05/01/2010

Att. Presidências da CML, AML, IGESPAR e Ordem dos Arquitectos


A CML “comemora” os 100 anos da República com a demolição de prédios emblemáticos da Avenida da República, construídos pelo seu primeiro vereador republicano, Arq. Ventura Terra!


A Assembleia da República organizou, e bem, entre 26 de Março e 31 de Julho de 2009, uma exposição sobre a vida e obra do eminente Arquitecto Ventura Terra (1866-1919) autor do projecto original daquele hemiciclo.

Nessa exposição foram expressamente mencionados 3 prédios de rendimento de luxo construídos na Avenida da República (Nº 46-46-A e Av. Elias Garcia, Nº 60-62), símbolos por excelência da “imagem de marca” da jovem República.

Paradoxalmente, contudo, a essa exposição e a quem a organizou foi, e é, completamente indiferente a CML, senão veja-se:

Em 29 de Maio de 2005, a CML, através da sua vereadora Eduarda Napoleão (e sem que o seu presidente, Santana Lopes, a tivesse contradito), aprovou a demolição integral dos ricos interiores daqueles três edifícios, bem como as suas fachadas a tardoz. Motivo: esventramento do subsolo para estacionamento e construção/ampliação de novos edifícios para habitação e escritórios. Restarão as fachadas principais, sabe-se lá como.

Em 10 de Dezembro de 2008, em reunião de executivo, a CML aprovou por maioria (Favor: PS, PSD e LCC; Contra: PCP; Abstenção: CPL e BE) o licenciamento das obras.

Tudo aprovado sem que a CML alguma vez tenha feito aplicar a lei a um proprietário que, paulatinamente, deixou que os telhados daqueles edifícios se deteriorassem, arrancou portadas e janelas e destruiu varandas de cantaria e ferro.

Tudo aprovado no desrespeito pelo facto daqueles imóveis estarem incluídos na Carta do Património Municipal.

Curioso o interesse dos turistas que por ali passam e vão fotografando estes edifícios de Ventura Terra, bem como os do lado de lá da Avenida da República, na outra esquina com a Av. Elias Garcia, construídos por outro eminente arquitecto das primeiras décadas da República, Arq. Norte Júnior, e que se arriscam a ter igual destino.

Curioso o interesse do endinheirado americano que há poucas semanas tentou comprar e levar para a América o fabuloso elevador do prédio de gaveto.

Curioso este país, curiosa esta cidade.

A 9 meses do 5 de Outubro de 2010 aqui fica o nosso protesto, o nosso lamento.



Paulo Ferrero, Fernando Jorge e Júlio Amorim

Anexo: Fotos e breve descritivo dos prédios em apreço.

14 comentários:

Anónimo disse...

A beleza nao e republicana tal como o patrimonio.
Alias a bom da verdade a loucura da republica quer no passado quer no presente e causadora de grande destruiçao do nosso legado patrimonial.
E dificil compreender a celebraçao de uma efemeride, resultante do assasinato de um pai e de um filho, chefe de estado e Rei de Portugal. A imposiçao de um acto criminoso a toda uma naçao, ao povo portugues.
Nao podemos tambem esquecer que a republica e a sua instabilidade e falta de legitimidade foi causadora da varias ditaduras em que Portugal mergulhou, e mesmo apos o 25 de Abril ainda estamos a sofrer e a pagar os desvaires republicanos.

Anónimo disse...

Sim porque no tempo da monarquia este povo estava todo numa boa especialmente a grande maioria que pertencia às classes nobres.

Ai - a - Tola disse...

No tempo da Monarquia as pessoas viviam com o progresso e conforto que a época permitia. O Reino de Portugal era um estado democrático tanto quanto a democracia permitia e existia nessa época em todo o mundo.
O que a Monarquia não precisava de fazer é o jogo da demagogia e da fantasia que a República jogou à exaustão, resultando numa enorme desilusão para quem esperava ser esta a panaceia para todos os males da nação, papel que os republicanos se arrogavam de poder vir a ter.
Não esqueçamos a memória e obra infindável, incansável do Rei D. Pedro V, do Rei D. Luís I, do Rei D. Carlos I, do Rei D. Manuel II que tanto lutou no exílio pela manutenção da independência do país contra a sede espanhola de intervenção - intervenção esta justificada pelo estado de total desgoverno da República.
Não esquecer as imensas obras das Raínhas D. Maria Pia, D. Amélia - fundadora do Museu dos Coches, Instituto Câmara Pestana contra a tuberculose, Instituto Bacteriológico, etc, etc, etc...
E claro à Rainha D. Estefânia que morreu infectada por insistir em visitar os doentes diftéricos vítimas da epidemia da altura.
Conheçamos melhor a nossa história, as verdades e mentiras sobre esta República e aí poderemos comparar qual foi melhor.

Filipe Melo Sousa disse...

Os autores deste texto são a favor do fim das rendas baixas (baixas = eufemismo para inexistentes)? Se não, deixem-se de tretas, e não venham para aqui chorar.

Ai - a - Tola disse...

Caro Filipe,

as rendas praticadas nestes imóveis e nos demais devolutos são, de facto, inexistentes porque os inquilinos são inexistentes.
Parece-me que, na verdade, o Filipe é contra as rendas baixas e, por arrasto, contra o património e a memória histórica acumulada ao longo de séculos, de habitação de qualidade estética e de materiais - caixas de betão e vidro não são bonitas, têm na sua maioria salas grandes e quartos minúsculos - vendem-se orgulhosamente com os predicados de soalho flutuante (a imitar madeira), paredes pladur (a imitar estuque e reboco), música ambiente (para esquecer a pobreza estética), abertura por código das portas (falsa sensação de segurança), janelas de alumínio (optimos condensadores de humidades). Esqueci algum? Eu sempre me pergunto, quando leio e oiço argumentos de que as casas antigas não são seguras e apresentam conforto, como fazem os nossos vizinhos europeus com a enorme quantidade de edifícios preservados? Será que vivem torturados dentro de suas casas?

Anónimo disse...

Acho incrível o que está a ser feito com as Avenidas Novas!! Há mais prédios na calha, à espera da oportunidade!! Será que a nossa arquitectura da transição do séc. XIX para o XX é assim tão má?? Será que desfeia a cidade?? Acho que uma solução será todos os cidadãos interessados começarem a pedir a classificação de edifícios como estes!!
Já agora gostava de conhecer o projecto previsto para o local!!
Já agora reparem nos edifícios que vão ser demolidos no gaveto da Av. Casal Ribeiro com a Actor Taborda e reparem no projecto que se anuncia!! Uma monstruosa barbaridade!!
Para quando um Plano de Promenor para as Avenidas Novas?? Talvez daqui a 20 anos quando tiverem apagado do nosso panorama urbano toda a arquitectura antiga!!
Acho que quem toma decisões destas deverá lamentar não poder demolir os Jerónimos, ou quiçá o castelo de S. Jorge!

Filipe Melo Sousa disse...

Não sou a favor nem contra qualquer estilo. Existem casas remodeladas ao estilo moderno, tal como outras que mantêm a traça antiga. Entendo que o estado ou a CML devem ser neutros em relação ao que cada um quiser comprar, e consoante o seu gosto. Não faço juízos de valor a esse nível.

Os compromissos entre quem compra e quem vende, entre inquilinos e proprietários devem ser cumpridos. As rendas baixas são uma privação de uso. Um roubo patrocinado pelo estado. E como pessoa de bem, repudio essa agressão confiscatória.

Ai - a - Tola disse...

Caro Filipe,

obrigado pela sua explicação. Agora penso que o compreendo um pouca mais. Como suspeitava é um confesso liberal que pensa que o Estado dever-se-ia manter afastado de aspectos da vida de todos nós como o gosto. Concordo consigo que o Estado não deve determinar questões de gosto mas não estamos a falar realmente de gosto quando o Estado protege os edifícios antigos e os cascos antigos da cidade. Estamos a falar de património, coisa pública onde o Estado pode e deve intervir. Como os proprietários decoram a suas casas é da total responsabilidade dos mesmos, mas fechar varandas, alterar janelas e traças antigas, colocar compressores de ar condicionado nas fachadas, destruir edifícios inteiros para substituí-los por caixas pseudo-design, iguais a tantas outras em qualquer parte do mundo não é matéria do foro privado mas antes público.
Já agora uma pergunta: não será o Filipe um daqueles que se revolta pelo preço dos combustíveis e reclama do Estado uma posição? Como vê nem sempre a intervenção do Estado em aspectos da vida pública é indesejada.

Xico205 disse...

Concordo a 100% com o Filipe Melo Sousa.


Ao anónimo das 9:27 tenho que dizer que cada coisa tem o seu tempo. Se esses edificios tivessem a ser usados e com rendas caras e bem conservados, não eram demolidos de certeza.

Eu tambem adoro ver fotos e filmes dos anos 70 e 80 para ver os carros da época. Mas compreendo que nos dias de hoje não fazem sentido. Cada coisa tem o seu tempo.

Filipe Melo Sousa disse...

Não peço de forma alguma que o estado subsidie os combustíveis. Ficaria apenas contente se deixar de pagar o IVA e ISP que representam 70% do curso dos mesmos. Como vê, deu o melhor exemplo possível para reforçar o meu argumento: sem a intervenção do estado, beneficiaria muito mais.

Desafio-o a encontrar alguma área em que eu defendo a intervenção do estado.

Anónimo disse...

Invasão do território e o Estado também não deve intervir?

Ai - a - Tola disse...

Caro Filipe,

Não referi o preço dos combustíveis como uma área de intervenção subsidiária do Estado, mas como actividade reguladora de preços e fiscalizadora dos actos de comércio e livre concorrência.
Pelo que posso depreender o Filipe defende a total abolição dos impostos: como já veio aqui dizer - e faço fé no que diz já que não o conheço pessoalmente e tal não está nos meus planos para a próxima macro-conjunctura - está a estudar para ser contabilista ou economista. Sem impostos a quê se resume o seu trabalho futuro, e toda a sua área? Talvez então já sem grande serventia a sua área e vivendo na selva onde impera o mais forte se dedique à história da arte, que faz bem a qualquer pessoa e estamos todos muito necessitados!
Quer uma área onde o Estado intervém com toda a propriedade e que lhe aproveita a si e a todos? Os medicamentos: quer que o Estado deixe de os comparticipar?

Ai - a -Tola disse...

Caro Chico205,

edifícios que vestem as ruas de uma cidade e que as classificam, dão personalidade, atraem populações e turistas não são carros que por mais bonitos que sejam parasitam as cidades e tiram lugar aos cidadãos. Carros antigos estão nos museus, edifícios antigos estão no lixo (no caso das cidades portuguesas) ou preservados (no caso de tantas cidades na Europa e no Mundo).

Anónimo disse...

Invasão do território e o Estado também não deve intervir? Então Sr. Melo Sousa diga lá alguma coisa sobre o assunto!