01/02/2013

Trio Maravilha Volta a Salvar a Cidade (Parte II)



Na sequência de um artigo aqui publicado sobre o número 49 da Rua Rosa Araújo (ver),  honrou-nos o leitor PimPamPum com a sua participação e como o artigo já passou para a segunda página, não quis deixar de apresentar os argumentos desse leitor de uma forma mais destacada, que penso serem da maior importância porque são precisamente os argumentos que temos vindo aqui refutar e combater, quer mostrando as suas consequências, quer sugerindo como fazer melhor.
Apresento, então, os seus comentários a negrito não me coibindo de tecer os meus em seguida. Convido, obviamente o leitor PimPamPum a intervir, e aos demais leitores.

Escreve então:
«Para esclarecer do que falamos: Lavabo - depósito de água, com torneira, para lavagens parciais, em refeitórios, latrinas, etc. O que lhe tentei explicar foi que na altura não havia canalização, tal como hoje a conhecemos. Não havia torneiras.»
Comentava o caro leitor sobre o fato de não haver lavabos nas casas de época.
Só como apontamento deixo aqui este link onde descobrimos que torneiras existem desde os romanos. (aqui
Sabe bem, caro PimPamPum, que este edifício na Rua Rosa Araújo tinha lavabos e tinha casa de banho. Quando não tinham foram construídas nos terraços a tardoz ou usadas salas adaptadas a banheiros.

«Quando Le Corbusier afirma que "a casa é uma máquina de habitar" em 1923 é reconhecida a admiração geral entre os arquitectos pela engenharia e a integração indispensável dos sistemas na construção moderna. Desde a canalização à electrificação, da iluminação ao aquecimento, lâmpadas, radiadores, tomadas, etc. tornaram-se novos aparatos que se assumiram como protagonistas de uma estética moderna..»

Le Corbusier merece um destaque grande na história da arquitetura mas convido-o a viver numa das suas obras. Conforto estético não será a palavra-chave da vida numa das suas obras.
Por outro lado a praticabilidade de Le Corbousier levada ao extremo em espaços reduzidos é precisamente o oposto do que está aqui em causa na Rosa Araújo onde o público alvo não era o do Le Corbousier.

«Voltando aqui à questão do património. Como explico que em Paris, Salzburgo e em muitas, mas mesmo muitas outras cidades, se mantenham as estruturas de edifícios antigos? Acho que respondeu à sua própria pergunta. Essencialmente porque se obrigou à sua manutenção.»

Não é isso que estamos a discutir, a proteção legal contra os desvarios arquitetónicos dos senhores arquitetos/engenheiros/promotores em áreas arquitetonicamente consolidadas (ou que deveriam estar e não estão depois de lhes terem tocado)?

«Em Lisboa, há um certo desleixe nessa matéria o que faz com que alguns bons exemplos de arquitectura se tornem em ruínas e exijam uma intervenção de fundo como terá sido o caso deste projecto da Rua da Rosa.»

Em Lisboa há, mais do que desleixo, uma concertação entre políticos, construtores e arquitetos/engenheiros para a destruição de património e ereção de outro muito mais pobre visualmente, mas muito mais lucrativo para os intervenientes. A cidade e os cidadãos não diretamente envolvidos ficam a perder com essa situação.

«Não sustento teoria nenhuma sobre desconforto e não sei que mais. O que sei é que por vezes é possível com pequenas alterações de tipologia, correcções de luz natural, dotar apartamentos antigos com as qualidades do habitar contemporâneo, outras vezes não é possível.»

Se chama correção de luz natural e de tipologia ao que foi feito no número 49 da Rua Rosa Araújo e por toda a cidade estamos com problemas de comunicação ao nível básico de conceitos. O que chamará a uma recuperação criteriosa onde se respeitam os interiores de forma a que ainda sejam peças exemplares de um estilo, de um tempo, de uma filosofia, de um país? Chamar-lhe-ia, talvez, simplesmente uma pintura de paredes, a ser coerente com o que escreveu?

«Um edifício de habitação serve o seu propósito, providenciar habitação. Não é um museu, a menos que o tornem num.»

Os edifícios antes proporcionaram habitação por mais tempo que os novos o vão fazer, com certeza, pois a febre demolidora vai atacá-los quando chegar a sua vez, não tenho dúvida.

«Pastiche contemporâneo? Olhe que não. E até temos bons arquitectos. Que até são reconhecidos lá fora, imagine só. Às vezes até ganham prémios internacionais. Consta que o Siza mal consegue andar sossegado na Avenue Foch.»
Está a referir-se a problemas de consciência dele, suponho.

Mostre-me um prémio internacional ganho por esses senhores que refere, por intervenção exemplar em zona histórica em arquitetura de recuperação. Siza pôs o seu lápis no Chiado e anos depois ainda não se digeriram as suas inovações.

«Ah mas imitamo-nos uns aos outros? Ah sim? Álvaro Siza, Souto Moura, Aires Mateus, ARX, Graça Dias, Gonçalo Byrne, Paulo David, etc. Imitam-se? Ok. Olhe faça um artigo a explicar como, deve ficar bem interessante.»
 
Alguns exemplos de obras destes doutos arquitetos. Formem a vossa opinião ao ver estas obras:


São do mesmo arquiteto estes dois edifícios? Não são! O de cima é Aires Mateus, o de baixo é uma das obras mais impalatáveis de Gonçalo Byrne no Estoril. E deitaram abaixo o Estoril-Sol por ser demasiado impositivo na paisagem!
Este edifício, em São Paulo, Lisboa é a sede da Ordem dos Arquitetos. Tinha uns interiores fantásticos em arquitetura de ferro que foi simplesmente demolida! Autor: Arquiteto Manuel Graça Dias.
Insólito: Classificado pelo IGESPAR!

Antes
Depois

E sobre as referências internacionais, teve a amabilidade o leitor de trazer aqui alguns exemplos europeus de modernidade:

«Dresden, Military History Museum, Daniel Libeskind: oh god, então mas ele lança um edifício por cima do outro e até se sobrepõe à fachada do pré-existente. E será que cruzou as plantas? O velho com o novo? Oh god!»

Como sabe a classificação de Dresden como património da humanidade pela Unesco foi retirada por conta de um certo “cruzamento de plantas” com uma ponte que colidia com o sistema de vistas da área histórica. Coisas!
Mas apesar de tudo a Igreja de Maria, a Frauenkirche, de que não sobraram mais do que umas pedras, foi totalmente reconstruída e está como era antes da destruição.

«Berlim, Cúpula do Reichtag, (...)http://www.fosterandpartners.com/projects/0686/default.aspx»

Conheço Berlim como a palma da minha mão. Depois de dinamitada pelos aliados durante a II Guerra Mundial e depois de uma RDA demolidora pela ignorância e negligência, toda a cidade tem mais consolidação arquitetónica hoje do que Lisboa que nunca viu uma bomba.
Sabe que o Palácio Real de Potsdam vai ser reconstruído como era, depois de ser demolido totalmente? E o Palácio Real de Berlim também, se bem que os interiores não o serão agora mas as futuras gerações o farão se entenderem?

«França: Opera de Lyon, Jean Nouvel: Então? Outra vez o moderno com o histórico?
http://architecture.about.com/od/findphotos/ig/Jean-Nouvel/Lyon-Opera-Renovation.htm»


Veja as condições impostas aos arquitetos na transformação do Hospital Hotel-Dieu em Lyon (edifício belíssimo de suma importância) num hotel de 5 estrelas. Nem uma pedra será tocada, nem um desvario será tolerado!

«Áustria: Vienna, Josef Weichenberger Architects: Até num gaveto à vista de toda a gente…»
Tenho um amigo que tem um apartamento em Salzburgo. Ele nem pode sonhar alterar alguma coisa, quando mais fazê-lo!

«Portanto, nem saímos do velho continente, imagine se atravessarmos oceanos! »
Sim, veja-se o que o Rio de Janeiro fez com edifícios magníficos dos sécs. XVIII, XIX e princípios do XX?
Demolido em 1976, juntamente com muitos, muitos outros. A verdadeira "Paris" tropical é hoje um mar de betão.

« O que me entristece é que não há tomates em Portugal para nada disto.»
Chore antes pelo património. Chore para o que foi apresentado como solução para o remate do Palácio da Ajuda. E compare com o que se fez, por exemplo, na Rússia com os grandes palácios imperiais onde alguns foram quase reconstruídos de raiz depois de perda total na II Grande Guerra. E estes monumentos trazem milhões de turistas seguidos de milhões em dinheiro. Património traz prestígio e dinheiro; psedo-património – novo museu dos coches – não!

« Diz-me para protejer o património. Eu por mim protejo sim, mas dando-lhe vida e uso. Não defendo as cruzes de Santo André desabitadas há anos e anos na baixa pombalina, isso não. Quer goste quer não, as cidades não são imutáveis. E quer goste quer não são os arquitectos que lhe conferem novas identidades, sempre como resposta à contemporaneidade (que é algo mais complexo do que os focos de luz ou o vídeo-porteiro) e numa visão de futuro.»
Vá a Amesterdão e veja quão desabitados estão os edifícios da zona histórica e agora orgulhosamente património da humanidade. E veja quanta contemporaneidade criativa eles apresentam. Vê alguma relação? (aqui)

4 comentários:

J A disse...

Bem....gabo-lhes a pachorra! Caro amigo PPP.....aqui lhe deixo um exemplo do mercado de habitação no centro de Estocolmo (podia arranjar dezenas), talvez assim também se pudesse fazer em Lisboa ?


http://www.perjansson.se/hem-till-salu/narvavagen-8-5tr-stockholm/stora-bilder

J A disse...

Esqueci-me do preço:

12 000 000 de coroas por 122 metros quadrados

Anónimo disse...

O PimPamPum a tentar justificar o injustificável. Esses arquitectos que vão fazer a suas obras geniais e incompreendidas para as casas das tias deles!

Anónimo disse...

Não há paciência para esta conversa, os arquitectos portugueses mencionados, são um desastre, os seus egos,sobrepõem continuamente se ao bem comum. Obrigam os cidadãos a permanentemente se interrogarem-se sobre a sua propria existencia. Qualquer arquitecto que no exercicio das suas funções tem necessidade de se fazer "notar" demonstra uma total falta de humanidade e de respeito pelo proximo. Copiar Le Corbusier pai destes modernistas que se vendeu e colaborou com os nazis, prtendia introduzir de forma a habitar a sua maquina de habitar com o homem novo, nazi, fascista e totalitário é exemplo de mau gosto. Cada qual segue os seus heróis mas temos que concordar que são uma má escolha.
A cidade não lhes pertence é lhes dado tempo de antena porque infelizmente todos estes nossos políticos são de uma ignorância atrós. Entretanto fazem viagens rômanticas a Veneza.