"As paredes do Bairro Alto escondem um museu, efémero. O Movimento Acorda Lisboa (MAL) fez um levantamento das 'obras de arte' e destaca na poluição visual os graffiti 'que são verdadeiramente artísticos'.'Recolhemos ao todo cerca de 82 peças, e ficaram reunidas no portfolio do museu 33 obras de 33 artistas, nacionais e estrangeiros', contou à Lusa Daniel Oliveira do MAL, para quem não se coloca a questão de se graffiti é ou não arte.'Graffiti é arte, ponto final. É um meio que acaba por estar profundamente vivo, com diferentes estilos, expressões e artistas, pertencentes a diferentes gerações. Há vários meios de aplicação e diferentes mensagens. No Bairro Alto vemos isso tudo junto […]'. No site do museu, www.museuefemero.com, está disponível para download um mapa, onde estão sinalizadas todas as obras, bem como um podcast, com explicações sobre as mesmas [...]". in Lusa, 11 de Agosto de 2008
Uma rápida visita a este museu virtual e o que vemos? Basicamente, o costume - fachadas de azulejo e cantarias desfiguradas, por certo marca do respeito que estes "artistas" nutrem pelo suporte das suas "obras de arte" e pelas demais "obras de arte" produzidas pelos seus pares, dado que não raras vezes elas se sobrepõem como quem disputa território. Foto sim, foto não, surge a sempre útil legenda panfletária - estas obras, lê-se, contêm "traços de intervenção político-social". O facto de serem um acto de vandalismo e, neste caso, um acto de vandalismo em zona histórica, parece ser irrelevante: "Graffiti é arte, ponto final" e, portanto, não se fala mais nisso.
Este tipo de discurso de auto-legitimação não é novo, mas é mais um fruto, há muito anunciado, de largos anos de inacção institucional. E não espantará muito que, um destes dias, esta "arte" seja trazida ao colo de forma declarada.
A 8 de Maio de 1961, Raul Lino publicou, no âmbito da sua longa e regular colaboração com o Diário de Notícias, um artigo a que deu o título Não é artista quem quer, o mesmo que o extinto jornal O Independente deu, em 2004, à antologia dedicada ao arquitecto na colecção de textos de imprensa, Horas Extraordinárias. O contexto do artigo era outro, mas é também aqui aplicável. Se fosse vivo e voltasse hoje a escrever que "não é artista quem quer", Raul Lino seria certamente crucificado na praça pública, em particular por todos aqueles cujos dotes artísticos saíram na saudosa Farinha Amparo. Até porque criadores atormentados pela dúvida sobre a valia do seu trabalho não têm lugar nos tempos que correm: hoje, é artista quem quer, mesmo que o talento lhe falte. As ruas de Lisboa e, em particular as do Bairro Alto, mostram-no bem.
Uma rápida visita a este museu virtual e o que vemos? Basicamente, o costume - fachadas de azulejo e cantarias desfiguradas, por certo marca do respeito que estes "artistas" nutrem pelo suporte das suas "obras de arte" e pelas demais "obras de arte" produzidas pelos seus pares, dado que não raras vezes elas se sobrepõem como quem disputa território. Foto sim, foto não, surge a sempre útil legenda panfletária - estas obras, lê-se, contêm "traços de intervenção político-social". O facto de serem um acto de vandalismo e, neste caso, um acto de vandalismo em zona histórica, parece ser irrelevante: "Graffiti é arte, ponto final" e, portanto, não se fala mais nisso.
Este tipo de discurso de auto-legitimação não é novo, mas é mais um fruto, há muito anunciado, de largos anos de inacção institucional. E não espantará muito que, um destes dias, esta "arte" seja trazida ao colo de forma declarada.
A 8 de Maio de 1961, Raul Lino publicou, no âmbito da sua longa e regular colaboração com o Diário de Notícias, um artigo a que deu o título Não é artista quem quer, o mesmo que o extinto jornal O Independente deu, em 2004, à antologia dedicada ao arquitecto na colecção de textos de imprensa, Horas Extraordinárias. O contexto do artigo era outro, mas é também aqui aplicável. Se fosse vivo e voltasse hoje a escrever que "não é artista quem quer", Raul Lino seria certamente crucificado na praça pública, em particular por todos aqueles cujos dotes artísticos saíram na saudosa Farinha Amparo. Até porque criadores atormentados pela dúvida sobre a valia do seu trabalho não têm lugar nos tempos que correm: hoje, é artista quem quer, mesmo que o talento lhe falte. As ruas de Lisboa e, em particular as do Bairro Alto, mostram-no bem.
9 comentários:
Mas como se sabe, nem tudo o que aparenta é...
E arte não é todo o rabisco que se faz.
E a quase totalidade que encontramos no Bairro Alto é puro vandalismo e dano em propriedade alheia e não arte.
A diferença entre o que lá está e frases procas na porta de uma casa de banho é nenhuma.
Gostava de ver se o autor da peça visse a sua casa toda rabiscada com "arte" desta...
Ora bem e é a utilização abusiva do epíteto de artista que permite os gastos absolutamente astronómicos com "obras de arte" que são puro gozo com os pacóvios; veja-se a fonte do topo do Parque Eduardo VII.
Nos "graffitis", o que mais me choca é a liberdade de quem "graffita" não acabar, quando a liberdade do dono da parede do edifício começa, ou seja, o último vê o seu património depauperado e vandalizado, mesmo que o não queira sem opção de escolha.
Na maior parte dos casos, somos nós todos que perdemos quando são os monumentos e edifícios públicos a serem pintados...
A arte pela arte, enquanto princípio alienado, foi em tempos razão para variados manifestos e reflexões.
Reavivar uma discussão filosófica deste calibre, debaixo de premissas tão objectivas é indiscutivelmente um exercício estéril.
A arte (seja qual for) define-se na sua extremidade intangível: o espectador/leitor. O receptor, portanto.
O artista quer público. No bairro alto o público é fácil, irreverente e abunda. A obra nasce.
E ela não morre no segundo a seguir, porque o local o acolhe.
Ter um bairro histórico cheio de gatafunhos/obras de arte, sejam picassos, basquiats ou o gang da esquina, depende dos seus frequentadores.
Seja como for, local acolhedor, público “tá-se bem”, arte ou não; um edifício é uma propriedade, a propriedade tem dono e a sua adulteração por terceiros chama-se vandalismo. Portanto, dentro das fronteiras definidas para uma discussão pragmática – graffiti/edificado -, o resto é conversa.
Não me espantaria nada, no entanto, que nesta Lisboa órfã, o capricho de uns fosse, face aos direitos dos demais, elevado a interesse público. Mas também se pode interpretar estes fenómenos ao contrário, como alguns já adiantaram neste blog: laisser faire, laisser passer. É a cidade a respirar e a definir-se...
Também não vejo porque não. A cidade é dos seus habitantes. E existem muitos tipos de cidades e de bairros por esse mundo fora. Tudo depende do que queremos.
Que droga é que estes gajos tomam? também quero!
Com os meninos "grafiteiros" é tolerância zero...com arte ou, sem arte. Quer pintar, compra uma tela, ou uma casa...e pinta. O que esta malta precisa é mão de ferro, pois de pantufas...vamos ficar todos "pintados".
JA
a tolerância é muita gira quando só toca no quintal dos outros...
Os grafitti podem ser arte. Uma visita à Tate Modern poderá servir de ilustração.
Alterar-se a imagem de um local sem o consentimento do seu proprietário é, sem dúvida nenhuma, vandalismo. A atribuição de "arte" a este acto é apenas uma justificação do injustificável.
No que respeita aos espaços públicos, estes são de todos sim senhor, mas há falta do consenso de todos, a alteração da imagem do espaço público deve ser decidida por um orgão eleito e representativo desses mesmos "todos" ou seja, os órgãos políticos locais, sejam juntas de freguesia ou câmaras municipais.
E arte!? claro que é arte.
Para os cegos:-)))))))
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