11/05/2012

Regeneração do Martim Moniz, é preciso, mas não à custa de mais erros!

Exmo. Sr. Presidente da CML
Dr. António Costa


Tomámos conhecimento da ideia de regeneração da Praça Martim Moniz, ficando surpreendidos pelo seu teor.

A situação hoje existente no local é resultado de uma acumulação de erros e indefinições históricas: desde a demolição na primeira parte do Século XX de edificado com relevo patrimonial até ao abandono durante décadas e à solução, a nosso ver medíocre (desenho, opção estética e materais), adoptada no fim do século passado. A tudo isto acrescente-se o mau uso habitualmente dado ao local e a crónica falta de manutenção pelo município.

Na verdade, reconhecemos a necessidade de requalificação do local, hoje muito degradado. Mas, cremos, importa fazê-lo aprendendo com o passado e não apenas substituir um erro por outro igual ou pior.

A riqueza potencial do Martim Moniz reside na confluência de gentes e culturas diversas, embora este fenómeno acarrete, não com pouca frequência, o seu lado perverso, como é do conhecimento público. Interessa-nos, porém, a sua dimensão positiva que nos parece dever ser ampliada.

Nesta perspectiva, muito sinceramente, não alcançamos como mais animação (ainda mais do que a já existente) na zona central da cidade se pode compatibilizar com tal desiderato. O conceito base que acreditamos ser útil à vida do local e da cidade no seu conjunto é, antes, o de “pacificar a cidade”, não de "animá-la"; uma vez que esta vertente já se encontra amplamente experimentada, mas sem resultados positivos ou encorajadores, no Bairro Alto, no Cais do Sodré, em Santos, nas Docas, na Rua da Madalena, na Avenida da Liberdade, na Bica, etc.

Este modelo de alegado “desenvolvimento” permanentemente vinculado à "animação" (isto é, mais tarde ou mais cedo vinculado à indústria da noite, ao consumo de álcool e ao conhecido cortejo de fenómenos associados, em regra desviantes e nada saudáveis para as pessoas e para os bairros) deve, cremos, dar lugar a opções diferentes.

Um centro histórico não deve albergar soluções arquitectónicas sem dignidade e/ou de mau gosto, e com funções contrárias às necessidades da cidade. E uma solução urbanística e sócio-cultural de qualidade passará forçosamente pela demolição do Centro Comercial da Mouraria, como condição sine qua non, e, bem entendido por uma densa arborização, quer na placa central quer nos passeios junto ao novo empreendimento da EPUL, bem como junto ao Hotel Mundial e ao antigo Salão Lisboa.

Senhor Presidente da CML: impõe-se o debate sobre a matéria e um concurso de ideias para pacificar e requalificar a zona. Este debate tem que contar com a participação dos lisboetas - residentes munícipes e eleitores - para que não se vejam surpreendidos pelas medidas anunciadas nem pelos procedimentos a elas conducentes.

Basta de "animação"! Queremos vida, qualidade de vida, dignidade, segurança. Queremos outro modelo de desenvolvimento para a cidade e para o Martim Moniz.

Colocamo-nos ao dispor de V. Exa, ou de quem por si seja indicado, para reforçar o nosso contributo para a melhor solução para a cidade.


Nuno Caiado, Carlos Leite de Sousa, Diogo Moura, Miguel Carvalho, João Filipe Guerreiro, Fernando Jorge, António Araújo, Júlio Amorim, Jorge Pinto, Virgílio Marques, Pedro Janarra, Luís Marques da Silva, Margarida Pardal, Ana Alves de Sousa e Fernando Sande Lemos

C.c. AML, JF, EPUL, Media

2 comentários:

Carlos Medina Ribeiro disse...

Não custa nada apelar aos pirómanos para que tenham cuidado com o fogo...

Maxwell disse...

Apesar de não concordar com os primeiros parágrafos (existia o conceito de "património histórico" em 1936?) é bastante sabido que esta Praça tem sido vítima de erros atrás de erros de arquitectura e planeamento. É um local que carece urgentemente de uniformização e, como bem dito pacificação.