In Público (5/7/2007)
Inês Boaventura
«O desemprego, que afecta 23 por cento dos mais de dez mil moradores realojados na Alta de Lisboa, é, juntamente com o abandono escolar e a falta de um sentimento de pertença à comunidade, um dos principais problemas desta zona da capital. No terreno há dois anos e meio, o Grupo Comunitário da Alta de Lisboa luta por mudar esta realidade e por promover a integração entre os moradores realojados e quem ali comprou casa.
O grupo comunitário reúne 19 entidades públicas e privadas, incluindo a Câmara de Lisboa, o agrupamento de escolas do Alto do Lumiar, a empresa municipal Gebalis, o centro de saúde e a Junta de Freguesia do Lumiar, duas associações de moradores, instituições particulares de solidariedade social, organizações não-governamentais, fundações e a Santa Casa da Misericórdia.
Segundo um diagnóstico realizado em 2004 pelo grupo comunitário, nessa altura residiam na Alta de Lisboa cerca de 10.300 moradores de habitação social, mais de metade dos quais tinha menos de 34 anos. Esta população, estima-se, divide o território com mais de dez mil pessoas que compraram casa nesta zona, localizada no limite norte de Lisboa.
O abandono escolar, a falta de sentimento de pertença à comunidade, o desemprego e a desestruturação familiar foram os principais problemas identificados na sequência de um inquérito realizado a 25 por cento dos moradores de habitação social. A intervenção do Grupo Comunitário da Alta de Lisboa, que foi criado há dois anos e meio e procura agora ganhar notoriedade e novos apoios, centra-se nas três primeiras vertentes.
Revés para o país
Para combater o desemprego, o grupo procura "encontrar soluções concretas para a empregabilidade a partir do compromisso entre instituições locais e sectoriais" e "potenciar a inserção socioprofissional de jovens e adultos". Está também a ser desenvolvido um diagnóstico da realidade escolar, com vista a fazer frente ao abandono, insucesso e absentismo escolar, tendo em conta que 46 por cento da população não concluiu a escolaridade obrigatória.
Como justificação para a falta de um sentimento de pertença à comunidade, Carmo Fernandes, da comissão coordenadora do grupo, sublinha que a Alta de Lisboa é "um território relativamente recente, com uma identidade nova, pouco apropriado por quem lá vive". Um projecto de recolha de memórias, através do qual se pretende que os moradores conheçam as raízes do local e as origens dos seus habitantes, é uma das actividades em desenvolvimento, também com o objectivo de promover a integração entre os moradores realojados no local e quem ali comprou casa.
O alto-comissário para a Imigração e Diálogo Inter-Cultural, Rui Marques, afirmou que "é um revés enorme para Portugal, e não só para Lisboa, se o desafio da Alta de Lisboa falhar", já que foi aqui que pela primeira vez se optou por concentrar num só local habitação social e fogos de venda livre. "Isto é o mais difícil, porque fazer separado é fácil. Condomínios fechados e bairros de realojamento toda a gente sabe fazer", considerou Rui Marques, que não quer que a zona se transforme "num gueto".
10.256 era o número de moradores realojados na Alta de Lisboa em 2004, segundo o diagnóstico do grupo comunitário;
23,5 por cento das famílias tinham cinco ou mais pessoas, valor que no conjunto da cidade é de seis por cento;
10 por cento dos moradores tinham nacionalidade estrangeira, predominantemente angolana e cabo-verdiana;
55 por cento da população estava em risco de pobreza e 10 por cento dependia de subsídios;
23 por cento dos moradores estavam desempregados, número que subia para 34 por cento na faixa etária dos 20 aos 24;
9,8 por cento da população era analfabeta e 46 por cento não tinha concluído escolaridade obrigatória;
60 por cento das crianças até seis anos não frequentavam creche ou jardim-de-infância;
56 por cento dos residentes consideram o bairro pouco seguro ou inseguro. »
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
2 comentários:
O projecto da Alta de Lisboa, é a coisa mais absurda em termos urbanos que alguma vez se fez!
Em termos sociais é vergonhoso!
Este tipo de cidade é inadmissível.
Vergonhoso é se o projecto não avançar...e rapidamente. Para todos, realojados, novos moradores e cidade de Lisboa. Receio que o «novo projecto» da zona ribririnha, que não terá realojamentos, mas só luxo e reservado para apenas alguns, vote ao esquecimento toda a demais Lisboa, parque mayer, feira popular, bairros típicos e Alta Lx incluídos.
Com as estatísticas apresentadas e a degradação das escolas existentes no Lumiar, difícil será integrar e empregar tantos jovens. E o que fazer à faixa dos 20-34, quantos quererão trabalhar e a quantos será dada essa hipótese, sem qualificações. Se se criasse na Alta uma escola profissional, projectos tecnológicos e culturais (que tal uma extensão da escola de artes circenses?) - teatro, fotografia, música - para além de se reabilitarem as EBs e ESs, se, se, se...Mas o que surgirá primeiro serão os centros comerciais, para agudizar ainda mais a sensação de frustração dos que não consomem.
Bom tem sido o investimento nos espaços verdes, de saúde e desportivos. Isso, sim, humaniza.
Não deixemos o projecto morrer, comprometamos os senhores dirigentes autárquicos (algum vive na Alta?). Olhem para Telheiras: até um terminal de Metro tem (para não ser contaminado com as periferias subsurbanas????
Contem com todo o meu apoio cívico.
Elsa Coelho
Enviar um comentário