imparável ocupação do centro histórico lisboeta por novos projectos hoteleiros vai levar a mais despejos. Depois do quarteirão do antigo convento de Corpus Christi, é a vez do Largo Trindade Coelho, junto à Misericórdia de Lisboa, onde a livraria Olisipo, ali há mais de 30 anos, foi intimada a sair das instalações até 15 de Agosto.
Além da Olisipo, que comercializa livros antigos e gravuras, também a livraria Artes e Letras, que vende obras em segunda mão, os restaurantes Expresso e Adega de S. Roque e a pensão Estrela de Ouro receberam intimações de despejo. No prédio, que ocupa o lado Sul do Largo Trindade Coelho, já há muito que saíram do primeiro andar uma conservatória e um notário.
No fim de Janeiro, José Ferreira Vicente, dono da Olisipo e de uma leiloeira de livros, recebeu do senhorio carta a denunciar o contrato de arrendamento para proceder a “obras qualificativas de remodelação ou restauro profundo”. Quinze dias antes, tinha acordado numa actualização da renda para 326 euros. É a nova Lei das Rendas a funcionar.
O projecto de obras invocado torna mais expeditas as acções de despejo. “Esta lei não dá qualquer hipótese de contraditório ao arrendatário. É uma lei feita em cima do joelho”, diz José Vicente. A indemnização, correspondente a um ano de rendas, vai rondar os três a quatro mil euros, “que não dão para indemnizar os dois empregados que temos”, afirma.
“A obra – diz o livreiro – é para um hotel de charme. Aqui ao pé, na Rua da Misericórdia, também já abriu um hostal. Por este andar, qualquer dia, um estrangeiro vem aqui à Baixa e vai visitar o quê? Os hostais?”
[...] No dia 20 de Março, José Vicente reuniu-se com a ministra Assunção Cristas, num encontro proporcionado pela Associação das Micro e Pequenas Empresas. Durou cerca de três horas, mas não lhe serviu de muito. “A ministra acha que as operações urbanísticas que se avizinham vão criar posto de trabalho. A sensibilidade transmitida não foi no sentido de alterar a lei. Portanto, não há hipótese de o despejo voltar atrás.”
[...] O dono da Olisipo ainda não tomou uma decisão quanto ao futuro.O despejo é só para o Verão. Para já, vai fazer uma montra enlutada, como sinal de protesto.
Na Baixa de Lisboa, decorrem actualmente obras para sete novos hotéis. Mais 30 pedidos de licenciamento de novos estabelecimentos hoteleiros deram recentemente entrada na Câmara Municipal de Lisboa.
Texto e fotografia: Francisco Neves
7 comentários:
O mais grave nem será o hotel mas a falta de visão do hoteleiro e da CML em que ter no piso térreo estes dois alfabrrabistas em concreto é uma mais-valia para o hotel e para a cidade. Aliás, coisa igual se passou com o hotel pato-bravo na antiga Lanalgo, em que agora está muito mais 'bonito', sem o correeiro: a CML nada fez e o hoteleiro não sabe o que é bom.
Também não percebo como é que as entidades responsáveis não tem a sensibilidade necessária para entender que este tipo de comercio(mais nobre) pertence e sempre pertenceu a estas zonas, sendo uma mais valia para as mesmas.
De estabelecimento comerciais vulgares, destinados às "massas" já está Lisboa cheia.
Uma vez mais chego á conclusao de que, onde há "charmismo", nao há cultura!
Andaram a pagar 300 euros por mês, a explorar o proprietário. Como é óbvio agora têm o que merecem.
Toda a gente aqui dá opiniões sobre os hotéis dos outros. Porque não formam um negócio com "sensibilidade patrimonial e inteligência empresarial" em vez de criticar os outros?
Caro Filipe, diga lá qual é a sua profissão?
Já agora o local de nascimento.
O seu Zodíaco não o torna sensível à Cultura?
Desenvolva e assuma os seus conceitos.
Ficamos a aprender alguma coisa.
Gostamos da frontalidade mas é pouco para um Jovem.
Para quem quer consagrar a "cultura" com o dinheiro dos outros parece-me que o sr anónimo está aqui a trocar os papéis.
Para além de manifestamente não saber usar o google.
http://www.linkedin.com/pub/filipe-melo-sousa/9/124/bb6
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