21/03/2006

Metropolitano de Lisboa, o duplo-decímetro do nosso descontentamento

O Metropolitano de Lisboa é a melhor solução para reduzir o fluxo rodoviário e melhorar significativamente o conforto e vida urbana em Lisboa. Este meio de transporte deixa espaço para o peão e permite uma redução nos gases emitidos pelos automóveis e poluição sonora.

No entanto, o ML não consegue tomar o devido destaque como meio de transporte por não garantir uma correcta cobertura da cidade devido à sua rede mal elaborada, e deixar ao abandono algumas das principais zonas da nossa cidade e devido à falta de verdadeiros interfaces. Por isso, o anúncio da redução do horário de funcionamento só vem a acrescentar mais um aspecto a criticar.

Daí que,

- a propósito das recentes 2 boas notícias anunciadas pelo Metro: "Telemóveis a funcionar na Linha Azul", e "Carregamento de cartões em Multibanco" - e de 2 outras de sinal contrário - bilheteiras fecham a partir das 20H30, e "Metro pretende fechar pela meia-noite" (!);

- a propósito dos festejos do 46º aniversário do Metropolitano de Lisboa ;

- a propósito do recente anúncio do propósito do Metro em fechar meia-hora mais cedo (!);

- a propósito do parecer do Tribunal de Contas ( http://www.tcontas.pt/ ) , designadamente os Relatório de Auditoria nº 36/2005 - 2ª Secção (Auditoria ao Projecto / Medida "Empreendimento Campo Grande / Odivelas" do Programa PIDDAC "Redes de Metropolitano ) e Relatório de Auditoria nº 33/2005 - 2ª Secção (Encargos do Estado com as parcerias público privadas: concessões rodoviárias e ferroviárias ),

Achemos NÃO HAVER RAZÃO para o Metropolitano festejar de forma tão efusiva o seu 46º aniversário, como rejubilou nos cartazes que afixou nas carruagens, "46 ANOS, 4 LINHAS (?!), 44 ESTAÇÕES (?!)". Porquê?

1. Porque o Metropolitano de Lisboa tem 50% das estações que devia ter pois continua a ignorar Belém, Ajuda, Graça, Beato, Marvila, Sacavém, Encarnação, Paço do Lumiar, etc. , e continua a não funcionar em rede (http://www.metrolisboa.pt/diagrede.htm), pese embora todo o esforço dos últimos anos em fazer cruzar as linhas existentes. Nesse aspecto continua, assim, a ser um "duplo-decímetro";

2. Porque o Metropolitano de Lisboa demorou mais de 4 anos a abrir os átrios sul das estações Roma e Alvalade! A este ritmo, teremos comboios de 6 composições na Linha Azul somente daqui a 6 anos, quando fizerem o mesmo às estações do Areeiro e Arroios, onde ainda nem sequer começaram os trabalhos;

3. Porque o Metropolitano de Lisboa demorou 46 anos (http://www.metrolisboa.pt/evol_ml.htm) a entender que devia abrir uma estação de Metro junto ao aeroporto da Portela, e mesmo assim continua a achá-la um investimento a longo prazo (os taxistas agradecem!);

4. Porque o Metropolitano de Lisboa continua, inexplicavelmente, a projectar e a abrir estações em zonas descampadas, de implantação de futuras urbanizações, o que é suscepível de interpretações dúbias (em Madrid, por ex., o Metro tem um esquema interessante de financiamento: o Metro/Estado/Ayuntamiento é o dono dos terrenos vazios nos subúrbios em que é decidido criar um novo bairro com Metro, pelo que mal esse plano é anunciado, o valor dos terrenos sobe em flecha, o Metro vende-os e com as mais valias constrói a nova linha; dessa forma não há o menor recurso a endividamento ou a subsídios estatais);

5. Porque o Metropolitano de Lisboa tem excessiva publicidade nas suas estações, cobrindo muitas vezes a decoração das mesmas, sendo que se agudizaou o problema com a instação do canal de pseudo-notícias do grupo Media Capital, que massacra ininterruptamente os utilizadores e funcionários do Metro;

6. Porque o Metropolitano de Lisboa tem excessivas avarias (para-greves de zêlo?) nas suas linhas, sobretudo em hora de ponta;

7. Porque há excessivo tempo de espera das composições, à quase excepção dos da Linha Amarela;

8. Porque, além de tudo isto, o sistema de torniquetes instalado e anunciado como resolução para os problemas de "borlas", mendigagem organizada, etc., revelou-se um fracasso total, e uma considerável perda de dinheiro.

No entanto,

- o Metropolitanto é também o transporte colectivo mais rápido e mais eficaz de Lisboa;
- é o transporte colectivo menos poluente de Lisboa;
- é o transporte colectivo mais seguro;
- o seu pessoal tornou-se mais simpático e eficiente;
- os seus utilizadores viram ser-lhes facilitado o acesso às estações por via da abertura de elevadores (embora o ideal fossem as escadas-rolantes) , inclusive à superfície;
- os seus utilizadores podem adquirir os seus bilhetes e passes com cartão multibanco, apesar de ainda lhes estar vedado, incompreensivelmente, o cartão de crédito (prática frequente lá fora);
- as estações do Metro são bonitas, funcionais e limpas (pese embora o vandalismo crónico de alguns utilizadores);
- o sistema de informação do Metro funciona, quer presencialmente quer via altifalantes e placards, quer ainda no site (http://www.metrolisboa.pt/);
- a figura de Provedor funciona.

Que fazer, portanto, para sair da estagnação (http://www.metrolisboa.pt/proctrans.htm) que se verifica em termos de adesão da população, de modo a atrair o dobro dos passageiros, rumo a uma capital verdadeiramente europeia?

A resposta a essa questão passa exclusivamente por concretizar de facto um dos seus objectivos estatutários (http://www.metrolisboa.pt/object.htm): "Contribuir para a intermodalidade entre operadores de transportes da região de Lisboa" .

E isso passa por:

- Alargar a rede à Lisboa esquecida, construindo linhas que cruzem as existentes através do prolongamento da linha encarnada até à linha de comboio de Cascais, e prolongando a rede para zonas de grande fluxo de trânsito, tal como o Pólo Universitário da Ajuda, e a zonas já estudadas como as Amoreiras, a Estrela e Campo de Ourique;

- Alargar a rede cada vez mais à periferia de Lisboa (Póvoa Stº Adrião, Stº António Cavaleiros, Loures, Stª Iria de Azóia, Alfragide, Carnaxide, Linda-A-Velha e Algés);

- Apostar na criação de verdadeiros interfaces com a Carris e a CP, mas também com as futuras linhas de metro de superfície da responsabilidade dos concelhos à volta de Lisboa; mas dignificar também os já existentes em interfaces confortáveis e úteis (o do Campo Grande é verdadeiramente terceiro-mundista), com passadeiras rolantes, etc.);

Mas também passa por alargar o seu horário de funcionamento, e não reduzi-lo! Aumentar o horário de funcionamento e Investimentos no alargamento da rede de estações só resultarão numa sustentabilidade económica pelo aumento de utentes que este meio de transporte irá ter.

E passa também por colocar escadas rolantes até à superfície! E por manter os guichets abertos em ambos os átrios de cada estação! E por manter os cais limpos! E os elevadores vigiados a fim de não serem vandalizados!


Paulo Ferrero, Bernardo Ferreira de Carvalho, Júlio Amorim e João Repas

1 comentário:

Anónimo disse...

Acho que tem muita razão.
Mande isto para as Relações Publicas do Metro.

Eles vão ver.....