Destruição de árvores no Alto da Ajuda motiva protestos. Estudantes querem manter Semana Académica naquele espaço.
"Proteja a floresta, Monsanto depende de si", lê-se numa placa da Câmara Municipal de Lisboa colocado à entrada do Parque Florestal, junto ao Pólo Universitário da Ajuda. Ao lado, uma outra placa destaca aquele local - uma clareira com cerca de dez hectares - como um ponto de interesse, onde se podem avistar coelhos, perdizes e fuinhas-dos-juncos.
Ontem de manhã, porém, o que se via naquele terreno, que foi o palco da Semana Académica de Lisboa (SAL), entre 13 e 18 de Maio, eram os despojos da festa. Papéis, garrafas, latas, maços de tabaco, seringas, preservativos, copos de plástico, cadernos, isqueiros, bocados de madeira, cápsulas de café, confetti e até um cão de loiça eram os adereços do cenário visível.
"Já não está como estava ontem [terça-feira], mas no dia seguinte [ao do fim da SAL] devia ter sido tudo limpo", diz Artur Lourenço, da Associação de Amigos e Utilizadores de Monsanto. "Este ano não vamos ver perdizes", garante. Este espaço costuma ser um local privilegiado para a nidificação desta espécie, mas a presença do evento estudantil naquela zona terá prejudicado os ninhos das aves.
Além do lixo acumulado, eram ainda visíveis na manhã de ontem diversas árvores com ramos danificados ou arrancados, bem como outras completamente secas. Ao longo de uma vala praticamente que atravessa o terreno de ponta a ponta, "havia árvores, mas todas elas praticamente desapareceram", explica Artur Lourenço, acusando a Associação Académica de Lisboa (AAL) - responsável pela organização da SAL - de ter faltado à palavra. "A AAL tinha dito que ia proteger essas árvores e protegeu mal."
Segundo o presidente da AAL, Marcelo Fonseca, "havia cinco árvores nesse local que estavam muito, muito secas e foram retiradas", pelo que considera que as denúncias de "atentado ambiental" que foram feitas pela Plataforma por Monsanto têm apenas como objectivo "denegrir a imagem da AAL".
A Plataforma, juntamente com o grupo municipal do Partido Ecologista Os Verdes, havia manifestado, no início de Maio, a sua oposição à escolha daquela zona do Parque Florestal de Monsanto para a realização da festa académica. Então, alegou que o evento poria em causa o trabalho ali desenvolvido por "milhares de voluntários".
Mais 4 anos de SAL na Ajuda
Segundo Miguel Teles, da Associação Plantar Uma Árvore, responsável por parte da reflorestação da zona, as máquinas da empresa contratada pela AAL para a desmatação "destruíram tudo sem a presença dos técnicos e da polícia florestal".
Para Artur Lourenço, "este evento não é sustentável: não se pode querer sustentabilidade com 20 mil pessoas ao mesmo tempo no mesmo sítio", justifica. Aponta a compactação do terreno, susceptível de causar inundações nos bairros situados mais abaixo, como uma das consequências da realização da SAL.
Marcelo Fonseca garante que a AAL "vai proceder ao revolvimento de terra", de modo a evitar essa compactação, e tratará de "replantar 25 árvores com dois metros de altura, condignas para aquele espaço".
Nos últimos anos, a SAL tem mudado várias vezes de local, mas Marcelo Fonseca acredita que este espaço no Alto da Ajuda "tem as condições necessárias" para acolher o evento e espera celebrar um protocolo com a câmara, para que a festa se mantenha ali por mais quatro anos. O PÚBLICO pediu esclarecimentos ao vereador dos Espaços Verdes, mas José Sá Fernandes não respondeu.
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2 comentários:
A cada dia que passa mais evidente se torna a falta que o Zé lá fazia.
Que empulamento mais deslocado. Fazem a festa num vulgar descampado. Qualquer dia não posso pisar o chão sem contratar um técnico para revolver a terra.
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