25/02/2013

Imagem de Marca - Lisboa/Portugal

Acabado de assistir ao programa "Imagens de Marca - Travel Brands", produzido e emitido pela SIC Notícias tenho de confessar o amargo de boca que me deixou o programa mas que, na realidade, não é um sentimento novidade para mim. Acontece sempre que passo uns dias por fora e regresso a Lisboa, cheio de saudades, porventura. Quando chego, depressa sou relembrado do que têm sido as últimas décadas de urbanismo e conservação do património, ainda que nunca me esqueça, verdadeiramente.
O amargo de boca não veio, garanto-vos, por algo que estivesse a "trincar" enquanto via o programa. Vejam o programa (aqui) e perceberão o que quero dizer. Mas caso não, deixo aqui algumas considerações com ilustrações.
Quando estamos a preparar-nos para mais umas eleições autárquicas e vamos, garantidamente, ouvir falar sobre o urbanismo e as suas óbvias soluções, o trânsito e as suas óbvias soluções, a preservação do património e as suas óbvias soluções, o tratamentos dos resíduos sólidos e a limpeza e as suas óbvias soluções, assalta-me a pergunta: porque é que os efeitos dessas soluções não são óbviamente sentidas? Não poderá ser uma questão de partidos porque nos últimos trinta anos todos os partidos, da direita à esquerda, tiveram responsabilidades governativas na edilidade da capital.
Ficam, então, alguns exemplos daquilo que têm sido as opções dos responsáveis políticos, técnicos ou somente dos cidadãos que acham, numa grande maioria, totalmente aceitável o estado das coisas - ou nem sequer vêem o que aqui, neste espaço, tanto se denuncia.

 A Praça do Comércio é a mais importante praça de Portugal, pela sua grandeza, qualidade arquitetónica e significado histórico. Depois da mais recente intervenção que sofreu, tão criticada por pessoas com total autoridade na área do património e história da arte, esta iconográfica praça é hoje uma amálgama de história, preservação e de inovação pouco criteriosa e muito, muito autista.

As colunas de iluminação clássicas (e lindíssimas) foram retiradas e substituidas por estas "coisas", no batido e nefasto movimento de misturar elementos modernos em envolventes antigas. Já outros lá fora não fazem isto, aqui andamos cheios de orgulho a mostrar o "design made in portugal". Aqueles"toldos" nas arcadas são do pior gosto possível, num estilo centro comercial assumido.
 
As esplanadas desta praça estão longe de ser elegantes, parecem antes uma tentiva de parecerem elegantes mas sem deixar de agradar ao gosto dos "balcãs" que a generalidade da população portuguesa demonstra ter. O "gelado" é a cereja em cima... do gelado!
Mas se pensam que o "modelito" aqui aplicado foi um devaneio solitário de quem não tem capacidade demonstrada para intervir em locais históricos mas que, com o título de arquiteto pensa que está habilitado para o fazer - como diz a minha avó, a ignorância é muito atrevida - desengane-se:

No Largo do Intendente repete-se o autismo de quem desenhou esta praça sem planos de alguma vez lá pôr os pés. Muita pedra, bancos que não convidam ao uso - mas são design - e candeeiros periscópio. Porventura esta não será uma praça com um nome de um homem que viveu no século XVIII, e com edificado que vai desde a idade média ao século XIX? Procurem saber o que se tem feito das praças românticas por esse país. O panorâma é assustador.
O que podia ter-se feito? Respondam vocês depois de ver algumas imagens que guardei para vós.

Praça de São Marcos, em Veneza. As colunas são clássicas, o pavimento é clássico. Não é de estranhar porquê: a praça é clássica!

Mesas e cadeiras simples mas ordenadas.

Os toldos das arcadas imprimem e sublinham um toque de elegância, embora discretos.


Place Vendome, em Paris
 
A Praça Vendome durante o Natal.
 Continua...

8 comentários:

Rui disse...

Como o percebo caro AMC....

Anónimo disse...

Cem comentários.
A diferença.
Estamos numa fase difícil da Sociedade Portuguesa, porque avança-se para estas intervenções não ouvindo ainda quem existe e tem sensibilidade.
Na era do design tem que salvaguardar-se os empregos e os empresários. O modernismo, os prémios que vamos ganhando, os jovens com vontade.
Uma balbúrdia de conceitos encontram autarcas sem capacidade e sensibilidade suficiente, que misturam lugares, épocas e formas.
Por exemplo na F.M.H. há uma licenciatura em Ergonomia.
Quando se tem que colocar bancos, alguém se preocupa com a ergonomia?
Noutros séculos, por exemplo na reabilitação pombalina, contratava-se artistas italianos e de outros lugares para virem dar formas dos seus saberes?
Os nossos lugares, Praças, Jardins merecem gente com mais sensibilidade cultural e artística.
O problema não é de dinheiro.

Anónimo disse...

Numa cidade onde já foram demolidos monumentos como a Igreja do Socorro e o Teatro Apolo para alargamento viário, convento de Sant`Ana a casa onde Garret viveu, entre outros... isto são pormenores, não menos graves!

E a seguir...?
O Convento das Mónica..?
A Igreja e o Convento de Nossa Senhora da Conceição de Arroios..?
Teatro Odeon..?

Anónimo disse...

Excelente comparação e optimos exemplos. Basta copiar os bons exemplos e não tentar inventar a roda. É facil fazer bem e o bem.
Lisboa SIM demagogia NÃO

lmm disse...

O conceito de elegância e de sentido estético do autor do post é muito discutível. Este post pega num exemplo de esplanadas e arcadas bem conseguido (pormenores estéticos à parte, que é sempre um conceito subjetivo) e compara-o com exemplos onde o meu sentido de elegância não encontra reflexo, por exemplo nas cadeiras e nas mesas da Praça de S. Marcos.

O Sr. AAM não está a analisar o bom gosto estético das esplanadas do Terreiro do Paço, está sim a querer que se faça EXATAMENTE o mesmo que nos casos que conhece. O seu sentido estético não admite outras concepções, tem de ser aquele que conhece e que toma por boa referência. E ai de quem o discuta, porque poo aqui dogmas de bom gosto é o pão nosso de cada dia.

Ines B. disse...

É a falta de sofisticação de políticos, arquitectos e cidadãos.

Anónimo disse...

Com todo o respeito IMM.
Sabe onde era o Teatro Apolo?
Ninguém quer copiar nada.
O fundamentalismo é o mau gosto.
Sabe como se mede o GOSTO?
Haverá estudo e reflexões, para medir. Aparelho não haverá.
As épocas não se repetem, mas a constante ultrapassagem de conceitos, não é vanguardismo, nem é bom gosto ou inovação.
Se o gosto é relativo, há pârametros de análise que começam talvez por nos olharmos ao espelho, desde a infância.
Não ficarmos deslumbrados e desvairados por MODAS efémeras.
Lisboa não pode ser efémera.
O que este Blogue já mostrou...
Se IMM continuar a vivenciar Lisboa e perceber a sua História não pode ficar indiferente a tantos abusos estéticos.
Os patos bravos ultrapassaram os professores.

Anónimo disse...

Lisboa é muito triste mesmo, comparando com cidades como Paris, Londres, Veneza ou Roma, é muito triste e feia, como é possível haver tanta falta de mau gosto por parte dos responsáveis pelo mobiliário urbano da cidade, são mesmo simples os candeeiros que existem na cidade, principalmente nos locais históricos e antigos, os candeeiros que existem na cidade são simples postes de luzes, palitos de iluminação pública, feios e sem significado, sem qualquer glamour, sofisticação e beleza, é insignificante a comparação com os candeeiros entre outros mobiliários de rua existentes na cidade, comparando com Paris, com os seus magnificos candeeiros lindíssimos, estilo antiquado e belíssimo, com detalhes reais e magnificos, Lisboa é uma tristeza pura, até em candeeiros, que pobre capital que herdou Portugal.