In Público (5/8/2010)
Por Ana Henriques
«Transportadora reconhece que a sua estrutura financeira está "cada vez mais desequilibrada" e pede ao Estado, que lhe deve dinheiro, que encontre soluções para o problema
Autocarros não descolam dos 14 quilómetros por hora
O passivo da Carris disparou para 902,9 milhões de euros em 2009, mais 109,7 milhões do que em 2008, quase tanto quanto custaram os dois submarinos comprados por Portugal à Alemanha.
No seu mais recente relatório e contas, a transportadora reconhece que a sua estrutura financeira "continua cada vez mais desequilibrada" e pede ao Estado que encontre soluções para a resolução do problema, uma vez que a lei estabelece que situações deste género - o capital próprio negativo eleva-se aos 734 milhões - podem levar à dissolução das empresas, caso não exista reforço de verbas. "A Carris continua a financiar a sua actividade com recurso ao sistema financeiro, através de endividamento de curto prazo, o qual é posteriormente consolidado", refere o relatório. "A continuidade da empresa está dependente das medidas que vierem a ser adoptadas pelo Estado na qualidade de accionista único", escreve o revisor oficial de contas da transportadora, repetindo avisos já feitos em anos anteriores.
Questionado sobre o assunto, o Ministério das Obras Públicas limitou-se a referir que "o Governo está a preparar a formalização dos acordos que constituirão a base para a realização dos pagamentos" das verbas que deve à Carris. O Ministério das Finanças deu esta semana o seu aval a mais um empréstimo, de 120 milhões, para refinanciar o programa de investimentos da empresa e consolidar o passivo - uma estratégia que já foi duramente criticada pelo Tribunal de Contas. Esta entidade entende que o Governo deve garantir às transportadoras verbas que lhes permitam funcionar em condições, em vez de protelar o problema, com todas as implicações que isso tem a nível dos juros. Somados, os empréstimos de curto, médio e longo prazo da Carris totalizam 608 milhões, e o seu reembolso revela-se um problema complicado, numa altura em que o volume de negócios da empresa registou um decréscimo de 9,2 milhões. A transportadora aguarda que a tutela se pronuncie sobre o plano de saneamento financeiro que lhe apresentou.
Parte das dificuldades financeiras da Carris são, de resto, da responsabilidade do Estado, que tem sido mau pagador. Depois de impor à empresa descontos nos passes para jovens e estudantes, o Estado tem-se atrasado sistematicamente a reembolsar a transportadora por esta perda de receitas. Neste momento ainda não liquidou as verbas relativas ao primeiro semestre do ano.
E se as relações com a tutela não são as melhores, com a autarquia também não. O novo esquema de circulação rodoviária na Baixa engendrado pela Câmara de Lisboa trocou as voltas à Carris, que fala num "significativo acréscimo dos tempos de circulação" e numa "penalização dos passageiros em termos de acessibilidade e conforto". Eventual efeito da crise, em 2009 aumentou o número de passageiros dos eléctricos e autocarros. Mas aumentou igualmente, e muito, o número de passageiros apanhados a viajar sem título de transporte válido. O relatório e contas de 2009 revela ainda que o presidente ganha sete mil euros ilíquidos mensais, mais um prémio anual variável, enquanto os vogais se ficam pelos seis mil.»
5 comentários:
O novo esquema de circulação rodoviária na Baixa engendrado pela Câmara de Lisboa trocou as voltas à Carris, que fala num "significativo acréscimo dos tempos de circulação" e numa "penalização dos passageiros em termos de acessibilidade e conforto".
Isto é daquelaa coisas que só não vê quem não quer.
Mas a Câmara não vê! Andam todos felizes e contentes com a porcaria que fazem!
Pior são as declarações do Vereador no seguimento destas da Carris.
Pura incompetência autárquica. Lisboa está a saque.
Desde que o João Soares saiu que Lisboa está a saque.
A carris tem mais é que se adaptar a Lisboa. Ou querem agora o contrário? E é bom que se acabe com a supremacia da concecionaria unica seja da carris ou de qualquer outra transportadora. Alias, essa decisão deveria estar nas mãos da Autoridade Metropolitana de Transportes.
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