15/05/2009


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Excelente artigo. Mas fica o alerta:

- Qual é o tipo de piso e de material em preparação para o resto da intervenção na FR (Ribeira das Naus, Corpo Santo, Rua do Arsenal, etc.)? Betão? A intervenção global é una ou uma manta de retalhos de intervençõezinhas, cada qual com a sua "marca de autor", o seu desenhinho, o seu material, o seu espaço público, a sua espécie de árvore, etc.?

- A transformação da placa central num plinto gigantesco, debruado a 2 degraus, cada qual com 45 cm de alto, além de ser inestético e indecoroso para aquela praça, é uma uma barreira arquitectónica que transformará o Terreiro do Paço numa espécie de Praça da Figueira II

Ainda outro alerta, este a quem de direito:

O chamado "estudo prévio" (que a mim me parece um projecto final) do TP vai a aprovação da CML na próxima 4ª F. Cadê a discussão pública? O "debate" limita-se a 2 arigos num jornal diário e a um debate na corporação?

Não, não, isso deve ser como se fosse um plano de pormenor, no mínimo ... faz favor de abrirem período de debate público e de solicitar pareceres a especialistas, que por sua os divulgem junto da opinião pública. O Terreiro do Paço é demasiado importante para ser tratado como uma praceta de beco.

14 comentários:

Anónimo disse...

Ai, se isto acontecia no tempo do Santana Lopes (eu sei, é e enésima vez que digo o mesmo, mas imaginem só o chinfrim que para aí não ia, e provocado até pelos próprios que agora se preparam para avançar com esta idiotice).

J A disse...

Os degraus são absolutamente incompreensíveis e provavelmente nada mais que "mijinha na esquina" no sítio errado....

Alexandre Marques da Cruz disse...

As alterações pretendidas, a serem apreciadas pelos técnicos do IGESPAR, e deixando-os decidir de acordo com a sua consciência profissional, sem pressões, seriam liminarmente rejeitadas, pelos argumentos que o Dr. Júdice referiu no seu artigo e pelos demais argumentos que foram aflorando desde que se soube deste projecto.
Haja bom senso!

Anónimo disse...

como não têm nada que fazer vão para os jornais escrever o que lhes passa pela moleirinha...tristes!!!

Anónimo disse...

Mas aqui o das 2:06 teve ter que fazer à beça.
Além de ser uma pessoa muito esclarecida.

Ferreira arq. disse...

1.
Quanto ao projecto de arquitectura apresentado agora para o Terreiro do Paço, saliento a opinião sábia do Arquitecto Ribeiro Teles, pela sua lucidez:
"O arranjo da praça deve ser o mais simples possível, porque ela já tem força e majestade por si própria". Daí as reticências do paisagista em relação ao pavimento da placa central: "Acho-o um bocadinho folclórico".
2.
E cito a jornalista quanto à posição do autor do projecto:
“Também por questões de escala, Bruno Soares pensa não ser de voltar a colocar no local as árvores que já lá existiram no final do séc. XIX: se fossem suficientemente imponentes tapavam os edifícios; se fossem demasiado pequenas ficariam ridículas numa praça tão grande.”
3.
Pensam a praça ao nível do “postal” que com a obra vão conseguir fazer. Mesmo no que se refere às árvores; não percebem para que servem as árvores para além do “postal” que com elas conseguem ou não fazer!
A este nível isto é incrível (talvez as árvores mereçam mais estar lá no Terreiro do Paço que eles próprios!).
Não querem saber da vivência, da alma da praça, nem em que funcione efectivamente como uma praça (a principal do país), ou seja, tratam esta praça da mesma forma que se trata uma superfície comercial.
É que se se força a afluência para actividades pontuais, passa a funcionar como uma romaria periódica. E as romarias não se fazem às praças, mas sim aos santuários, que são coisas totalmente diferentes, que é o que aparenta ser o que aqui está a acontecer.
4.
Não respeitam o património daquele local, o destino para que foi criado, a função efectiva que desempenhava naquilo que Portugal geria à data pela escala de um grande terreiro, “A Praça do Comércio”, o local referência, ou melhor, a confluência de um império. Era o expoente da vida urbana, utilizada por todos, e para todos, desde o mais pobre ao mais rico. Não era um palco de vaidades, que é aquilo em que se está a querer transformar aquilo que é uma praça e que deveria constituir um local de confluência da vida social comum, respeitando-se o património, utilizando os meios urbanos perenes e acolhedores, que crescem e evoluem connosco.
5.
Nada melhor que as árvores para desempenhar essa função.
Não muitas, estruturadas de forma simples, integradas na geometria do plano, motivando o estar, o conviver, o relaxamento, favorecendo o encontro; reduzindo a aridez de um espaço com esta amplitude, mas sem demasiado porte.
6.
E claro, então podia também com todos os restantes meios que o “urbanismo comercial” e as novas tecnologias motivam e complementam agora na sociedade, mas sem deixar perder a dignidade deste magnífico património que nos foi legado.
7.
Com tudo o que está agora previsto envergonhamos a lição de funcionalidade que, à data, foi dada ao mundo por Carlos Mardel e Eugénio dos Santos no plano da Baixa, quando criaram aqui “A Praça do Comércio”, e a designação que lhe foi dada diz tudo quando a vida urbana que aí se motivou.
8.
Vejamos: estão a programar a amplitude pavimentada, libertando-a, para carregar o solo com as actividades de “urbanismo comercial” a implementar conforme cito - In OJE (23/4/2009):
“O consórcio CB Richard Ellis/Innovagency ganhou o concurso promovido, pela sociedade Frente Tejo, para desenhar a solução de urbanismo comercial para a Praça do Comércio (Terreiro do Paço), em Lisboa. Este projecto tem como objectivo devolver uma dinâmica a uma das maiores Praças da Europa, através de movimento comercial, cultural e turístico, dentro dos melhores e mais avançados parâmetros de qualidade urbanística e comercial a nível mundialEste projecto promovido pela Frente Tejo procura concretizar uma visão ambiciosa para o futuro do Terreiro do Paço, desenhando e implementando um conceito inovador e contemporâneo, com relevância temporal contínua, assente na multifuncionalidade dos espaços. O Projecto enquadra duas vertentes fundamentais: a de desenho da estratégia comercial e a de definição do modelo de gestão e exploração da oferta e do espaço urbano sob um conceito e uma marca integradores. A área de intervenção do projecto integra o piso térreo dos edifícios que constituem o conjunto monumental do Terreiro do Paço, incluindo os torreões Nascente e Poente, num total de 18 mil m2 de área coberta, bem como o espaço público do Terreiro do Paço, nomeadamente a praça e os claustros interiores dos edifícios.”
...
9.
Há uma parte importante do projecto que parece estar bem feito e que é fundamental para que a obra no local resulte: é que estejam de facto eliminados os conflitos viários. Foi pena não haver um esquema da circulação a acompanhar as imagens do projecto.
10.
Mas como o método está a ser: - vir servindo aos poucos a discussão do projecto, consumando-o em obra (uma prática que já faz escola entre os nossos políticos)! ... reticências! ...
11.
Para além do desvio do trânsito, o importante é o ESPAÇO a tratar (e não apenas um pavimento)!
Significa isto que não se trata de colocar mais ou menos exposições, esplanadas, arabescos ou pelintrices: tratem a PRAÇA, à escala das pessoas que a devem utilizar, como confluência de todo o país, utilizem as árvores e consigam-lhe uma alma duradoura, salvaguardando o património.
12.
Concluindo:
Não perdiam a honra nem a dignidade os autores do projecto se aceitassem evoluir esta modelação interior da praça (que no estudo parece ser o que está errado) com a colaboração das achegas válidas que têm sido dadas, já que não se cumpre a legislação e não se obriga estas coisas a ser feitas com o regulamentar concurso, que é aquilo a que se obriga a cumprir ao comum dos mortais.
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Também será pena perder esta oportunidade para dar agora alma a esta nossa praça. Mas será ainda pior, na nossa época, cometer tamanha atoarda que, para além de nos envergonhar a nós, envergonha os autores de um plano grandioso que foi uma lição para o mundo, já lá vão 250 anos.
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O que posso resumir nisto: Perderam pelo caminho a noção de eficiência que eles tinham. Com este projecto a praça não vai sequer pretender desempenhar a função de uma praça, mas sim de um santuário do consumo (exactamente nos termos de uma dessas grandes superfícies comerciais, que se pode fazer em qualquer lado).
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Os Espanhóis percebem mais de praças que nós; não é o fazer, é o levar a vida à praça, fazer também a vida na praça, mesmo que numa cultura um pouco diferente.
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E nós merecemos ter alí uma praça com a alma do povo que somos - e não daquele para o qual querem fazer dali apenas um postal .

Arq. Luís Marques da silva disse...

Nesta prova, Sr Dr, leva um "muito bom".
Parece-me excessiva esta discussão de "gostos".
Anteriormente dei uma ideia daquilo que, em meu entender, deveria ser a praça: recolocada na escala humana, utilizável, apetecida, adquirindo o status de "sala de estar" da cidade de Lisboa. Esta Praça deve voltar a ser o que foi o antigo Terreiro do Paço, ganhando dinamismo e fruição, sustentado em comércios e serviços de restauração de qualidade, devidamente colocados nos espaços dos edifícios das arcadas e utilizando estas últimas, para colocar esplanadas (lembra-me São Marcos).
Quanto ás árvores, é claro que devem ser lá colocadas; de pequeno/médio porte, pontuando as laterais da imensa placa central, criando duas zonas de estar,ou de contemplar, ou chamem-lhe o que quiserem, mas que permita o uso da Praça nos meses de Estio. Não ponham lá as árvores e depois, façam "posts" a criticar a panóplia de toldos e chapéus de Sol.
O desenho é importante? É, mas ainda mais importante é a dignidade da Praça, uma criteriosa escolha de materiais, materiais de alta qualidade, que dignifiquem o espaço, que não se degradem rápidamente e que se possam aguentar na Praça, fazendo história com ela; que não sejam do tipo "Polis", para deitar fora daqui a nada.
Podem colocar lageado de pedra na placa central, igual ao que está por baixo das arcadas.
Podem completar os passeios, nos lados Norte, Nascente e Poente, com os belos desenhos de uma bonita e bem colocada "calçada á portuguesa", ou outra solução similar, mas com igual nobreza e carinho.
Mais que isso, é inventar o desnecessário; é acessório.
É portanto de dignidade, simplicidade e humanidade que, a par da monumentalidade, que esta nossa Praça precisa. Sem excessos ornamentais, nem tiques de afirmação pessoal.

Anónimo disse...

Mas os tempos mandam que se façam lá mariquices, que é que querem?

Anónimo disse...

“Também por questões de escala, Bruno Soares pensa não ser de voltar a colocar no local as árvores que já lá existiram no final do séc. XIX: se fossem suficientemente imponentes tapavam os edifícios; se fossem demasiado pequenas ficariam ridículas numa praça tão grande."

Acho este argumento de um cariz técnico e precisão incríveis. POr aqui se vê as mãos e a competência técnica a que entregaram o projecto.

Saberá o sr arquitecto que existirão árvores de médio porte?

Meu deus. E é este senhor que tem a seu cargo o projecto.

J A disse...

Hummm....mas a situação que é um facto, não é resultado da tal "adjudicação directa"?
E o "debate público"...porque não se começou com esse mesmo?
Um bocadinho tarde para fugir com o rabo à seringa...?

Anónimo disse...

Parabéns, José Miguel Júdice, pela excelente tomada de posição.

Muito bem fundamentado, eis o que deveria ser uma análise que entidades como o IGESPAR não fazem (não por responsabilidade dos seus técnicos, mas porque são correias de transmissão do Governo).

Com este artigo, e o esforço de mais protestos, derrotaremos este atentado ao Terreiro do Paço.

Vou enviar mails para a CML, fico com os registos. Apoio as posições de J.M.Júdice, o projecto deve ser RECUSADO.

Façam o mesmo.

E consultem as convenções da UNESCO (Cracóvia e Veneza)- os actuais empedrados em calçada portuguesa nos passeios e rodeando a estátua, pela sua coerência e apesar de outra época
não devem ser destruídos.

Lesma Morta disse...

A monumentalidade da urbanística barroca apresenta uma cidade cenário, produzida para as grandes teatralizações político-religiosas do absolutismo, tais como a parada militar e em especial, a Entrada Real. Tal é o caso do Terreiro do Paço.
Ao contrário do que se afirma comummente, o urbanismo pombalino não é “um fenómeno original, elaborado a partir de planos que não tiveram fontes estrangeiras” pois o elemento central do Terreiro do Paço ou Praça do Comércio, vincula-se de forma inequívoca com aquilo que Chueca Goitia identifica como o elemento central do urbanismo francês do grande século, e que o barroco de toda a Europa, sem tardança, “adoptará com entusiasmo: a praça monumental construída para servir de quadro à estátua de um rei”, conjunção, no espaço da cidade, de uma preocupação com a “magnificência própria do urbanismo barroco” com o desejo de exaltação à monarquia absoluta, daí que o elemento cenográfico principal da praça barroca seja a estátua que exalta a figura do monarca, não se podendo de forma alguma perder em abstracções à sua leitura como o traçado geométrico pretendido nesta obra de recuperação. Tal, demonstra um total desconhecimento o que obviamente não pode ser de forma alguma aprovado pela nossa edilidade

Anónimo disse...

Quem estava à frente da Sociedade Frente Tejo à altura da adjudicação do projecto do TP?
Luís R.

J A disse...

Pois, pois....