23/05/2012

Mais dúvidas do que oposição a menos carros na Avenida da Liberdade





Por Luís Filipe Sebastião in Público

Por enquanto, associações e autarcas estão mais na expectativa do que preocupados com as alterações num dos principais eixos da cidade. Mas temem as alterações de sentidos


As alterações de circulação previstas para a rotunda do Marquês de Pombal e a redução para duas vias em cada sentido na Avenida da Liberdade merecem mais aplausos do que uma oposição clara entre associações e autarcas, que esperam para ver. Mas entre as maiores dúvidas está a alteração do sentido de trânsito nas faixas laterais, pelo risco acrescido para os peões habituados a atravessar a avenida.
"Vejo com bons olhos porque é uma experiência, não é definitivo", comenta Vasco Morgado, presidente da junta de São José, uma das freguesias abrangidas pelas alterações na Avenida da Liberdade. No entanto, o autarca admite que será preciso ter atenção às medidas que protejam as pessoas que costumam atravessar as faixas laterais, uma vez que as mudanças "vão implicar novos fluxos de trânsito". Ainda assim, Vasco Morgado salienta que os problemas desta zona da cidade não se resolvem apenas com alterações viárias e alargamento de passeios, mas que serão precisas outras medidas, que também "envolvam os comerciantes", para levar mais pessoas para a Baixa. "Temos que explorar novas respostas", advoga.
"Quando o Marquês de Pombal mandou abrir uma avenida tão larga disse que um dia iam dizer que ela seria estreita e agora querem reduzi-la", ironiza Florêncio Almeida, da Associação Nacional dos Transportadores Rodoviários em Automóveis Ligeiros (ANTRAL), para quem a medida anunciada vai "prejudicar o comércio em geral, porque não vão deixar passar de um quarteirão para o outro". Para o representante dos taxistas, "o peão e o automóvel têm de conviver", em segurança, para o desenvolvimento das diferentes actividades de uma cidade. O problema da poluição, acrescenta, devia começar por ser atacado "lavando as ruas todos os dias", uma medida simples para ajudar a melhorar a qualidade do ar.
"É uma intervenção que nos preocupa, porque pode dificultar o trânsito para a Baixa", reconhece, por seu lado, o presidente da Associação de Dinamização da Baixa Pombalina, Manuel Sousa Lopes, embora esta entidade que junta comerciantes e empresários não tenha sido consultada acerca das alterações. A Avenida da Liberdade, salienta, "é um eixo fundamental para o comércio da cidade" e qualquer condicionamento pode contribuir para afastar as pessoas desta zona. Embora se mostre preocupado com as dificuldades acrescidas provocadas pelas obras, Manuel Sousa Lopes aguarda pela discussão pública das alterações para verificar se existem motivos para manter as preocupações.

Confusão no Marquês

"Tudo o que sejam medidas que promovam menos carros e mais peões a circular são de apoiar", considera Vítor Meirinhos, da Associação de Cidadãos Auto-mobilizados (ACAM). Apesar de admitir que, das medidas anunciadas, as alterações na rotunda do Marquês de Pombal "podem ser mais confusas", o investigador em segurança rodoviária aplaude a redução de vias na avenida e "a devolução daquela área às pessoas". Porém, Vítor Meirinhos olha para a medida mais como uma tentativa de "reduzir o índice de poluição na zona" do que como uma forma assumida de ter mais áreas para peões nesta zona da cidade.
Em termos de segurança, o elemento da ACAM, nota que nesta zona, segundo dados recolhidos entre 2006 e 2011, as vítimas de acidentes são "maioritariamente homens até aos 40 anos, ao fim de semana e durante a noite". Em muitos casos com as vítimas de atropelamento alcoolizadas. Por isso, Vítor Meirinhos defende uma alteração nas tarifas de estacionamento e a criação de parques em zonas periféricas que favoreçam a deslocação em transportes públicos para a Baixa.
O Fórum Cidadania Lisboa também se congratula com as alterações que "poderão atenuar os níveis de poluição atmosférica e sonora".

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