28/02/2009

Moradia com azulejos de Almada foi comprada por filhos do empresário "Bibi"

In Público (28/2/2009)
Ana Henriques e José António Cerejo

«A moradia do Restelo onde a Câmara de Lisboa embargou, na semana passada, a remoção de vários painéis de azulejos de Almada Negreiros foi adquirida em Janeiro por uma empresa de que são donos os filhos de Vítor Santos - um construtor civil conhecido também por "Bibi", que tem dívidas ao fisco superiores a um milhão de euros e se destacou há alguns anos pelas ligações ao Benfica.
Nos termos da escritura da transacção, a compra foi feita por 1,75 milhões de euros, mas, ao contrário do que foi noticiado, não consagra quaisquer direitos dos antigos proprietários (a empresa Principado do Restelo) em relação aos azulejos de Almada Negreiros. A ideia de que foram os vendedores que ordenaram a retirada dos painéis começou a circular no próprio dia do embargo, desconhecendo-se qual a sua origem, muito embora ela beneficiasse apenas os novos proprietários.
O PÚBLICO tentou várias vezes contactar Artur Jorge Santos e José Domingos dos Santos, os filhos de "Bibi" em nome dos quais o empresário pôs parte das suas empresas quando começou a ter problemas com as Finanças, mas nunca foi possível chegar à fala com eles. A sociedade que adquiriu a moradia e de que eles são os únicos sócios é a Soindol, que tem sede no mesmo edifício em que estão instaladas várias empresas da família, entre as quais a Euroalfragide. Esta última esteve em Novembro passado no centro de uma polémica relativa à instalação do Tribunal da Amadora num prédio de que é proprietária. As condições leoninas do negócio, a falta de condições do edifício (que seria arrendado ao Estado) e a relação da empresa com Vítor Santos foram noticiadas pela revista Visão, tendo depois o ministro da Justiça decidido cancelar a operação.
A escritura do imóvel da Rua de Alcolena, que a Soindol pretende demolir para construir uma nova moradia, refere que os intervenientes exibiram uma "listagem do Igespar" que, alegadamente, confirma o facto de a rua em causa não estar situada em "área abrangida por servidão administrativa do património cultural" - o que não é verdade, dado estar inserida na zona de protecção de vários imóveis classificados, incluindo um monumento nacional. O director do Igespar confirmou isso mesmo na semana passada e disse que o instituto nunca foi contactado pelos proprietários.
Vereador Salgado diz que a venda dos painéis em conjunto com a casa facilita a protecção dos azulejos »

Ah, grande CML, já escudada na 'protecção dos azulejos', como se fosse isso que estivesse em causa. Clareza nas tomadas de posição, defesa da cidade, governança de excelência. Isso é o que se espera da CML. Aguardemos.

3 comentários:

Anónimo disse...

Fala-se muito nos azulejos e nada da arquitectura da moradia de António Varela,que pelos vistos terá ordem de demolição.
Em entrevista,em 1970,Francisco Keil do Amaral dizia:
" A arquitectura moderna é uma coisa muito recente,houve um grupo que começou,o primeiro foi o António Varela,depois o Carlos Ramos,o Cotinelli Telmo,o Pardal Monteiro,o Cristino..."
Será que a CML se interessa por História da Arquitectura ?

António Muñoz

Anónimo disse...

Tem toda a razão! É uma moradia que vale só por si, mas que forma um conjunto "inseparável" com os paineis.....

JA

Anónimo disse...

Este pais está realmente podre com tanta corrupção. Escrevem neste comentário que a casa foi comprada pelos filhos desse senhor Bibi que tem tantas dividas ao fisco e vai pondo as firmas em nome dos filhos e assim se livra de algumas penhoras, mas ninguém fala aqui do senhor que adquiriu a moradia em 2005 e depois de a passar para nome de outra empresa para fugir a dividas astronómicas ás finanças e falamos de quantias de cerca de 1 milhão de Euros, a moradia tinha na certidão 1 arresto e algumas penhoras, agora pergunto eu, será que o Estado com esta transacção recebeu a sua parte??
Por acaso foi feito por"amigos", pois esse senhor Bibi é amigo do tal senhor que se fazia passar por dono da moradia, que já não devia ser dele há muito tempo, ainda deve à primeira proprietária. ao banco pela compra em 2005 e ás finanças por nunca ter pago IMI.
Se fosse um cidadão qualquer com uma divida de 2ou 3 mil euros ao fisco já tinha perdido o imóvel. É triste