ACP contra redução de vias e mudança de sentidos na Avenida da Liberdade.
O clube critica as intenções de reduzir o tráfego na avenidaA proposta de criação de duas rotundas concêntricas no Marquês de Pombal "não é má", diz o ACP
Por Marisa Soares in Público.
Organismo que representa os automobilistas propõe uma melhoria no sistema de semáforos e sugere a diferenciação do pavimento para reduzir a velocidade dos veículos nas vias laterais
O Automóvel Club de Portugal (ACP) propõe a manutenção do número de vias na Avenida da Liberdade, em Lisboa, e está contra a mudança de sentido em alguns troços das faixas laterais, proposta pela autarquia. Num parecer entregue à câmara no âmbito do processo de discussão pública da proposta, que dura até ao fim de Julho, o ACP considera que as alterações previstas vão provocar "mais congestionamentos de tráfego, mais atropelamentos" e o fim do comércio local.
"A intenção da Câmara de Lisboa é que as pessoas não vão para a Avenida da Liberdade de carro mas sim de transportes públicos. Isso é estúpido, porque as pessoas que vão às lojas de luxo da avenida vão de carro, não vão de metro nem de autocarro", critica o presidente do ACP, Carlos Barbosa. "Se as pessoas não têm parques de estacionamento alternativos, deixam de ir às lojas", resume.
No entanto, em declarações ao PÚBLICO, o vereador da Mobilidade, Fernando Nunes da Silva, adianta que para compensar o corte de lugares de estacionamento (de 420 para 150) está prevista a construção de um parque subterrâneo a meio da avenida, para 500 carros.
A Câmara de Lisboa pretende limitar as faixas centrais a três vias no sentido Baixa-Marquês de Pombal e a duas vias no sentido inverso, na quase totalidade da avenida (entre a Rua Alexandre Herculano e os Restauradores), e alterar o sentido do trânsito em quase todas as faixas laterais, onde serão reduzidos os lugares de estacionamento para dar mais espaço aos peões. Por seu lado, no Marquês de Pombal, o trânsito vai circular em duas rotundas concêntricas separadas por passeios e espaços verdes. O objectivo é reduzir o tráfego nesta zona, dar mais espaço aos peões e diminuir a poluição.
No parecer, o ACP defende que o controlo da poluição na avenida pode ser feito através de uma melhoria da eficácia do sistema de semáforos e da instalação de sensores de poluição. Isto porque, sustenta, "a procura de tráfego nas zonas centrais já é baixa e praticamente cativa", sobretudo após as restrições na Baixa e no Terreiro do Paço, que fizeram diminuir o tráfego "para cerca de metade".
Embora confirme que o tráfego tem diminuído nesta artéria (a câmara está a preparar um estudo para avaliar essa diminuição), o vereador da Mobilidade não cede: "É preciso reduzir o número de veículos que vão para essa zona da cidade sem ter necessidade de passar por lá. E as pessoas que querem ir para a Avenida da Liberdade têm o metro e os autocarros da Carris." Nunes da Silva admite que "num primeiro momento vai haver mais congestionamento e confusão", mas espera que os condutores se adaptem às alterações, como aconteceu na Baixa. "É preciso orientar a procura para outro tipo de via e para outros modos de transporte", reforça.
Nas faixas laterais, o clube propõe a criação de sistemas de acalmia de tráfego em vez da alteração de sentidos, a qual irá causar "incerteza, desconforto e insegurança" no atravessamento de peões, "podendo originar atropelamentos", defende. A diferenciação e elevação do pavimento é uma das soluções propostas.
Mas para o vereador da Mobilidade esta solução não resolve o problema. "Se as laterais continuarem ligadas [com o mesmo sentido], damos um sinal aos automobilistas de que as laterais são um complemento às faixas centrais", argumenta Nunes da Silva, acrescentando que isso iria "perturbar e congestionar" aquelas ruas. O objectivo é reservá-las ao tráfego local, e também por isso o autarca defende que "não há perigo de atropelamentos".
Ainda assim, o vereador está a estudar a possibilidade de viragem à esquerda na Rua Barata Salgueiro, contrariamente ao que está na proposta inicial.
O ACP concorda com algumas das alterações de sentido nas artérias envolventes à Avenida da Liberdade, mas propõe que se mantenha a possibilidade de virar à esquerda na Rua Alexandre Herculano (na direcção da rotunda). Nesse troço, propõe a eliminação da passadeira que atravessa as vias centrais. Em alternativa, sugere que os peões usem a passagem subterrânea do metro, que existe mesmo por baixo da zona da passadeira, ou a passadeira que existe mais abaixo na avenida.
Quanto à criação de duas rotundas concêntricas no Marquês de Pombal, a ideia "não é má", mas "sem três vias na rotunda exterior é impensável", diz Carlos Barbosa. A proposta do vereador da Mobilidade prevê apenas duas vias para a rotunda exterior e três para a interior. Entre as duas serão criados passeios e jardins. "Vai haver engarrafamentos loucos na Avenida Joaquim António de Aguiar e na Avenida da Liberdade", vaticina Carlos Barbosa.
O vereador da Mobilidade responde que "não é possível" fazer esse alargamento no troço entre a Rua Braancamp e a Avenida Duque de Loulé. "Teríamos de partir os acessos ao metro ou reduzir os passeios e isso está fora de questão", afirma, acrescentando que está a estudar alternativas que permitam reduzir o afluxo de veículos vindos do Rato ou das Amoreiras para a rotunda.
3 comentários:
Marabilha, Zé, está prevista a construção de um parque subterrâneo a meio da avenida, para 500 carros.
Eu apenas acho que isso é meio parque: para ser parque inteiro devia ser para 1000 carros, isto no mínimo.
Do ACP não se esperava outra coisa que não os disparates a que já nos habituaram.
Os comunicados de imprensa do ACP são de uma pobreza confrangedora, em particular em termos técnicos.
Pergunta-se se está disponível um qualquer estudo de tráfego encomendado pelo ACP a uma entidade independente que comprove aquilo que o Grupo 'acredita' (portanto que comprove que a clientela das lojas da Avenida da Liberdade acedem a estas por meio de automóvel ou que as alterações na semaforização iria beneficiar a circulação em geral).
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