03/07/2009

Santana Lopes: Vale a pena construir mais um túnel no centro de Lisboa?

Juntar numa mesma frase Santana e túnel só pode dar um resultado: polémica. Bastaram poucas horas sobre a formalização da candidatura do cabeça-de-lista do PSD à câmara de Lisboa para que a contestação tenha rebentado. "O dr. Santana Lopes está a propor a criação de uma via rápida subterrânea a passar pelo centro da cidade. É uma espécie de Eixo Norte-Sul no coração de Lisboa. Qualquer engenheiro de transportes independente sabe que isto é um perfeito disparate. É tudo o que não se deve fazer." É assim que reage Fernando Nunes da Silva, professor de urbanismo e transportes no Instituto Superior Técnico.

Ainda o dossier do túnel do Marquês não está encerrado - há uma auditoria do Tribunal de Contas em curso e 23 milhões de euros por saldar de diferendo entre a Câmara e o construtor - e já Santana segue em frente e anuncia que, se for eleito para Lisboa, vai fazer uma ligação subterrânea entre o Saldanha, a Fontes Pereira de Melo, o Campo Grande e o Campo Pequeno.

Para Fernando Nunes da Silva, há um mérito: "Pelo menos tem uma vantagem. Está igual a si próprio. Primeiro anuncia, só depois estuda". O especialista considera que o túnel do Marquês foi um disparate, o próximo é "a continuação do erro". "Em vez de desviar o trânsito para as vias circulares de Lisboa - o Eixo Norte-Sul e a Segunda Circular - atrai o tráfego para o centro", critica.

O técnico em transportes diz que o túnel do Marquês de Pombal trouxe uma grande melhoria, mas apenas para os habitantes de Cascais. Em Lisboa não resolveu nada, em particular os dois pontos críticos: a Fontes Pereira de Melo e a Braamcamp.

"Como a avenida da Liberdade é a única opção entre o rio e o outro lado da cidade", os automóveis chegam ao fim da artéria e permanecem "porque não há capacidade de escoamento. "Não é o fluxo de carros, é o constante pára e arranca a subir que torna a avenida da Liberdade a mais poluída do país". Um segundo túnel no Saldanha está longe de ser a solução. "É um desperdício de dinheiro para resolver problema nenhum."

Nos anos 80, o projecto da câmara de Lisboa para o Saldanha visava tornar "o local num espaço de fruição, com passeios largos e arborizados, locais de estar e apreciar uma das mais desafogadas vistas da cidade", lembra Manuel João Ramos, presidente da Associação de Cidadãos Auto-Mobilizados (ACA-M). Vinte anos depois, é uma zona essencialmente rodoviária e, com as obras do metro, de difícil movimentação dos peões. Um novo túnel significaria ainda mais trânsito. "Não vejo outro nome para isto a não ser irresponsabilidade", diz.

José Manuel Viegas, do Instituto Superior Técnico, lembra que este túnel já estava previsto no plano de 2005 sobre a mobilidade em Lisboa. "Considerámos que era uma opção que merecia ser estudada", refere, acrescentando que ainda hoje "vale a pena olhar para isto". Porém, para o especialista, caso Santana ganhe, a primeira fase do mandato deve ser aproveitada para estudar. E só depois decidir uma eventual construção.

"À partida, a vantagem seria tornar aquele eixo central mais fluido", defende. A avenida de Berna era, na altura, a artéria mais congestionada de Lisboa. Uma passagem subterrânea permitiria resolver cruzamentos complicados da av. da República, como o da João Crisóstomo. "Era bom ter sido feita ao mesmo tempo que as obras do metro; permitiria poupar muito dinheiro. Agora o buraco para o metro já está fechado". Sobre o excesso de automóveis que um novo túnel poderá trazer, responde que essa questão só se resolve com menos estacionamentos.

O cruzamento com o metropolitano pode ser um problema. As obras do túnel do Marquês estiveram paradas durante sete meses devido à providência cautelar interposta por Sá Fernandes - por ausência de um estudo de impacte ambiental e porque poderia prejudicar estruturas do metro e do Aqueduto das Águas Livres. Agora, o túnel do Saldanha que Santana projecta poderá ter "problemas grandes por causa das estruturas do metro. Ainda por cima, agora com a extensão da linha. Santana vai bater outra vez com a cabeça no metro", defende Manuel João Ramos.

"O tráfego na Fontes Pereira de Melo e na avenida da Liberdade nunca esteve tão mal. Se o túnel do Marquês tivesse vindo resolver o problema do trânsito não era preciso outro". Para o presidente da ACA-M, a construção de um túnel tem um "efeito bola-de-neve" porque há uma "duplicação de via, logo uma duplicação de oferta. É o que se chama tráfego induzido - a oferta traz procura." E quanto mais procura, mais trânsito, mais túneis. Manuel João Ramos afirma que ao túnel do Saldanha seguir-se-ão outros e que a hipótese já é falada no Técnico: "Fala-se de outro túnel no Campo Grande, com a alameda das Linhas de Torres." O tal efeito bola- de-neve, segundo Manuel João Ramos, resultaria noutra passagem subterrânea no Campo Grande e com a saída da António Augusto Aguiar ainda outro que desembocaria no El Corte Inglés.

In I
(Os negritos são meus)

30 comentários:

Arq. Luís Marques da silva disse...

Há algum estudo a sustentar esta ideia?
Quem são os técnicos que o suportam?

Anónimo disse...

Concordando ou não,
"Qualquer engenheiro de transportes independente sabe que isto é um perfeito disparate."

Qualquer especialista em transportes independente, o que não seria era certamente tão incisivo.

Anónimo disse...

Morando na zona da Av. António Auguso de Aguiar, e sendo de inicio contra a construção do túnel, tenho de confessar que o mesmo se tem revelado muito útil quando me desloco para as Amoreiras, Ponte 25 de Abril ou Auto-estrada de Cascais. De forma idêntica acho útil em sentido inverso. É apenas a visão de um morador da cidade.

Anónimo disse...

Só haverá duplicação de oferta se existir de facto duplicação de oferta. O tunel sob o Saldanha seria a solução para fechar a Praça ao transito individual. Do mesmo modo, na Av. da República as faixa de rodagem centrais poderiam ser reduzidas com a inclusão de ciclovias levando ao alargamento e ajardinamento dos passeios entre as faixas laterais e centrais.

Anónimo disse...

Este Santana Lopes... Não sei se me faz mais rir ou chorar.
A sua candidatura tem pelo menos um mérito: será um bom barómetro do estado de sub-desenvolvimento mental da população de Lisboa.

Anónimo disse...

Obviamente que na rua onde passa o túnel, melhorou bastante a circulação. Mas não se fazem túneis para isso. Ou melhor, fazem-se. Em Portugal, claro. A filosofia é: quanto mais carros entrarem em Lisboa melhor. Até porque depois há alguém que vai ganhar dinheiro com os parques de estacionamento subterrâneos. Que por sinal são os mesmos que ganham com os túneis. As empresas de construção civil. Que feliz coincidência! E entretanto vão-nos destruindo a cidade, impedindo a circulação subterrânea da água nos solos, bloqueada por estas construções, sendo consequência disso o estado priclitante das fundações dos prédios da baixa. Já para não falar nas inundações e dos carros que caiem em crateras em algumas ruas. Se querem mais disto votem em Pedro Santana Lopes.

Anónimo disse...

este santana deve ter um complexo qualquer com buracos...
ainda a cml não se viu livre do buraco que ele e o amiguito dele criaram, já quer um novo...

Anónimo disse...

Santana Lopes não colocou "a passagem desnivelada" como prioritária no seu Programa.
De novo começa a grande campanha de deturpação dos Media...
Todas as prioridades anunciadas no Jardim do Arco do Cego foram OMITIDAS pela imprensa, e neste blogue parece que também ...
E disse que só avançaria com a "passagem desnivelada" se houvesse dinheiro, e na segunda fase do mandato.
Não simpatizo à partida com a ideia dessa "passagem", mas acho que deve ser discutida seriamente. Lembrem-se do que diziam do túnel do Marquês...
Mas Santana também disse, além das prioridade silenciadas, que é CONTRA a Soc. Frente Tejo ( T. Paço, Contentores, Gare Alfama, etc etc ), abandono do Aeroporto Portela, 3ª Travessia, que notoriamente implicam a DESESTRUTURAÇÃO de todo o trânsito de Lisboa.
E nestas questões, fundamentais, concordo em absoluto com Santana Lopes. E mais, não vi até hoje nenhuma candidatura ou força política da cidade com essa posição tão clara.

Julio Amorim disse...

"Pelo menos tem uma vantagem. Está igual a si próprio. Primeiro anuncia, só depois estuda"

Lisboa está de parabéns! Com candidatos destes, a fasquia já está no lugar devido. O salto em altura para minhocas...já começou.

Anónimo disse...

E porque será que o especialista do IST, José Manuel Viegas, não teve direito a negritos nenhuns???

Casquint disse...

Quanto aos túneis de Lisboa, há duas categorias.

a) Os que não foram feitos por Santana, e são ÓPTIMOS.

b) Os que foram feitos por Santana, e são PÉSSIMOS.

Anónimo disse...

bah, a equação é simples:

a) + b) = c), ou seja, um monte de contas por pagar, muitos outros buracos para quem vier depois!!?

Agora imaginem o que proporia PSL se antes fosse candidato às legislativas - que estranho puzzle, quebra-cabeças não teríamos...

Anónimo disse...

«Os negritos são meus» não será pedofilia?

Lesma Morta disse...

Começaram as opiniões marcadas sobre o aspecto partidário e não técnico que é o que se pretende. Goste-se ou nao de Santana Lopes, goste-se ou não do tunel o facto é que quem se lembra do terror que era o Marquês à hora de ponta, só lhe pode estar agradecido. Em relação à via sobre a cidade, honestamente também me parece escusada.

Anónimo disse...

engraçado como as promessas do santana ou são "para se ver depois" ou são da responsabilidade do Governo e não camarária.

novamente, e como sempre, uma mão cheia de nada e muito show off

medidas desgarradas enenhuma estratégia

nada surpreendente. surpresa, só mesmo quem ainda acredita.

Anónimo disse...

Tanto foco na politica e tão pouco na proposta em causa. Será que vivem mesmo em Lisboa ?

Diogo Moura disse...

Acho engraçado quando se fala sem se saber.
Começo pelo Eng. Nunes da Silva. No Plano de Mobilidade para Lisboa, editado no mandato de Santana Lopes e do qual Nunes da Silva era Coordenador de Desenvolvimento de Cenários de Futuro, defende exactamente a construção de um túnel no Saldanha. Engraçado como agora vem defender o contrário. Politiquices...

Na apresentação da candidatura, Santana Lopes mostrou o projecto para o tunel e reafirmou que o mesmo contemplava a nova linha de metro e que não haveria implicações.
Como diz o Jorge e bem, vamo-nos centrar nas ideias e não na discussão política.
Todos criticaram as obras no Marquês, mas actualmente o ar naquela zona voltou a ser respirável, já para não falar na poluição sonora que desceu drasticamente.

Pior está a Av. Liberdade e a Baixa com os corredores BUS que inventaram.
Quem quer ir para a Baixa tem um meio de transporte fantástico: o METRO.
Os autocarros que passam na Baixa não terminam nesta zona, o que faz com que os mesmos apenas ali passem para fazer percurso, quando se poderiam encontrar alternativas.
Na Baixa não basta tirar carros mas carreiras inúteis (passageiras e que não desenbocam na Baixa) e dar prevalência ao uso do Metro.

Diogo Moura disse...

O comentário efectuado por Casquint é um absurdo completo:

a) Os que não foram feitos por Santana, e são ÓPTIMOS.
b) Os que foram feitos por Santana, e são PÉSSIMOS.

Vejamos: os tunéis do Santana, diga-se Marquês de Pombal e Rêgo e o desnivelamento no Baptista Russo são os únicos que não dão problemas estruturais.

Os de João Soares: João XXI, Campo Grande, Campo Pequeno, para além dos problemas de vária ordem, os mais gritantes são os estruturais.

Ou o nosso caro colega não reparou que sempre que caem umas gotas de água, são estes os tunéis que fecham porque foram mal construídos?

Filipe disse...

Diogo Moura, quanto aos seus comentários sobre autocarros, só pode estar mesmo a gozar não é?

Enumere-me as carreiras que apenas passam pela Baixa, i.é. só lá têm paragens e não terminais, e indique-me quais as opções para cada uma delas.

Voltou o blogue anti transportes públicos.

Lesma Morta disse...

Caríssimo Filipe.
Não estou em defesa do Diogo Moura até porque definitivamente ele não necessita, mas parece-me que o que se retira do comentário dele é, não a abolição da rede de transportes públicos como o Filipe interpreta, mas a criação de alternativas úteis e credíveis que passariam por se repensar toda a politica de transportes da zona metropolitana e não apenas de Lisboa, para depois sim se libertar certas zonas da capital ao transito automóvel, tal como o é a Baixa e os centros históricos. Começar a casa pelo telhado é algo muito português e depois dá tudo borrasca.

Abraço

Jorge Santos Silva

Diogo Moura disse...

Caro Filipe,

Jamais fui e serei contra os transportes públicos. O que afirmo e continuo a afirmar é que se deve dar prevalência à utilização do metro em detrimento dos autocarros na zona da Baixa.
Mais importante é activar a Autoridade Metropolitana dos Transportes e não ser apenas um projecto no papel.

E para além de não ser anti-TP, este blogue não é meu mas sim de mais de 100 apeixonados por Lisboa

Xico205 disse...

Carreiras da Carris com terminal na Baixa:

702 Restauradores
709 P. Comercio
711 P. Comercio
714 P. Figueira
759 Restauradores
37 P. Figueira
60 Martim Moniz
E15 P. Figueira
E18 P. Figueira

assim de repente sem pensar muito não estou a ver mais...

Cada um que tire as suas interpretações.




O tunel do Baptista Russo já estava projectado desde a Expo, ora desde 1998 pelo menos! Não foi invenção do Santana.

Dos tuneis do Santana o unico util foi o do Rego!

Pois o Santana saiu-se bem com os tuneis, pena não se ter saido bem com as piscinas!!!

Xico205 disse...

Devia-se acabar os autocarros para a Baixa, maneira que a população da Ajuda, Restelo, Alcantara, Campo de Ourique, Santos, Xabregas, Beato, Madre Deus, Marvila, Pena, etc, que vá a pé!! Não é sr. Diogo Moura?!!!

Xico205 disse...

Enganei-me não é o E18, mas sim o E12.

Anónimo disse...

Tenho muitas dúvidas que alguém decida vir a Lisboa porque existe o túnel do Marquês. Não me parece que um túnel onde quer que seja motive uma deslocação para o local. Parece-me sim que facilita e muito a fluidez de tráfego nesse local.

Unknown disse...

Se o objectivo do túnel é reduzir as faixas à superficie, aumentar o número de faixas BUS e triplicar a largura dos passeio (a largura actual é escandalosamente reduzida), o túnel até pode vir a ser uma boa opção, mas estas medidas podem-se tomar sem o túnel, reduzindo o nº de carros que ali passam (claro que esta redução de carros é o telhado de uma casa relativamente fácil de construir).

Mas aí lá voltamos às discussões inúteis de soluções que já existem, mas que cá têm que ser discutidas como se fosse novidade mundial. Nunca vamos sair disto, esta cidade nunca será para as pessoas.

Anónimo disse...

Por aqui se ve que o Santana eh inteligente. Pela primeira vez na minha vida vou votar PS.

Anónimo disse...

Depois queixem-se de isto e aquilo! Ou PS ou PSD!!!!!!!!!

Anónimo disse...

Sr. Diogo Moura

sempre tão informado e não sabe que a autoridade metropolitana de transportes já foi nomeada e já funcio há cerca de um mês?

Anónimo disse...

acabar com autocarros para a baixa?!

mas isto agora é o 8 ou 80?

alternativas sim. eliminar nunca.não faz o minimo sentido.