07/09/2012
São Carlos. Milhões de euros perdidos em processos.
São Carlos. Milhões de euros perdidos em processos
Por Isabel Tavares, publicado em 7 Set 2012 in (jornal) i online
A empresa pública nega que a casa esteja a perder prestígio e diz que está à procura de mecenas, sobretudo empresas, para se financiar
O Teatro Nacional de São Carlos tem estado a perder na justiça os processos interpostos por ex-trabalhadores e só ao maestro húngaro Zoltán Peskó, ex-diretor musical da Orquestra Sinfónica Portuguesa da instituição, terá de pagar uma indemnização de mais de 2 milhões de euros. A administração da Opart, empresa pública que gere o teatro, disse ao i que vai recorrer.
O desconforto sentido pela equipa a nível interno já terá passado dos bastidores para o exterior e uma das principais consequências está a ser o cancelamento ou a não compra de bilhetes por parte dos espectadores habituais do São Carlos que adquirem bilhetes para a temporada.
O conselho de administração do Opart – Organismo de Produção Artística contesta que esteja a perder receitas de bilheteira ou prestígio, mas João Villa-Lobos admite que “antes os recursos abundavam e agora escasseiam. Temos de nos reinventar”.
Apesar da escassez de recursos, o Teatro Nacional de São Carlos teve de entregar ao Tribunal da Relação de Lisboa uma caução superior a 2 milhões de euros para recorrer da sentença do Tribunal do Trabalho que o condenou a pagar uma indemnização por ter despedido o maestro titular Zoltán Peskó.
Convidado em 2001 para director musical, Zoltán Peskó entraria em litígio com o conselho directivo do teatro por ter recebido metade do valor previsto por duas produções. O São Carlos acabou condenado a pagar mais de 450 mil euros e ainda juros de mora. O teatro foi também condenado a reintegrar Pésko enquanto maestro honorário.
Mas há mais processos em tribunal. Quatro membros do coro levaram o São Carlos à justiça por considerarem ter sido lesados por quebra de contrato por parte da entidade empregadora. Querem ser reintegrados na equipa e o tribunal veio agora dar-lhes razão. Também aqui “já foi interposto recurso pelo Teatro Nacional de São Carlos”, disse ao i João Villa-Lobos, que se escusou a tecer mais comentários sobre o assunto.
De acordo com as informações disponíveis no site do Teatro Nacional de São Carlos, existem actualmente 63 coralistas e 100 músicos, um director artístico, que acumula com as funções de maestro da orquestra, e um maestro titular do coro. No entanto, nem o São Carlos nem a Opart responderam ao i qual o número total de trabalhadores da instituição e que funções ocupam.
Reestruturação em curso João Villa--Lobos disse ao i que “o Teatro Nacional de São Carlos iniciou em Março de 2011 um processo de reestruturação interna, ainda em curso, tendo em vista a optimização dos recursos existentes”.
O departamento de comunicação, que teria 17 pessoas, tem agora duas. Mas esta é apenas uma das mudanças na gestão do São Carlos.
João Villa-Lobos diz que a prova que o teatro está vivo “foi a exposição que terminou a 4 de Setembro e que teve mais de 7 mil visitantes (a pagar) em Agosto, bem como o Festival ao Largo, com mais de 35 mil pessoas ou a temporada que acabou em Junho, com índices de ocupação superiores a 70%”.
No entanto, a administração da Opart não forneceu ao i os valores da receita de bilheteira - ou quaisquer outros. Os únicos números foram os dos espectáculos realizados e o do número de espectadores desde 2007, data em que foi criado o Opart, até 2012 (estimativas).
No total, deverão realizar-se este ano 93 espectáculos (30 dos quais líricos), contra 150 em 2009, o ano com mais apresentações e a partir do qual se tem vindo a verificar uma quebra.
O número de espectadores deverá atingir os 60 mil em 2012 , 80 mil se se incluírem convites e digressões. Mais do que em 2011, menos do que em 2009, ano recorde, com um total de 105 783.
“Não consideramos, nem aceitamos, a afirmação de que a instituição esteja degradada ou tenha perdido prestígio. Estamos num processo de abertura da casa à cidade, a novos parceiros e a novos públicos”, explica João Villa-Lobos.
Por outras palavras, o São Carlos está à procura de financiadores. “Estamos a ter média diária de duas a três reuniões” para arranjar dinheiro. Que pode vir em forma de patrocínio, donativo ou contratação de serviços, como o aluguer de espaços para a realização de eventos.
A administração da Opart não quis dizer de que vive actualmente o São Carlos e os seus trabalhadores, quais as despesas e as receitas. A Secretaria de Estado da Cultura também remeteu todas as respostas para a empresa pública, pelo que foi impossível saber qual o orçamento da instituição.
O que sabemos é que a dívida do Teatro Nacional de São Carlos a fornecedores se degradou no último ano, apesar das mudanças. A dívida com mais de 90 dias era de 3284 euros em Junho de 2011, mas em Junho de 2012 atingia já os 150 646 euros.
Villa-Lobos admite que existem necessidades de financiamento e explica que o teatro quer cativar a iniciativa privada exactamente “para fazer mais e melhor face às restrições orçamentais” que atravessa.
É que, como uma vez disse Oliveira Salazar a uma orquestra que lhe foi pedir dinheiro em tempo de crise: “Dinheiro não há para os que choram, quanto mais para os que cantam”.
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