07/02/2009

Por favor, não culpem os automobilistas.

Escrevo na sequência do post abaixo sobre a Avenida da Liberdade.
Independentemente do alarmismo da afirmação de ser a Avenida da Liberdade a mais poluída da Europa, que não deve corresponder á verdade, é certo que circulam veículos privados a mais pela cidade.
Mas por favor, não culpem os automobilistas, que somos (quase) todos nós, pelo estado caótico a que chegámos.
Qualquer um sabe que uma cidade equilibrada passa por uma oferta de transportes públicos, passe a expressão, bons, bonitos e baratos. Resolvida esta questão acabam-se as polémicas.
Qualquer um sabe, menos os decisores públicos, cuja surdez ou ignorância começam a parecer suspeitas. Eles, eleitos ou nomeados, que são pagos por todos nós para cumprir um serviço que consiste em resolver a contento a mobilidade interna do cidadão. Um direito universal, diga-se de passagem.
Então porque não resolvem?
Ninguém tenha dúvidas que a indústria e o comércio automóveis bem como o dos combustíveis se sobrepõem ao interesse público e impõem a sua lei. É a eles que interessa o estado caótico em que se vive e só não são combatidos porque têm cumplicidades a todos os níveis, incluindo no aparelho de Estado.
Se não, vejamos.
Quando nós temos em Lisboa uma entidade que regula o trânsito, outra que fiscaliza, outra que manda nos transportes ligeiros, outra nos pesados, outra nos táxis, outra no metropolitano, outras na sinalização, outra que gere o estacionamento de superfície, outra o subterrâneo, outra que projecta, outra que aprova, outra que executa, outra... e depois disto tudo, ainda vêm os governos a debitarem a seu belo prazer leis de excepção para as grandes infra-estruturas, e uma autoridade metropolitana de transportes sem qualquer conteúdo, será que isto tudo é apenas fruto de uma grande insanidade mental a pedir o internamento de todos estes (ir)responsáveis, ou trata-se qualquer outra coisa ainda pior?
Seja o que for, o caos está á vista de todos e tem soluções. E tem responsáveis a quem pagamos (e muito) para resolverem estes problemas .
Se não o fazem, porquê continuar a sustentá-los?

11 comentários:

Anónimo disse...

Esta questão é delicada. Se os automobilistas não são culpados, também não são inocentes. O dever de cada pessoa é fazer uma reflexão crítica da sociedade em que está inserida e *agir* em conformidade. Se os grupos de pressão que são as petrolíferas ou as construtoras de automóveis conseguem ter o sucesso que têm é porque as pessoas seguem acriticamente o modelo que lhes é proposto.
Não é possível esperar-se que tudo esteja a funcionar na perfeição para mudar, sendo antes a própria mudança da cada pessoa potenciadora de melhoria, neste caso dos transportes públicos.
E os transportes públicos podem não ser perfeitos, mas também não são terríveis. Eu sei porque os utilizo.

Cumprimentos

Anónimo disse...

OS transportes públicos da capital não são de tal maneira maus que justifiquem a adesão ao automóvel que hoje se verifica. Há muitas zonas da cidade que contam com um serviço de transportes públicos muito bom e, mesmo assim, muitos cidadãos prefeem utilizar o seu automóvel para se fazerem transportar.
Que justificação tem, por exemplo, uma deslocação de automóvel de uma pessoa que reside em Alcântara e trabalha no Areeiro ou de quem mora no Barreiro e trabalha em Xabregas?

Nunca se vai chegar ao momento em que todos os cidadãos dizem: "Ah, temos uma rede de transportes públicos excelente e que me serve perfeitamente". Porque isso é uma mentira, porque todos temos necessidades diferentes de transporte. E se se quiser dar ao cidadão uma boa rede de transportes o melhor que se tem a fazer é dar um automóvel a cada um! Mas isso, como se depreende, é totalmente insustentável a todos os níveis.
Nas mudanças que tem havido na Carris, há um grupo que as aplaude, há outro grupo que as condena. E a cada um de nós já aconteceu certamente que tenham existido mudanças que nos agradassem e melhorassem a nossa deslocação, outras que nos foram indiferentes e outras que não nos agradaram pois meteram em causa um modo de deslocação que já vinhamos a utilizar há bastante tempo.

É um lugar comum dizer que os transportes públicos são maus e ineficientes. Não são dos melhores, mas não são tão maus quanto se quer pintar.

Anónimo disse...

Dizer que tudo fica resolvido com os transportes públicos é, de facto, um exagero. Não foi isso que eu quis dizer. Mas continuo a pensar que TP gratuitos para estudantes e terceira idade, como existem no Brasil (isto é um mero exemplo), ajudariam muito. TP quase gratuitos para todos teriam uma adesão imensa e resultados surpreendentes.
Também quis realçar que o assunto é demasiado vasto e complexo para ser deixado á boa vontade dos automobilistas. Naturalmente que muitos, se os deixarem, irão até onde puderem. Mas o mesmo se poderá dizer de quase todas as actividades humanas, quando a autoridade falha, não é?
Mas essas são apenas duas partes do problema. A verdadeira questão é de conceito. Da perspectiva com que os responsáveis encaram este problema. Da vontade política para assumir as soluções.
É que a mobilidade e com ele o trânsito, como quase tudo neste momento, são, oficialmente, considerados uma mercadoria e não um direito do cidadão, um serviço a prestar pelo Estado.
E portanto há que optar: ou querem melhorar a vida da maioria do cidadão ou querem dar a ganhar dinheiro a alguns. Está provado que as duas coisas são incompatíveis.

Abraço.

Anónimo disse...

Por erro meu o comentário anterior saiu anónimo. Peço desculpa.

Anónimo disse...

A primeira medida poderia ser obrigar todos os residentes no concelho de lisboa a andarem só de transportes públicos. Ia ser lindo!

Anónimo disse...

O problema não são os residentes no Concelho de Lisboa... Esses são uma gota no oceano de veículos que diariamente entram na capital, vindos de toda a periferia.

Do que já vi sobre o assunto Transportes Públicos, é minha convicção que não é possível ter um serviço bom e barato. Alias, basta ver a situação de descapitalização das empresas de TP (com excepção da Carris, que tem o longo braço do Estado a ajudar). Se quisermos serviços de excelência, teremos te ter uma verdadeira contratualização de serviço público, com direitos e deveres dos operadores e do poder central e local. A consequência provável é que teremos de pagar por isso. Só vejo duas maneiras:

1 - Aumento significativo do valor do passe social (actualmente não cobre os custos de operação), ou vedar o acesso a este para pessoas com rendimentos acima de um determinado valor;

2 - Não encarecer o preço do TP para quem o usa directamente, mas colocar o país inteiro a pagar os TP das grandes cidades (via impostos)

Miguel Carvalho disse...

>a Avenida da Liberdade a mais poluída da Europa, que não deve corresponder á verdade

Devem ter sido os ambientalistas radicaloides que inventaram a notícia. De certeza absoluta.

Anónimo disse...

Não deve haver ideia mais estúpida do que pensar que são as pessoas que vivem fora e trabalham em Lisboa que atulham a cidade de trÂnsito o dia todo. Quem trabalha fora chega cedo, passa o dia no trabalho e só regressa ao final da tarde ou noite!
Se esses fossem os culpados, então entre as 9 da manha e as 6 da tarde Lisboa seria uma cidade sem carros.
Ca Burros!!!!!!!!!!!!

Anónimo disse...

Os transportes gratuitos (ou quase) não servirão de nada se não funcionarem. O preço não e o unico factor para a sua escolha e, provavelmente, não será sequer o factor mais importante.

Os TP têm de ser efectivamente um alternativa para as deslocações na e para a cidade, como meios confortáveis, frequentes e de grande cobertura.

Anónimo disse...

Vou dar o meu exemplo:
eu trabalho fora de Lisboa, e sempre que necessito de me deslocar a Lisboa, a minha primeira escolha é o metro.
se o meu destino me permitir vou de metro, caso não seja possível opto por levar o meu carro.

o porque da minha escolha:
eu de metro sei que chego a estação e no máximo em 5 minutos estou dentro de um metro em direcção ao destino, não vou apanhar transito e vou lá chegar rapidamente.

de autocarro não sei qual o autocarro que serve a zona para onde vou, qual a paragem onde devo fazer transbordo caso seja necessario, a frequência de passagem, o autocarro pode apanhar transito etc etc.
acabo por demorar mais tempo que se for de carro.

de eléctrico é a mesma coisa que o autocarro com a agravante de o eléctrico poder encontrar um carro mal estacionado e não conseguir passar.

Soluções:
mais corredores BUS para aumentar substancialmente a velocidade de circulação dos Transportes Públicos e poderem "bater" o veiculo de transporte privado.

Divulgar melhor as carreiras de autocarros e eléctricos e suas interligações.

ordenar o estacionamento para que não existam carros a bloquear as linhas de eléctricos.

Unknown disse...

Uma opinião:

Os transportes funcionam!


Experimente vender o seu carro e andar a pé.

Vai descobrir que os transportes públicos até funcionam.

Se não conseguir eu explico-lhe:
Compra o passe e vai ver que:
- O seu dia rende muito mais pois tem muito, mas mesmo muito menos stress!;
- Estranhamente, em termos físicos, a barriga tende a desaparecer e até vai conseguir subir escadas a pé;
- não se atrasa;
- não gasta dinheiro na revisão;
-O seguro do carro não sofre penalizações por acidentes;
- etc...

estou a falar a sério!

Vivo, estudo, trabalho e levo os filhos ao infantário em Lisboa e não percebo vários dos comentários!

Transportes públicos:
- há horários na net;
- O preço é reduzido quando comparado com parquímetros;
- A frequência deve rondar no máximo os 15 a 20m até à próxia passagem;
- Pode meter conversa com outros cidadãos;
- ...

Dúvidas?
Não tenha, o que lhe digo é real!

dimaspestana@ist.utl.pt

Os transportes funcionam!