Autarquias
ANMP alega que projecto de lei nem enumera competências camarárias
Por Idálio Revez in Público
Projecto governamental, afirmam os autarcas, é "omisso quanto à forma de financiamento das entidades intermunicipais, o que, ao ser aprovado, criará um vazio inaceitável que inviabilizará o seu funcionamento"
O projecto governamental, dizem os autarcas, retira às câmaras poderes em matéria de urbanismo
A Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP) entregou na semana passada ao Governo um parecer em que "rejeita" o projecto de lei relativo ao novo regime jurídico das autarquias e ao estatuto das entidades intermunicipais. Uma das críticas expressas no documento prende-se com o facto de ele nem sequer explicitar as atribuições e competências dos municípios.
"Rejeição total" - é assim que presidente da ANMP, Fernando Ruas (PSD), sintetiza a posição da associação em relação ao projecto governamental. "As comunidades intermunicipais não podem substituir-se a quem foi eleito", afirma, a título de exemplo das razões do seu protesto. O projecto, em fase de discussão, assenta numa "técnica legislativa com remendos, transformando o regime jurídico das autarquias locais numa manta de retalhos", acusa.
O presidente da ANMP diz esperar que o Governo atenda à posição dos municípios, prevendo que a discussão seja retomada a seguir à votação final do Orçamento do Estado, altura em que irá pedir uma reunião com o ministro dos Assuntos Parlamentares, Miguel Relvas. "Vamos levar-lhe os nossos argumentos", disse anteontem à noite, no final de uma conferência promovida pelo PSD, em Loulé, sobre o tema Autarquias de Futuro, Autarcas de Referência.
Fernando Ruas, autarca há 23 anos, reafirmou que está "contra a limitação de mandatos e a reorganização territorial", mas a maior crítica dirigida ao Governo teve como alvo o projecto que se desenha para o "futuro das autarquias", do ponto de vista da sua sustentabilidade financeira e da sua natureza política. A administração central, afirmou, "continua a manter em segredo" informação relativa a matérias tributárias com incidência nas receitas das autarquias, como sejam a derrama e o imposto municipal sobre imóveis (IMI).
O presidente da Câmara de Loulé, Seruca Emídio, frisou, por seu lado, que o projecto apresentado por Relvas para as entidades intermunicipais cria "um poder eleito por via indirecta e enterra a regionalização por muitos e bons anos". O autarca advertiu igualmente: "Os municípios irão perder dentro de algum tempo o poder que hoje detêm, uma vez que algumas áreas, como sejam as do urbanismo, transportes, ambiente e contratação pública, passarão para outro nível de decisão."
O documento da ANMP resulta de uma consulta aos municípios, que teve contributos de 27 câmaras e assembleias municipais, e refere que o "legislador parte do princípio de que todas as juntas de freguesia têm recursos humanos, materiais e técnicos capazes e suficientes para lidar com todas as novas competências, o que de modo algum sucede". Mas o dado mais relevante, sublinha, é que a "câmara municipal deixa de ter competência para deliberar sobre as formas de apoio às freguesias".
"Ao não fazer qualquer descrição das atribuições dos municípios e das competências a elas inerentes, [o projecto] não permite balizar as transferências admissíveis e proporciona sobreposição de serviços ou prestações entre vários níveis da administração pública", criticam os autarcas. Por fim, lê-se no parecer da ANMP, o projecto é "omisso quanto à forma de financiamento das entidades intermunicipais, o que, ao ser aprovado, criará um vazio inaceitável que inviabilizará o seu funcionamento".
Os presidentes das juntas metropolitanas do Porto e de Lisboa, reunidos esta semana no Porto para debater o projecto, também anunciaram que estão a estudar a hipótese de avançar com uma "intimação judicial" para obrigar a administração central a permitir o acesso aos dados relativos à cobrança de impostos municipais (ver PÚBLICO de ontem).
Autarcas perdem poder executivo
Associação rejeita modelo intermunicipal
A ANMP entende que, com o novo modelo de gestão das entidades intermunicipais (áreas metropolitanas e comunidades intermunicipais) os presidentes das câmaras "são destituídos do poder executivo". O projecto de diploma, diz a associação, "apenas prevê a existência de uma lista única para a comissão executiva - o que será questionável numa sociedade democrática". A comissão executiva, no caso das áreas metropolitanas, passa a ser formada por cinco secretários, eleitos pelas assembleias municipais. Nas comunidades intermunicipais aplica-se o mesmo modelo - comissão executiva intermunicipal, que será composta por três secretários, eleitos pelas assembleias municipais. Outra das alterações ao actual regime jurídico das autarquias prende-se com a cobrança de taxas e tarifas, que passa a ficar sujeita ao "parecer obrigatório do conselho metropolitano ou intermunicipal". A rejeição do diploma é justificada, nomeadamente, pela sua alegada "inconstitucionalidade" .
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