02/11/2008


"Câmara de Lisboa abdica de casas novas e centro de arte para fazer escritórios-PUBLICO-02.11.2008, Ana Henriques
Repovamento da capital continua a ser uma prioridade, assegura vereador do Urbanismo. "Também é muito importante ter mais emprego na cidade", acrescenta

O vídeo promocional arranca cheio de ritmo: "A Praça de Entrecampos destina-se aos jovens mais exigentes." Apesar de obsoleta, a animação virtual ainda se encontra online no site da Empresa Municipal de Urbanização de Lisboa (www.epul.pt), mostrando esplanadas no meio dos prédios de habitação, numa grande praça vedada à circulação automóvel e enriquecida por um centro de arte contemporânea - tudo no local do antigo mercado do Rego.
Com seis centenas de apartamentos para jovens vendidos - embora ainda por entregar e sem escrituras feitas -, a principal entidade responsável pelo empreendimento, a Câmara de Lisboa, mudou de ideias e quer afinal erguer na Av. das Forças Armadas - onde há quatro anos prometeu promover uma espécie de campus universitário - um complexo em que predomina o sector terciário.
Na sua nova versão, o empreendimento que está a nascer perde o centro de arte e parte da habitação a custos controlados publicitada pela autarquia. Em contrapartida, ganha mais betão - a densidade de construção é superior à do projecto inicial - e passa a ter cinco edifícios destinados a escritórios e comércio (no rés-de-chão), em vez dos dois de que fala o vídeo promocional. Os vários lotes serão vendidos em hasta pública, cabendo aos seus compradores construir os prédios.
A actual gestão camarária parece ter-se esquecido de anunciar as suas intenções de transformar o projecto dos seus antecessores, considerado marcante para a cidade. É verdade que o assunto foi sujeito a um período de discussão pública de um mês, mas, como de costume nestes casos, a divulgação foi mínima e foram poucos os munícipes que disso tiraram proveito. Nem sequer os principais interessados na alteração do loteamento, as seis centenas de jovens que ali estão a comprar casa, foram informados. Pouco satisfeitos com os atrasos na entrega dos fogos - as primeiras 300 casas deviam ter começado a ser entregues em Fevereiro passado, mas na melhor das hipóteses isso só acontecerá cerca de um ano depois -, há futuros habitantes que não vêem com bons olhos as intenções camarárias. "Se não publicitaram nada é porque estão a encobrir alguma coisa", deduz um deles, um consultor de sistemas de informação.
Grandes frentes de betão
O vereador do Urbanismo da Câmara de Lisboa, o arquitecto Manuel Salgado, dá a cara pela transformação e nega estar a agir à socapa: "A seguir à consulta pública, a alteração do loteamento será submetida a aprovação na reunião de câmara." Questionada sobre o caso, a vereadora encarregue de liderar a estratégia de repovoamento da cidade, Helena Roseta, escusa-se a prestar qualquer declaração, por desconhecer também ela o assunto. Manuel Salgado garante não estar a desistir do repovoamento de Lisboa. Para repovoar "também é muito importante ter mais emprego na cidade", diz o autarca.
"Vamos aproveitar esta localização privilegiada para atrair empresas que pretendam voltar a fixar-se na cidade." E o equipamento cultural que estava previsto? "A câmara não tem capacidade financeira para o realizar", reconhece.
Se a autarquia aprovar as alterações, a área de construção da Praça de Entrecampos aumentará dez por cento em relação ao inicialmente previsto, aproximando-se do máximo permitido por lei para o local. "A proposta traduz-se numa alteração substancial da operação de loteamento inicial, pondo em causa alguns dos princípios que enquadraram a sua aprovação", escreveram os técnicos camarários que a apreciaram.
Enquanto o projecto inicial contemplava vários edifícios isolados, o novo prevê que alguns deles tenham ligações entre si, dando origem a grandes frentes de construção. Ainda assim, nem tudo são desvantagens: na sua nova versão a praça vedada ao trânsito aumenta de tamanho e será, segundo Manuel Salgado, muito mais arborizada do que alguma vez se pensou.
O PÚBLICO tentou ouvir também a EPUL, a empresa municipal encarregue de proceder e esta alteração, mas ao longo dos últimos três meses esta entidade recusou-se a prestar esclarecimentos. Já a associação de defesa do consumidor Deco põe a hipótese de os "jovens exigentes" de que fala o vídeo promocional terem sido alvo de publicidade enganosa. É certo que as 600 casas EPUL Jovem que estão a comprar não vão ser alvo de qualquer transformação. Mas que o ambiente à sua volta não vai ser o de um campus universitário, isso é uma certeza. "


Mais de um milhão deitado para o lixo
Tribunal obrigou EPUL a pagar dívida a atelier
Apesar de ter arquitectos no seu quadro, a EPUL encomendou ao atelier Promontório todos os projectos inciais para a Praça de Entrecampos. Quatro milhões de euros mais IVA foi quanto eles custaram. Destes, deixou por pagar um milhão e 170 mil euros, obrigando o Promontório a recorrer ao tribunal para resolver o assunto. A sentença ditou que a empresa municipal pagasse a quantia em dívida, mais cerca de 12 mil euros de custas judiciais - o que veio a acontecer no Verão passado. Apesar de a EPUL não se ter revelado de boas contas, o Promontório ainda lhe perdoou cerca de 60 mil euros de juros de mora. O vereador Manuel Salgado desvaloriza o sucedido: "Estão em causa valores muito mais importantes que os custos do projecto." Como a alteração ao loteamento que a Câmara de Lisboa ordenou para poder encaixar mais escritórios em Entrecampos foi feita por uma arquitecta da EPUL, é possível que a empresa ainda tenha de enfrentar problemas relacionados com a autoria do projecto: não é de excluir a hipótese de o Promontório, tido como um dos mais prestigiados ateliers de arquitectura do país, se recusar a ter o seu nome num empreendimento bastante diferente daquele que concebeu. Aos custos associados a ter deitado para o lixo os projectos de execução de quatro dos lotes de Entrecampos, a EPUL junta ainda cerca de cem mil euros por mês, quantia que estará a pagar aos jovens para os compensar dos juros dos empréstimos que estes estão a pagar sem que possam habitar as casas, por não estarem prontas. Os prazos de reembolso do financiamento que a empresa obteve na Caixa Geral de Depósitos para o empreendimento esgotaram-se há meses. "

19 comentários:

Anónimo disse...

De acordo com Manuel Salgado, "A seguir à consulta pública, a alteração do loteamento será submetida a aprovação na reunião de câmara." Mas então para que serve a consulta pública?
É apenas uma formalidade?

Anónimo disse...

Desculpem lá mas não percebi bem:

"a EPUL encomendou ao atelier Promontório todos os projectos inciais para a Praça de Entrecampos. Quatro milhões de euros mais IVA foi quanto eles custaram."

Isto é custo de projecto no papel ????

JA

Pedro disse...

Acho um abuso o que se anda a passar em Lisboa!!! Um projecto aprovado pela Câmara, vendidos 600 apartamentos e agora é que se lembram que não tem dinheiro pra cumprir todo o conceito inicial do projecto?? E o Arq. Manuel Salgado ainda acha isto normal?? Parece-me que anda a perder as funções de Arquitecto e a tornar-se cada vez mais politico!! Sinceramente!!

Pedro disse...

Acho um abuso o que se anda a passar em Lisboa!!! Um projecto aprovado pela Câmara, vendidos 600 apartamentos e agora é que se lembram que não tem dinheiro pra cumprir todo o conceito inicial do projecto?? E o Arq. Manuel Salgado ainda acha isto normal?? Parece-me que anda a perder as funções de Arquitecto e a tornar-se cada vez mais politico!! Sinceramente!!

M Isabel G disse...

O que me deixa dúvidas são as entradas e saídas rodoviárias. Ainda não percebi onde vão ser os acessos. Para as Forças Armadas tão congestionada?

Anónimo disse...

Quatro perguntinhas, apenas quatro:

1) Porque é que todo este dinheiro em projectos foi gasto com os Promontório? Houve concurso público? Houve, sequer, consulta a mais de uma empresa para escolha dos projectistas? Estou curiosa.

2) Quem vai comprar os escritórios, quando se sabe que em Lisboa há excesso de área de escritórios? E com uma crise que se adivinha longa?

3) Não têm vergonha de para uma área central da cidade proporem algo tão vergonhosamente (escolho bem as palavras) medíocre e merdoso? É esta a Lisboa que queremos, igual a Berlim Leste do Hilberseimer? À Bruxelas dos anos 70?

4) Ninguém ainda percebeu que os Promontório são uns tipos medíocres, que se limitam a seguir as modas, que conseguem sair bem nas revistas, e que vão ficando com uma arquitectura cada vez pior...? (de facto, que evolução desde a Xerox... suspiro).

Joao disse...

Eu, felizmente, gosto do trabalho dos Promontório, senão lá teria mais perguntas ressabiadas a colocar.

Penso que é um projecto fundamental para cersir uma zona central da cidade onde havia uma terrível barreira de conectividade, logo ali naquela zona tão central. O projecto urbano é simples e claro e recupera a tipologia do quarteirão e saguão, tão esquecido.

Arquitectonicamente também mais uma fez se faz referência a coisas simples e que marcam a arquitectura de Lisboa: uma certa métrica da composição da fachada, a verticalidade dos vãos, o balcão, a portada, a janela de sacada, entre outros, em interpretação contemporânea e não simples pastiche histórico. Parece-me um universo de distância em relação às tristes cópias pseudo-pombalinas que a Epul reproduz em locais como a Praça Martim Moniz ou a Aldeia de Carnide.

Em relação ao projecto de alteração, tenho algumas reticências. A serpentina que se cria que é um gesto que não se compromete nem com o quarteirão nem com a praça, nem com o saguão e não se percebe a razão de ser, ou aquele tunelzinho por cima da rua, e o volume suspenso, enfim, isso sim, tiques da moda.

De qualquer maneira, este projecto (o inicial) já é anterior à entrada em funções de Manuel Salgado ou das iniciativas de saneamento da Câmara de Lisboa, pelo que não estou a perceber algumas das questões aqui levantadas. Antes as prioridades e os agentes políticas eram uns, agora são outros.
Os projectos de arquitectura são constantemente alterados. Triste seria se não o fossem.
E sim, há muita coisa em papel que dá muito trabalho e que valem muito: Os Lusíadas são em papel, a declaração dos direitos do homem são em papel, os portulanos são em papel. Não é o formato que implica o seu valor, mas o seu conteúdo. E está lá um projecto de arquitectura, ou seja, todas as anotações técnicas, desenhos e outras indicações que permitem construir um todo um projecto. Ou seja, muito trabalho.

O dinheiro que se "perdeu", diz respeito à parte do projecto que foi feito (logo deve ser pago) mas que não será usado por opção do cliente (a EPUL/Câmara).

A questão de não haver concurso público é pertinente. Não compreendo esta resistência a aderir a um mecanismo que só traz vantagens porque permite ter escolha no final.

Os escritórios são precisos. O que não é preciso é escritórios com o metro quadrado ao mesmo custo que em Paris (como no Saldanha!). O que é preciso é que se baixe o valor destes, até porque há muitas centenas de pequenas empresas que trabalham em espaços residenciais nada adequados, precisamente para evitar os custos de espaços de escritórios que não se percebe.

Anónimo disse...

Quem disse que Salgado é arquitecto? Pelo facto de andar de automovel não significa que seja condutor e que saiba guiar.
Salgado anda sempre à boleia.

Unknown disse...

Infelizmente, faço parte dos tais 600 jovens que compraram casa a pensar que vão ter uma coisa e depois aparece outra! É o costume em Portugal, quando se tem um bom projecto pensado num todo, este nunca chega ao fim. E claro equipamentos como um fórum de artes só dá despesa! O que precisamos é de mais escritórios a preços escandalosos. Especulação e mais especulação! É o país que temos e a cidade que não queremos.

Anónimo disse...

xiii tanto palavreado! aquilo para 90% das pessoas é um cubo com buracos sem graça nenhuma!

M Isabel G disse...

"xiii tanto palavreado! aquilo para 90% das pessoas é um cubo com buracos sem graça nenhuma"
:)

Joao disse...

"Cubo com buracos" penso que consiga definir quase toda a arquitectura (à excepção de Frank Gherry's e companhias, talvez).

90% das pessoas fica muito excitada com uma garagem, uma cozinha totalmente equipada e sistema de som integrado.

É preciso convencer estes 90% das pessoas a não usar o carro, que congestiona as Forças Armadas e a saber ver para além das caixas com buracos.

:-)

Anónimo disse...

Como arquitectos, podemos dizer o que quisermos e escrever o que quisermos a justificar os nossos projectos (e os dos outros), que o que lá fica não são as nossas palavras... mas o projecto.

As palavras todas que foram empregues acima na defesa do projecto são o que são (palavras), e valem o que valem (face ao que vai ser construído, nada).

Não são as palavras do João (arquitecto, imagino) ou do autor do projecto que vão proteger o peão das correntes de ar ou da chuva que cai, nem da praça sem sombra.

E essas palavras também não vão animar os lisboetas nem os residentes, que vão ficar deprimidos quando ali passarem e olharem para aqueles cubos com buracos (é isso mesmo, cubos com buracos).

E duvido que essas mesmas palavras sirvam de satisfação àqueles que, daqui a uma década, olharem com vergonha para aquilo que ali vai ficar.

Tal como hoje noutras capitais europeias e noutras cidades americanas (Boston, São Francisco, etc. etc. etc.) as pessoas ainda olham com estupefacção para as muitas brutalidades que as décadas de 60, 70 e 80 deixaram violentar e descaracterizar o tecido urbano, também em Lisboa, em Entrecampos, daqui a uns anos as pessoas se vão perguntar: "mas como é que foi possível deixarem construir isto?!"

Sob diversos pontos de vista (e nem é preciso irmos à estética), o projecto é medíocre.

O resto é conversa. É o que eu acho.

Respeitosamente,

Pedro Homem de Gouveia
(8039 S)

Joao disse...

Quando se construíam palacetes nesses estilos revivalistas por essas avenidas fora, hoje tão valorizados, muitas vozes se faziam ouvir de protesto e de absoluta indignação: é que eram manias de arquitectos para benefício de uns e de outros mas nunca de quem era preciso, que os problemas eram de função e de estética e de tudo. Hoje, há quem se indigne precisamente pelos mesmos motivos. Mudam-se os projectos e os agentes, mais nada.

Mas numa coisa concordo: é esperar que esteja terminado para se ver como as pessoas aderiram e que vida criaram. Felizmente não são as palavras nem dos apologistas nem dos detractores que valem mais do que valem: palavras, são só palavras.

Apesar de palavras, acho uma conversa útil. Não é que ache que a conversa se substitua à realidade, é o sempre a dizer mal de forma sempre absoluta que me cansa, só isso.

M Isabel G disse...

Caro Leitor João:
Pois de palavras e de edifícios medonhos estou eu farta.
Nem é preciso mais: é olhar para um país descaracterizado, onde foi destruída a principal riqueza , principalmente nas cidades: a possibilidade de as pessoas se socializarem. Destruíram quiosques, deitaram abaixo bancos de madeira com encosto, derrubaram árvores. E o quie lá esá agora?? bancos de cimento corrido onde ninguém se consegue sentar (então com o calor é um mimo) e umas esculturas desgraçadas, pindéricas e nem uma sombra.
Os prédios? Um deslumbramento!
E permita-me que lhe diga que não há nada pior que corporações. O espírito corporativo, seja ele qual for, nada tem de bom nem de benéfico para a sociedade.

Pedro Homem de Gouveia disse...

Caros João e M. Isabel G.,

Conversar vale sempre a pena, claro. E a crítica tem um lugar próprio, também.

Já não concordo que se construa primeiro e se veja depois o que acontece.

Pelo contrário, deve pensar-se bem no que se vai fazer, discutir o que for preciso, envolver as pessoas (não apenas os arquitectos convertidos).

Se a cidade é de todos, todos têm o direito de partipar na evolução da imagem da cidade.

Devem os planos ir além da volumetria, deve a linguagem formal ser discutida com o público, não apenas entre arquitectos.

E devemos ser muito mais exigentes com o que se constrói na nossa cidade, seja com aquilo em que se gastam os dinheiros públicos, seja com aquilo que se permite aos particulares edificar.

O que se verifica, todavia, é que os olhos são "traiçoeiros", e num ambiente mediático eminentemente visual acabamos por discutir os edifícios apenas do ponto de vista estético, esquecendo-nos de todos os outros critérios de qualidade de acordo com os quais é justo (e mais do que justo, necessário!) avaliar a qualidade das propostas.

Por exemplo, conforto: aqueles espaços públicos serão confortáveis para as pessoas? Posso explicar-lhe porque é que só de olhar para o desenho dá para perceber que vão ser um fracasso.

Joao disse...

Pedro Homem de Gouveia,

De acordo, a discussão pública e aberta é necessária. Mas antes de haver discussão pública, é necessário haver 'público'. E para isso não basta que haja disponibilidade para participar, que a há por aqui, bastante. Esse é o primeiro passo. Mas igualmente importante é que o público seja público, isto é, que saiba participar.
E isso passa pela criação de uma base de diálogo comum, cada vez mais informado, onde "público" seja uma força de opinião e não uma mera simpatização.

É nesse sentido, na da criação de uma compreensão comum sobre o problema, que lhe peço, por favor, que nos explique porque serão aqueles espaços públicos um fracasso.

Obrigado.

Anónimo disse...

O que a os tempos modernos não conseguiram fazer foi criar laços de identidade e familiaridade com os habitantes, aquele sentimento que existe por exemplo na Lisboa antiga e que não se consegue reproduzir todos os dias. A modernidade não o conseguiu. Afastou-se das pessoas.
O conjunto passou a ser uma soma de egos. Uma equipa cheia de Cristianos Ronaldos “wannabees” mas sem modelo de jogo e o público não gosta, não tem vontade de pagar as cotas nem de ir ao estádio. Mas azar, é obrigado a ir! (hoje foi noite de futebol) :-)
O que me custa mesmo é ver que temos um património rico e uma cidade carismática e que é desprezada ou travestizada (vi aqui no fórum essa expressão e achei demais )! Que caminho deprimente estamos á tanto tempo!
Se falei em cubos com buracos não é dizer mal por dizer mal, é frustração!

Raiano disse...

Eu serei um morador do Lote 2. Escritura já realizada, espero nos próximos meses mudar-me para lá.
Acabo de ter conhecimento através do blog, e confirmado após em outros sites, de que o projeto Praça de Entrecampos foi alterado. Estou perplexo, revoltado, indignado. Esta sensação de impotência e impunidade corroi-me.
Sem dúvida que todo o projeto é adulterado com a eliminação do Lisboa Arte Forum. Este equipamento iria trazer um valor cultural de importância maior a este projeto. Com ele tudo faria sentido. Estamos a falar de um espaço para jovens, com dinâmica, vida, criatividade. Com escritórios toda aquela parte vai ser um monstro que dorme durante a noite.
Não sei como é possivel reverter isto mas posso dizer que este é apenas o meu primeiro passo. E conto que mais se movam em defesa do que é justo.
Aquele espaço é nosso. Venderam uma coisa e fazem outra. E isto revolta. E revolta saber que é o poder publico que faz isto. Senão podemos confiar no poder publico, podemos confiar nos privados?
O país está a saque, e hoje vemos as maiores barbaridades serem feitas, os maiores corruptos andarem na praça publica, sem nenhuma impunidade e por vezes apoiados pelo povão. Hoje desmente-se nos orgãos de comunicação, amanhã ninguem lembra...
Este projeto público teve atrasos resultante da incompetência dos administradores da EPUL, os mesmos que ganharam 90 mil euros em prémios de boa gestão há 2 anos atrás. Os juros que nos foram reembolsados durante 5 meses foram pagos por todos nós portugueses.
Logicamente que o que está por trás de tudo isto são interesses imobiliários, ninguém tem dúvida disso. Alguém está a ganhar com isto e não somos nós moradores. Senão teriam nos perguntado. Da mesma maneira que me informaram que a casa ia atrasar, também podiam perguntar se eu estava de acordo, ou mesmo se autorizava tal alteração.
Vi noutros sites alguma discussão sobre a arquitetura do edifício. Para mim é mais importante o que fazemos com o edifício do que o mesmo. Se bem que eu visitei a minha casa há 2 anos atrás e ainda hoje tenho vontade de perguntar aos arquitetos onde é que está a pré-instalação de ar condicionado ou aquecimento central. E não me digam que a casa está projetada a nivel térmico para não necessitar de ar condicionado que eu mesmo faço-lhes os cálculos de borla. Onde é que eu ponho o ar condicionado?
Mas voltando ao que interessa, o que realmente importa é o movimento e sinergia que se pode gerar com as pessoas que habitam aquele prédio. Para mim essa é que é a diferença para qualquer outro projeto na cidade. É que este projeto é na cidade, centro!
Tenho para mim que vai ser uma longa caminhada mas se todos seguirmos na mesma linha podemos de facto ter um espaço único na cidade, com uma vivência própria em comunidade completamente diferenciada dos conceitos actuais de habitação ou de bairro.
E seria tão bom termos o Lisboa Arte Forum no nosso bairro...
Eu acho que ele ainda é possivel, depende de nós. Não somos poucos, e acredito que não somos mais uns. Acredito que fazemos parte de uma geração que sabe o quer. E não quero os escritórios. Devolvam-me o que me prometeram. Não é caro, nem é barato, é o combinado!
Abraço a todos.