01/07/2010

Espaço do Hospital Dona Estefânia já tem destino mas o problema é a integração

In Público (1/7/2010)
Por Romana Borja-Santos

«Oposição e subscritores de petição insistem na importância de Lisboa continuar a contar com uma unidade pediátrica independente e recusam integração no novo Hospital Oriental

Comissão parlamentar de Saúde
Moção aprovada

O espaço que é hoje ocupado pelo Hospital Dona Estefânia, em Lisboa, já tem destino: a ministra da Saúde prometeu ontem que o edifício será reabilitado e que continuará a funcionar como "uma área para a criança" quando a unidade for integrada no futuro Hospital Oriental (Todos-os-Santos), que substituirá, na zona de Chelas, os estabelecimentos que fazem hoje parte do Centro Hospitalar de Lisboa Central (S. José, Santa Marta, Capuchos, Desterro e Estefânia). Contudo, tanto para a oposição parlamentar como para os subscritores da petição a favor de que o Dona Estefânia continue a ser uma unidade pediátrica autónoma, o problema não é o que se fará com o actual espaço mas sim insistir-se na ideia de juntar aquela unidade com as outras unidades gerais.

Segundo explicou Ana Jorge na Comissão Parlamentar de Saúde, estão a ser estudados vários projectos que passam por reabilitar o local para uma "área social da saúde". E exemplificou: "A ideia é aquele espaço manter-se dedicado às crianças, numa área que complemente as áreas da saúde. Ter um espaço com cuidados continuados pediátricos e acolhimento temporário no âmbito da Segurança Social." A titular da pasta da Saúde disse, ainda, que há a hipótese de manter o local ligado à investigação pediátrica. Parte da área poderá mesmo ser convertida numa creche e o exterior poderá vir a ser "um jardim terapêutico".

Hipóteses que o cirurgião pediátrico Gentil Martins, que fez parte da sua carreira neste hospital, considera que vêm "desviar as atenções" do essencial. "O problema não é o que se vai fazer com este espaço, que precisa de ser reabilitado. O grande disparate é que vai deixar de existir um hospital para a criança em Lisboa e a senhora ministra insiste em alegar razões técnicas", acrescentou o médico, que é também um dos principais membros da plataforma cívica que defende um novo hospital autónomo e que foi um dos cerca de 80 mil subscritores de uma petição que pretendia fazer o Governo recuar na decisão e foi levada à Assembleia da República em 2009.

A este propósito, Ana Jorge sublinhou que "o que está pensado é que haja no futuro hospital uma grande área dedicada à criança, que substitua aquilo que se faz no D. Estefânia, com uma melhor articulação com as outras áreas mais diferenciadas que existem nos hospitais gerais". A ministra reconheceu que esta solução não é perfeita, mas disse que é a possível para a dimensão do país e assumiu que estar perto de um hospital geral "seria a situação ideal".

Gentil Martins, que vê na junção mais problemas que benefícios, questiona: "Porque é que uma unidade como a D. Estefânia, que serve 600 mil crianças, é integrada, e em Coimbra, que são 200 mil, se faz um pediátrico autónomo?" "A Medicina não é só uma questão de técnica e as crianças não são adultos em escala reduzida. Os hospitais pediátricos têm características próprias e devem permanecer autónomos. Não somos a favor de que o D. Estefânia fique no mesmo sítio, queremos é que continue independente, tal como 96 por cento dos profissionais que lá trabalham", concluiu o médico.»

1 comentário:

Anónimo disse...

Como pai, só tenho boas referências e elogios para o Hospital Dona Estefânia;
Como pai, cidadão e lisboeta, lamento a perda/deslocalização de um equipamento com esta importância;
Para governantes que apenas conseguem ver a curto prazo (mas não é com estratégias de curto prazo que se projecta um país) provavelmente a medida de racionalização fará sentido.
Uma unidade exclusivamente pediátrica num país onde a taxa de crescimento natural é negativa (natalidade é inferior à mortalidade), onde o número de filhos por mulher é de 1,3 (quando a taxa de reposição geracional mínima deveria ser de 2,1) e com tendência para diminuir, esta é uma medida inevitável e quase uma fatalidade.
Mas as fatalidades não sugem do nada, nem aparecem por geração espontânea.
A falta de políticas ligadas à família (nada de cheques de EUR 200 para levantar aos 18 anos), os mais de trinta anos de desprestígio dos agregados familiares (classicos, monoparentais e outros), por parte dos sucessivos governos, das empresas e das instituições em geral muito contribuiram para o quadro actual.
Daqui para a frente o cenário vai ser este; vão vai fechar mais maternidades, escolas, creches e infantários. E quando isso acntece em Lisboa, imaginam no resto do país!!!
Luís Alexandre