Assim, temos dois problemas: um, o trânsito causado pelo movimento pendular das populações, dois a qualidade do ar.
O primeiro problema resulta - a meu ver - da expulsão de lisboetas da cidade para os subúrbios, que ocorreu nos últimos 20-25 anos: passámos de uma população de quase 900.000 pessoas em 1981, para pouco mais de 500.000 em 2001, agravando os movimentos pendulares, porque - até há poucos anos - os empregos mantiveram-se dentro da cidade. Como o ritmo de construção de novas urbanizações nos subúrbios não foi acompanhado pela reestruturação dos transportes públicos (e seria possível?), a classe média foi forçada a utilizar o veículo particular.
Assim, em síntese, vemos que os lisboetas foram forçados a sair da cidade e a utilizar o seu veículo próprio, o que agravou o tráfico pendular.
O segundo problema resulta em parte do primeiro (se há mais carros a entrar na cidade, o ar é pior), mas também do facto de a expansão da rede de transportes públicos ter sido pensada para as pessoas que vivem fora da cidade, e não para as que vivem dentro dela (incentivando as pessoas a continuar a sair de Lisboa): um bom exemplo disto é a expansão da rede de metro, que chegou à Amadora e a Odivelas sem chegar a Benfica, às Amoreiras, a Alcântara e a qualquer ponto da zona ocidental da cidade.
Temos, por outro lado, de nos questionar sobre as consequências da introdução de portagens à entrada de Lisboa:
- É inegável que, num primeiro momento, haverá uma redução do número de veículos a entrar dentro da cidade (em prejuízo daqueles que, como vimos, foram expulsos de Lisboa nos últimos 20-25 anos);
- Porém, julgo também ser inegável que, com portagens a cercar Lisboa, as empresas intensificarão o seu movimento de "deslocalização" da cidade para a periferia, porque ficará ainda mais barato estar fora de Lisboa. Basta percorrer a A-5 para avistarmos edifícios e complexos empresariais ocupados por empresas e empregos que já estiveram em Lisboa;
- Valerá assim, cada vez mais a pena viver e trabalhar fora de Lisboa...
No ponto "1." disse que a redução do número de veículos se verificaria apenas num primeiro momento. Acredito nisso (não é uma verdade científica...) porque os condutores adaptam-se a novas situações e, além disso a experiência de portagens à entrada de Lisboa, mostra que não é a sua existência que desincentiva a entrada de carros:
Ou já se esqueceram que as entradas sul e oriental da cidade já têm portagem há muitos anos?
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