27/05/2012

O mirante da Quinta do Marquês de Marialva



Por Gastão Brito e Silva in Público


Esta romântica estrutura é o último vestígio da nobre quinta edificada por D. António Luís de Menezes, 1.º marquês de Marialva. Era uma enorme propriedade que no tempo do segundo marquês foi ampliada pela unificação de outra contígua, a "Quintinha", como era então conhecida, confinada ao Convento de S. Bento de Xabregas, à Rua Direita de Marvila e ao rio Tejo, onde é hoje a R. do Açúcar.
Pela morte do 5.º e último marquês de Marialva, D. Diogo José Vito de Menezes Noronha Coutinho, em 1823, esta propriedade e o título foram herdados pela casa de Lafões, por o duque estar casado com D. Henriqueta Maria Júlia de Lorena e Menezes, filha mais velha da casa Marialva.
Há passagens nas memórias de William Beckford que relatam algumas descrições desta quinta. Referem apenas o jardim e a sua luxuriante vegetação, além deste mirante. Uma vez que a residência do marquês era em Belém, a quinta era uma propriedade secundária e, por isso, já nessa altura o palácio se encontrava degradado.
O mirante tem sofrido intervenções, como prova a sua traça marcadamente romântica, num estilo muito posterior à morte do último marquês. A escadaria era revestida por azulejos do séc. XVII e há ainda vestígios do rendilhado estuque.
Foi neste mirante que D. Pedro V assistiu à passagem do primeiro comboio, em 1856, tornando este monumento num marco histórico.
Hoje todo este terreno é um enorme descampado com alguns vestígios de arquitectura que dificilmente se podem identificar. Entre escombros e entulho podemos distinguir ainda algumas formas que foram parte da quinta ou da fábrica.
Foi numa permilagem desta propriedade que se instalou a Fábrica Nacional de Sabões, que resultou da união de várias indústrias que aqui laboravam. Em 1919, as empresas Sousa & C.ª e João Rocha, um importante industrial, associaram-se e formaram uma poderosa indústria. Era daqui que saíam as marcas Sonasol, Margarina Extra, Sabonete Beato e outras.
A produção atingiu o seu auge nos anos 40, tendo a SNS então adquirido este terreno sob a designação de Quinta do Brito. Foram demolidas todas as estruturas do antigo solar, para dar lugar a esta enorme unidade fabril que laborou durante várias décadas. A SNS entrou em falência no início dos anos 90 e de toda esta aventura sobrou apenas o mirante, que continua a testemunhar os gloriosos dias de Marvila. Ruinólogo e fotógrafo


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