Alerta da Agência Ambiental Europeia
Se há lugar onde a preparação para um mundo mais quente deve começar já, é nas cidades, alerta um relatório divulgado nesta segunda-feira pela Agência Europeia do Ambiente. Ondas de calor, cheias e problemas no abastecimento de água serão mais intensos nas zonas urbanas.
14.05.2012 - Por Ricardo Garcia in Público
Nas cidades não só vivem três quartos da população da Europa, como os efeitos das alterações climáticas poderão ser exacerbados pelo excesso de construção e solo impermeabilizado.
Segundo o relatório, um quinto das cidades europeias com mais de 100.000 habitantes são “muito vulneráveis” às cheias. A previsível subida da temperatura média global vai agravar este risco. Na Europa ocidental e central, cheias causadas por rios prometem ser mais problemáticas. Nos países do norte, os sistemas de drenagem da água da chuva poderão revelar-se insuficientes perante a possível subida no nível de precipitação e a ocorrência de mais tempestades.
As ondas de calor também são alvo de inquietação da Agência Europeia do Ambiente. “O Verão excepcional de 2003 poderá ser visto como normal em meados do século XXI”, sustenta o relatório, citando dois estudos científicos de 2004 e 2010.
Temperaturas elevadas serão um problema particularmente agudo para uma população cada vez mais envelhecida, como é a europeia. Em 2071-2100, são esperadas 86.000 mortes adicionais relacionadas com o calor na União Europeia, em relação a 1961-1990, segundo um vasto estudo sobre os efeitos das alterações climáticas na Europa – o projecto PESETA. Outro estudo, publicado em 2003, sugere que a mortalidade associada ao calor possa subir até seis vezes em Lisboa.
Nas zonas urbanas, acresce o efeito das “ilhas de calor” – em que a temperatura aumenta ainda mais, devido à energia térmica irradiada pelos edifícios. E mais da metade das cidades europeias têm uma baixa percentagem de áreas ajardinadas, segundo a agência europeia.
A Agência Europeia do Ambiente sugere um “mix” de soluções de adaptação. Há as medidas “cinzentas”, por exemplo, infraestruturas edificadas, como barragens ou diques para conter cheias; há medidas “verdes”, como aumentar as áreas verdes ou plantar jardins na cobertura dos edifícios; e há ainda as medidas “suaves”, como mecanismos de informação a grupos de risco.
Muitas cidades já estão a pensar no assunto, e o município de Cascais – que em 2010 lançou um plano estratégico de adaptação às alterações climáticas – é citado como um exemplo. Cenários para o final deste século sugerem que, por cada grau adicional acima dos 30ºC, o risco de mortalidade aumentará 4,7% no concelho. Uma “estrutura local verde”, com parques, vales e jardins ligados entre si, é uma aposta para minimizar o problema.
Em Portugal, Sintra também tem o seu diagnóstico sobre como será a vida do concelho num futuro mais quente. Há muitas outras cidades europeias que não estão de braços cruzados. Em Ostende, na Bélgica, uma nova praia foi construída para travar cheias; em Malmo, na Suécia, coberturas “verdes” e canais abertos foram pensados para ajudar a reter água durante chuvas intensas; em Copenhaga, capital da Dinamarca, uma nova linha de metro prevê acessos ligeiramente acima do nível do solo, para evitar inundações; e em Saragoça, em Espanha, uma campanha conseguiu reduzir em 30% o consumo local de água nos últimos 15 anos.
“As cidades precisam começar a investir em medidas de adaptação”, alerta a directora-executiva da Agência Europeia do Ambiente, Jacqueline McGlade, citada num comunicado. “Quanto mais esperarem os líderes políticos, mais cara será a adaptação e o perigo para os cidadãos e para a economia aumentará”, reitera.
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