Mas a cidade nunca esqueceu aquele edifício que era uma jóia arquitetónica e orgulho de uma nação e começaram já as obras para a sua reedificação. Ainda que os interiores não façam parte, para já, do projeto - por questões economico-financeiras - a verdade é que quem for a Berlim, já a partir de 2019 poderá ter uma ideia daquilo que terá sido um dos mais ricos e importantes palácios reais do mundo.
Para ver as imagens (ou para perceber quem falar alemão) aqui tem uma pequena reportagem (aqui)
Antes da sua destruição numa fotografia da época |
Projeção do resultado final |
Lembram-se o que queriam fazer para rematar o Palácio Real da Ajuda? Betão e vidro! Os nossos políticos e arquitetos não dão para mais.
Somos pequenos porque não queremos ser maiores.
17 comentários:
É preciso que os Homens se antecipem ou previnam os "holocaustos".
É sempre o Povo que no final paga a factura ou as reconstruções, ditadas por Ditadores ou políticos a quem falta sentimentos e sensibilidade, para além dos interesses mais mesquinhos e próximos.
Também estamos a falar e a incluir os autarcas portugueses.
Nas próximas eleições devemos eleger aqueles que demonstrem que em austeridade há prioridades mais importantes do que utópicas e delirantes promessas.
Concretizamos. Sendo uma das medidas primeiras - Transportes - em toda as áreas metropolitanas e ligando centenas de municipios nos outros territórios.
Depois, uma área de negócio de imenso potencial - Reabilitação- de edifícios, desde prédios aos classificados, fomentando um rico Património e pô-lo dinâmico para que o Turismo o aproveite.
Não temos técnicos e cientistas imbuídos de um espírito não despesista, mas de competência e visão das mais úteis prioridades?
Se não, procurá-los com essas características no estrangeiro.
Esta notícia é muito bonita. Mas Berlim não é exemplo!
Ainda a semana passada demoliram os 1,4 km que restavam do Muro de Berlim porque vão construir nesse local um condomínio de luxo...
Caro anónimo das 11:52,
Berlim é exemplo para muita coisa, inclusivé preservação de património. Caso tenha dúvida veja o que tem sido feito para recuperar a catedral, ao lado do futuro Palácio Imperial, o palácio de Charlottenburg e o conjunto de palácios de Potsdam, qualquer um deles maior que o Palácio da Ajuda e deixados a apodrecer pela RDA.
Hoje são uma das maiores fontes de rendimento do Estado de Berlim com milhares de visitantes diários. E é aqui que eu quero chegar com o meu artigo: a total falta de visão sobre o que é o património e quão será essencial na preservação de uma identidade e na assunção de rendimentos essenciais e substanciais. Mas pelo que tem sido a atitude de políticos e cidadãos em geral em relação ao que é preservação e ao que é inovação - muito derivado da incultura geral - estamos longe dos bons padrões e práticas... e continuamos a afastar-nos
PS - veja-se o estado da maioria dos monumentos nacionais e municipais, como o Palácio de Queluz.
E não é o único exemplo: Veja-se o recém-aberto Palais Liechtenstein de Viena: http://tmagazine.blogs.nytimes.com/2013/04/01/the-royal-treatment/
Mas isto é puro fachadismo (os interiores serão modernos), e pior, é reescrever a história, uma vez que o Palácio da República foi demolido para dar lugar a isto, que a meu ver nem é carne, nem é peixe.
Isto não é o exemplo a seguir.
Caro Miguel,
aqui está um bom exemplo de português de que fiz alusão no meu artigo.
A história sempre se reescreveu, em qualquer ciência social e a esse fenómeno devemos, hoje, património imprescindível como o que surgiu da Renascença, e todos os "neos" que surgiram, maioritariamente, no séc. XIX.
Estamos isolados no nosso espaço natural que é a Europa, na forma como entendemos património, como o protegemos e valorizamos, como o vivemos. Estamos, sem dúvida, muito longe de termos uma população que coloque os valores culturais e patrimoniais como prioridades. E vamos empobrecendo.
Não nos comparamos com países como Espanha, Itália, França, Inglaterra, Polónia (a melhor escola de restauro do mundo) ou mesmo a Rússia. Somente aqui é que se pode ver periscópios numa praça com a importância da Praça do Comércio. Somente aqui é que depois de uma campanha de restauro temos de usar a imaginação porque não se percebe que houve intervenção. A Charola do Convento de Cristo, em Tomar, fosse noutro país, estaria hoje disponível para gozo de todos no máximo da sua glória... mas não está, apesar do restauro que sofreu.
Não fosse esse reescrever da história hoje não havia monumentos tão emblemáticos como os palácios de Catarina e o de Pedro, em São Petersburgo (que já vi ao vivo), a famosa Sala de Âmbar, os Palácios de Charlottenburg e Potsdam em Berlim, a Igreja de Maria em Dresden, O Chalet da Condessa em Sintra, a Catedral da Almudena em Madrid, igrejas importantíssimas na Itália, etc, todos definitvamente desaparecidas ou inacabadas a seguir a mentalidade tacanha portuguesa. E fala-se na reconstrução do Palácio Real de Potsdam (o da cidade), das Tulherias e de Saint Cloud em Paris, entre outros.
Não, Portugal não está a reescrever a história, está a perdê-la.
Daqui por 20 anos ainda irão lamentar a demolição do palácio da república. Isto será um museu moderno com uma carapaça barroca, tão genuino como o canal veneziano construído em Macau para os turistas. Aliás essa carapaça nem ficará completa, a fachada das traseiras será moderna, em betão e vidro...
Caro A.M.C., defende portanto que há gerações que têm mais direito a marcar a paisagem do que outras? Essa linha de pensamento justificou precisamente a demolição do edifício original. Por que raio merece Berlim a sua reconstrução mais do que a permanência do anterior Palácio da República (um edifício também relevante)? A reconstrução do Palácio Imperial é um projeto monstruoso (que, já agora, não é nada consensual em Berlim), de utilidade questionável, mas sobretudo de uma certa "falsificação" da paisagem. Como escreveu o interveniente anterior, é puro fachadismo, e do caro.
E porque falta a legitimidade às intervenções que refere em Lisboa? Têm falhas, mas a) não são na sua natureza definitivas e b) são muitíssimo superiores à qualidade dos espaços que lhes antecederam.
Eu concordo com tudo o que disse, apenas discordo do exemplo escolhido. Lisboa está cheia de maus exemplos.
Mas o recriar algo desaparecido neste caso é por um lado a Disneyficação de Berlim, ao mesmo tempo que se eliminou um edifício importante do século XX de Berlim. Concordo que não estava nas melhores condições, mas mesmo assim.
Se não entendi correctamente o seu post, peço desculpa.
O que o Miguelinho quer sei eu...
Deve ser mais um Arquitonto a estudar em Londres e que quando voltar quer comer do panelão que é nada mais nada menos que a cidade de Lisboa.
Faça o seguinte: Atire-se ao Tamisa e assim evita contribuir para uma cidade que apresenta um aspecto cada vez mais Bimbo e semelhante as periferias que a envolvem.
O restauro será pago com os juros da nossa dívida?
Enquanto uns vão perdendo tudo outros engordam ainda mais
Isto é de facto uma guerra, qualquer dia até vão os estuques
Então acabem o palácio da ajuda, do qual só foi construído um terço. Há dinheiro para queimar. E pelo caminho acabem com a calçada da ajuda, que ninguém lá passa.
Obrigado a todos os intervenientes.
Disneyzação acontece em Lisboa há muitos anos desde que se inventou a famosa intervenção "demolição de interiores e manutenção de fachadas", e desde que os nossos doutos arquitetos e políticos, designers e engenheiros se atreveram a intervir em espaços consolidados demonstrando um total autismo (ou ignorância, não sei). Disneyzação é uma Praça do Comércio com colunas de iluminação como as que lá estão, com esplanadas tiradas de um catálogo de espaço de restauração de centro comercial.
Este trabalho a correr em Berlim, se bem que não consensual, vai trazer uma inegável energia em vários níveis com efeitos maiores que o próprio projeto.
Caro Miguel Santos, quando se intervém em zonas consolidadas da forma como se faz em Lisboa não é impôr a marca da nossa geração ao arrepio do que outros antes fizeram, ao contrário do que nos quer fazer crer?
O argumento de "apesar de tudo está melhor do que antes, mesmo que agora não esteja bom" não colhe e acho-o bastante perigoso e justificador da nossa sina - a ignorância atrevida. Há que fazer bem, logo de início.
Mas com o povo que temos...
Caro A. M. C.,
O exemplo que deu de Berlim é um caso de "disneyficação", sim, no sentido em que é um capricho caro para dar à cidade uma qualidade de postal ilustrado. Verá processos muito semelhantes em cidades chinesas ou em Las Vegas/Macau (sim, eu sei que o palácio original existiu em Berlim, mas o processo de reprodução é análogo). E é uma visão questionável decidir que há uma certa realidade (romântica) que se deve sobrepor ao já construído (e passando por cima do também interessante património que lá estava antes). É uma forma de afirmação política (sobretudo isso) que só engole quem quer. Parece-me um fenómeno perverso, daí o comentário que fiz.
A ideia de "direito de geração" tem a ver com uma ideia que levada ao extremo é perigosa, que é a defesa da cristalização de um certo ambiente urbano para a eternidade. Não me verá contudo defender a destruição de património construído a substituir por um ideal moderno (como aconteceu nas trágicas campanhas higiénicas de urbanização do Estado Novo em Lisboa). O que ponho em causa é a defesa incondicional do "status quo" e a impossibilidade questionar o que pode ser intervencionado. Um exemplo: os atuais dispositivos de iluminação da Praça do Comércio parecem-me totalmente desadequados, tal como me pareciam desadequadas (embora menos) as anteriores colunas/lanternas, também elas anacrónicas em relação ao estilo da Praça, e dissonantes na escala. Contudo, o espaço melhorou muito, apesar de haver aspetos que não foram bem resolvidos (como o referido). Mas pode ser facilmente melhorado no futuro. O fazer bem logo de início pressupõe um conceito consensual impossível. Concordo que há muitos aspetos a corrigir, mas este trabalho é permanente.
Há intervenções (noutras escalas) em Lisboa que apesar de tudo respeitam mais o património existente, sim, e que devem ser modelos. Mas - perdoe-me o pragmatismo - em alguns casos mais vale uma intervenção incompleta do que intervenção nenhuma e consequente ruína.
A expressão "com o povo que temos..." soa a argumento de autoridade e é dispensável nesta discussão.
Caro Miguel,
apesar desta discussão já estar relegada para a segunda página sinto-me, ainda, na obrigação de responder à sua mensagem, principalmente por já ter ouvido e lido os mesmos argumentos - posso já adivinhar a sua profissão.
Eu teria que lhe dar razão se simplesmente a realidade, patente em cada esquina desta cidade e deste país, não o desmentissem e comprovassem a falência total dessa maneira de pensar uma cidade com mais de 900 anos de história.
Não foi só o Estado Novo que empreendeu uma companha de destruição de património; aliás atrevo-me a dizer quem em 39 anos de democracia (quase tantos como de regime autoritário) o saldo é mais negativo agora.
Não é uma cidade assim como as nossas, dominadas pelas classes profissionais como a dos arquitetos e promotores imobiliários e respaldada pelos políticos que alcançam uma distinção "Património da Humanidade" como a que atingiu Amesterdão. Nem é uma cidade que exprime os seus argumentos que poderá ser comparada a uma Roma, Paris ou Viena, ou até cidades muito menores mas impecavelmente protegidas e conservadas como muitas agora do Báltico. Vá a Cracóvia e envergonhe-se. Vá a São Petersburgo, visite o palácio de Pedro ou de Catarina (que foram quase que totalmente perdidos) e envergonhe-se. Na sua ordem de ideias não haveria uma Sala de Âmbar porque a original foi perdida.
Os exemplos internacionais, também esses, desautorizam-no. Veja a perda do estatuto de Património da Humanidade de Dresden porque alguém como você, com os mesmos argumentos, decidiu que uma ponte moderna era o mais indicado para a cidade histórica.
A sua mensagem diz-me muito mais do que pode pensar, e mostra-me o desrespeito que tem por património e história, encapotado porventura por uma perceção "moderna", a tal que nos isola das civilizações com história que pretendem deixar às gerações vindouras o que receberam. A sua/nossa é uma geração egocêntrica, autista, pretensiosa e ignorantemente atrevida.
A.M.C.
E nós a pagar, com os juros usurários à Troika.
Caro A.M.C,
É típico verificar a portuguesa mania de politizar apenas aquilo que interessa a um certo sector. A peregrina ideia de manter o Palast der Republik em Berlim, não passa de casmurrice "salva-camaradas". Claro que devia ter sido demolido, como oportunamente foi. Tinha um escassíssimo valor arquitectónico - digno de um centro comercial de subúrbio -, era um miserável mamarracho e pior ainda, o símbolo de um regime de imposição e ocupação estrangeira. Demoliu-se o livre arbítrio e arrogante prepotência de uns tantos e agora é restaurada uma certa ideia de ambiente, de ordenamento urbano. Creio que os mesmos que agora defendem o grotesco caixotão de Honnecker,, são precisamente aqueles que decetto teriam exultado com a destruição da Chancelaria do Reich, concebida por A. Speer. A proporcionalidade é mesmo esta, há que dizer as coisas sem subterfúgios.
Estando então clarificada a situação quanto ao aspecto político, há então que passar ao valor que o palácio imperial, o Stadshloss tinha para aquela zona da capital alemã. Fazia parte de um todo e isso é facilmente perceptível para quem conheça Berlim. A reconstrução integral talvez fosse em grande medida possível, pois existem planos antigos, milhares de detalhadas fotografias, móveis, estátuas, objectos decorativos, pinturas, etc, património salvo e guardado durante a guerra. O que foi válido para Peterhof e para o conjunto de Tsarskoe Selo - a propósito, reconstruídos por "camaradas" -, para o Palácio Real de Varsóvia - primorosamente reconstruído, também é válido para o Stadtschloss. Nesta reconstrução, há que atender à questão financeira que a mesma acarreta, é verdade. No entanto, ao conntrário daquilo que sucedeu em Braunschweig, o Stadtschloss não será um centro comercial. A propósito do argumento "disneyland", há que atender à falácia do insulto fácil pastiche, pois desde a Renascença andam os europeus numa grande azáfama de cópias e reinterpretações da Antiguidade Clássica. O que é o Teatro D. Maria II senão um pastiche? E S. Bento, Sta. Engrácia, etc? A Europa revê-se nessa sua própria fundação e este é um facto indesmentível e assim ciclicamente sucederá.
Quanto a certas intervenções na cidade de Lisboa, o que se passou no Terreiro do Paço é bem sintomático de um certo não-saber fazer. Candeeiros horrendos - a pergunta a colocar será ..."quem os vendeu"? - que substituíram outros que já lá estavam desde os tempos dos nossos trisavós. Um arranjo miserável no pavimento transformado numa promoção da marca Burberys. A zona ribeirinha ao Tejo, onde o muro - namoradeiras - que lá estava desapareceu, sobrando pedras partidas aos pedações. A estátua "restaurada", onde faltam dedos no grupo escultórico em pedra, uma corneta, etc. A própria estátua bastante enegrecida, dando razão ao velho apodo inglês que baptizara o local com o nome de Black Horse Square e para finalizar, a resistência à evidência que salta à vista de todos e que o próprio pintor LM van Loo adivinhou quando pintou o retrato de Pombal: a estátua devia ser dourada, bem ao estilo da sua época. Há uns anos, um vereador disse-me que isso seria "piroso, pretensioso, burguês". O pobre imbecil jamais terá estado em Viena, S. Petersburgo, Paris, Londres, Praga, Berlim, etc. Compreende-se.... mas a informação está toda aqui na net, bastará consultar o google images. Mas Portugal é assim mesmo, desvairadamente agarrado aos neo-realismos de misérias de outras eras. Quanto à Ajuda, a solução é simples: construam a fachada poente, respeitando as linhas daquela que existe a nascente. Nada de invenções ao estilo Costa & Salgado/Abecassis/Soares e demais convivas do orçamento.
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