26/11/2013

E agora, de repente, todos parecem odiar a calçada, vá-se lá saber porquê? (e foram chegando respostas)


E foram chegando respostas:

“Porque é feita por ´calceteiros de ocasião `que não sabem do ofício”;

“E porque não existe fiscalização por parte da Câmara Municipal de Lisboa e dos empreiteiros quanto à qualidade do trabalho executado”;

“Porque - não raras vezes - passa o gás, a EDP, a EPAL, a PT e afins na mesma calçada que é esventrada N vezes e raramente recolocada conforme a qualidade da original, ficando descaracterizada num amontoado de pedras e ocasionalmente favorecendo acidentes”;

“Porque não existe manutenção sistemática e regular, sempre necessária em todo e qualquer tipo de revestimento, em especial se utilizado em espaços urbanos”;

“Porque é usada em vergonhosos ´micro passeios` ilegais que não permitem a circulação dos idosos e de pessoas com mobilidade reduzida”;

“Porque está atravancada de muppies, postos de electricidade, sinais, etc. que tornam difícil e perigosa a circulação dos peões, em especial dos invisuais”;

“Porque está ondulada e esburacada devido aos automóveis, camiões e toda a espécie de veículos que aí estacionam impunemente”;

“Porque é diariamente ocupada e destruída por obras em edifícios que lhe são contíguos e raramente é refeita em condições”;

“Porque está maltratada, porque está feia, encardida e nojenta, cheia de lixo e de dejectos dos cães”.


Afinal, não é a calçada portuguesa que odiamos, não é com ela que é preciso ´acabar`, mas sim com a incúria, com o desleixo e com a indiferença de quem devia proteger este património que deve voltar a ser motivo de orgulho para todos nós.

http://www.math.ist.utl.pt/~acannas/Simetria/.


Ana Maria Alves de Sousa

7 comentários:

Filipe Melo Sousa disse...

Porque é um processo caduco, antiquado, artesanal, inestético, anti-higiénico. É o pior dos dois mundos, caro e feio. Requer que uma pessoa passe horas agachado a matelar. Requer manutenção que a CML não tem dinheiro para fazer, nem nunca terá. É irregular. Os interstícios de terra e areia onde se acumulam os cigarros impossíveis de retirar dão um ar porco e terceiro-mundista à cidade.

Carlos Medina Ribeiro disse...

Espero voltar ao assunto, com imagens ilustrativas do que vou dizer, mas adianto o seguinte:

Há que distinguir a "Calçada portuguesa ornamental" (com desenhos, como os do Rossio, da Av. da Liberdade, etc) da "Calçada portuguesa só empedrado" (em geral em calcário branco).
Julgo que é esta segunda que é posta em causa, e com alguma lógica, e poderei enviar-vos fotos de casos interessantes.

Um deles, desta mesma manhã, na Praça de Alvalade:
Uma senhora, apoiada num aparelho para a ajudar a andar, fugiu logo que pôde da "calçada portuguesa" e caminhou na zona das arcadas, lageada. Eu faria o mesmo.

Na Frei Miguel Contreiras, qualquer peão foge da calçada para a ciclovia, etc.

Note-se que em nenhum dos casos isso se passa por a calçada estar danificada (por carros, árvores ou abatimentos do solo).
Simplesmente é irregular, escorregadia em caso de chuva e, muitas vezes, com ervas. Junto ao Hotel Roma, p. ex., são frequentes as quedas.

Enquanto, nestas discussões, se se abordarem ambos os casos da mesma forma (com os mesmos critérios), não iremos a lado nenhum.

Anónimo disse...

Carlos Medina disse:

"Há que distinguir a "Calçada portuguesa ornamental" (com desenhos, como os do Rossio, da Av. da Liberdade, etc) da "Calçada portuguesa só empedrado" (em geral em calcário branco).
Julgo que é esta segunda que é posta em causa, e com alguma lógica, e poderei enviar-vos fotos de casos interessantes."

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É a segunda e a primeira!
E não faltam exemplos do desaparecimento da 1ª!

Olhe aqui um:

http://www.flickr.com/photos/biblarte/9963929406/in/set-72157621679614455


Anónimo disse...

Boa tarde,
A calçada à portuguesa, aqui designada como ornamental é, realmente, um regalo para a vista, uma mais valia para a urbe que a possui implantada.
Exige-se, contudo, que seja bem feita e, de acordo com a “ciência” de experiência de feita que os nossos calceteiros têm ou tinham.
E, para isso, também são necessários orçamento robustos compatíveis para a sua implementação, o que me parece difícil fora dos períodos eleitorais.
Por outro lado a calçada à portuguesa, como de resto tudo o mais, carece de uma manutenção preventiva e correctiva que, no nosso país, não tem grande acolhimento. Presumo, por não serem “obras” que dêem nas vistas.
Assim sendo, para ter a arte no pavimento das ruas torna-se necessário pensar, e bem, no seu custo.
Quanto às ruas com passeios empedrados com “vidraço” ou “calcário branco”, sem outra arte que não seja a sua boa execução, em zonas que não sejam consideradas “nobres”, pelas condicionantes que atrás ficam ditas, parece-me que há lugar a pensar em soluções alternativas ou, talvez diferentes.
Num país em que os idosos já são muitos e, mesmo para os que o não são ainda, o perigo dos citados pavimentos empedrados espreita a cada passo.
Só quem não anda a pé pode desconhecê-lo.
Assim não me parece ser de concluir que “E agora, de repente, todos parecem odiar a calçada, vá-se lá saber porquê?”
Realmente o que se detesta é, na maior parte das vezes, o estado em que ela se encontra.
Atentamente
Rui Carlos

Anónimo disse...

Qualquer estrangeiro daria tudo para ter uma calçada como a nossa em qualquer cidade!
As barbaridades que aqui se dizem são mesma típicas de um povo que não reconhece a riqueza cultural que herdou! A calçada dá a luz única que a cidade tem. Ou prefeririamos ter piso de betão escuro e feio de qualquer cidade comum?! Se nem valor ao bom que temos damos, muito mal vamos...
Já para não falar dos muitos benefícios, em termos de permeabilizacao e escoamento das aguas, etc etc. Que seja bem cuidada! Cara é andarmos agora a substituir toda a calçada por pavimentos de tão mau gosto

Filipe Melo Sousa disse...

Que ingenuidade pensar que os turistas colocariam nas suas cidades este piso porco e tosco.

Lá que o nosso piso é único, isso é. E por algum motivo ninguém mais o usa.

Anónimo disse...

"Qualquer estrangeiro daria tudo para ter uma calçada como a nossa" porque não tem de andar em cima dela todos os dias! Porque não tem de a aturar nos dias de chuva, escorregadia e cheia de desníveis. Concordo totalmente que se faça a distinção entre a calçada portuguesa ornamental e a outra. Não é possível conceber uma cidade em que não possa haver arranjos/obras que envolvam buracos no chão sem ter de se contratar pessoal especializado para o repor correctamente, já que é dificílimo fazê-lo.
Mesmo quanto à calçada portuguesa ornamental, trata-se de uma concessão à estética, porque continua a ser pouco funcional e muito pouco confortável para andar.