:

Xico205 disse...

Pelo menos agora não há desperdicio de receitas.

Quer dizer, continua a haver luz a mais nas instalações do metro e salários bastante elevados para as funções.