16/01/2010

REPÚBLICA DE FACHADA: Rua Capelo, 14-18



Para este imóvel pombalino em pleno Chiado existe um projecto aprovado e licenciado (processo 2282/OB/2001 e 960237/EDI/2001, com o Alvarás de Construção nº 2/O/2008 e Alvará de Demolição n.º 2/D/2008). O edifício encontra-se nas seguintes áreas do PDM:

Área Histórica Habitacional; Áreas de Potencial Valor Arqueológico (Nível de Intervenção 1) e Núcleo de Interesse Histórico. Encontra-se também incluído numa zona urbana classificada como Imóvel de Interesse Público (IGESPAR).

A proposta aprovada apenas manutem as fachadas, cercea e cumeeira do edificio. Os interiores foram integralmente destruídos, incluíndo as características abóbadas pombalinas do piso térreo. São criadas 5 fracções de habitação, uma por piso, e no piso térreo, uma fracção destinada ao uso terciário.

Motivo da opção da destruição dos interiores? A construção de duas caves para área de estacionamento e de arrecadações (25 lugares de estacionamento!).

O logradouro foi completamente impermeabilizado para permitir a construção de caves mais amplas de estacionamento.

Resumindo, estamos perante mais um triste exemplo do paradigma do imobiliário do centro histórico de Lisboa: demolição dos interiores, impermeabilização do logradouro, mobilidade centrada na viatura de transporte partricular e ênfase na habitação de luxo.

Este paradigma de desenvolvimento urbano insustentável é sistematicamente aprovado tanto pela CML como pelo IGSPAR.

Um imóvel integrado num bairro histórico, classificado de valor nacional, e com pretensões a ser classificado Património Mundial da Humanidade, está reduzido a uma fachada.

Alguns consideram estes projectos como uma mais valia porque se mantem a aparência de um Ambiente Histórico. E muitos chamam a isto «reabilitação» e até «restauro»! Para nós é apenas prova de uma Lisboa superficial, autista e no caminho da auto-destruição.

26 comentários:

J A disse...

Uma cidade gerida por absolutos incompetentes.

J A disse...

"Obra a obra Lisboa m..."...é mesmo preciso descaramento e falta de vergonha!

Manela disse...

Muito bem, manter as fachadas e adaptar os interiores para as necessidades dos tempos que correm. É absolutamente ridícula esta vossa história de quererem manter as casas como foram construídas, casas que ninguém quer e onde ninguém vive.

Anónimo disse...

Eu tive o prazer de conhecer bem um dos apartamentos originais deste edifício e posso garantir que, até pela sua dimensão muito apreciável, quando recuperados seriam bem agradáveis e valiosos. O problema é que há pessoas muito abonadas que se equivocaram com os apartamentos que compraram na expo (porque afinal não é assim tão IN viver virado a norte debaixo de uma ponte) e agora vêem para o chiado mas com estacionamento para o Serie 7 do pai, Q7 da mãe e o cábrio da filha que entrou agora na católica. E assim se vai 1/4 de um quarteirão do chiado para meia dúzia de almas que se forem nacionais já não será mau. Digamos que expos fazem-se todos os dias ... a cidade antiga que se destroi não voltará por muita fachada que ainda fique de pé. Lamentável

Luís Alexandre disse...

A arte está em não deixar o edificado chegar ao estado de degradação total. Quando assim é, muitas vezes não há alternativa, é deitar tudo abaixo e fazer de novo.
É preciso apoiar a recuperação do edificado com financiamento e não com benefícios fiscais.
É preciso alterar as leis do arrendamento.

Filipe Melo Sousa disse...

Não percebo o que defende este blog. Quando são construídos apartamentos com estacionamento, querem que a obra não se realize. Por outro lado revoltam-se com os carros estacionados em cima do passeio. Querem ou não resolver o problema do estacionamento em Lisboa afinal?

Vão mesmo insistir na teimosia de querer uma cidade com infraestruturas antigas e desconfortáveis, onde ninguém quer viver? Porque o resultado desse modelo está à vista.

Viskonde disse...

ao menos deixam a fachada, ja nao e mau.

os interiores disto ja deviam estar tao podres que era mais caro aproveita-los, e assim ao menos podem adaptar o edificio todo aos tempos actuais.

em vez de refilarem com estes casos (em que até mantêm as fachadas) deviam é refilar com os casos onde nao as mantêm.

Ai - a - Tola disse...

Cara Manuela,

As casas onde ninguém vive e que ninguém quer são, em quase todos os aspectos, mais equilibradas, duradouras e agradáveis à vista do que todas as casas da Expo, Lumiar e arredores. O que chama adaptar às necessidades do mundo moderno é exactamente o quê, na sua opinião? Retirar os interiores de pedra e cal, estuque e tijolo e madeira e substituí-los por: imitação de madeira no chão flutuante, imitação de madeira nos móveis da cozinha, imitação de parede com pladur e estuque cartonado, imitação de pedra nos mosaicos marmoreados. Não acha que é demasiada imitação para um apartamento só. Não preferia antes comprar algo genuino? Esta sociedade moderna que tem essas tais necessidades que fala perdeu, completamente, a noção do que é luxo ou qualidade. Vislumbra-se por um qualquer som ambiente e luzes embutidas nos tectos - horríveis e caras de manter - por um qualquer sistema electrónico de abertura de porta, por dois locais de estacionamento para os três carros de família, que usam para deslocarem-se duas ruas acima. Esta sociedade moderna arrebata-se por pseudo designs, iguais em qualquer parte do mundo, frios e de fraca qualidade de materiais. Graças a Deus que existe ainda quem mantenha a «...absolutamente ridícula (...) história de quererem manter as casas como foram construídas» porque quando Lisboa não for mais do que uma memória do bonito que foi - a Av. da República é o melhor exemplo - não tenha dúvidas que os nossos descendentes olharão para a nossa geração como a responsável pela bábara, inculta e ridícula destruição da sua herança cultural. Manelas há muitas, Manuelas poucas...

Anónimo disse...

Qual é a diferença entre Rosto e Máscara? A Lisboa que herdámos e a que vamos legar.
Um abraço e continuem a denunciar estes escândalos com que as autoridades nos brindam. Quem sabe um dia, alguém com verdadeiro poder, vai passear ao Boulevard St. Germain e até ficará a pensar por que razão não existem garagens a granel e os interiores são todos beaux-arts...quem sabe...
Paulo Fernandes

Xico205 disse...

Pelo menos as "imitações" não são responsaveis por crimes contra o património natural, como desmate de florestas e incêndios criminosos.

Para o aiatola, qualidade é ausencia de construção anti-sismica, tabique de má qualidade, predios prontos a arder cheios de material combustivel, ausência de colunas e bocas de incêndio, ausência de garagens para haver muito mais carros na rua para ele poder criticar, casas geladas no Inverno e com custos de aquecimento brutais em termos monetários e ecologicos, humidades, baratas, centopeias e ratos. Este é o conceito de qualidade do aiatola.

Anónimo disse...

Não me parece que esse tipo de apartamento vá levar mdf revestido de película plástica a imitar mármore :s

Não tenho nada contra este reaproveitamento. Pelo menos o prédio não está preservado arquitetonicamente e abandonado! Que é esse o pecado da baixa!

CC

Anónimo disse...

Xico porque é que não compras um cartão Interrail e vais viajar por essa Europa fora porque o que escreves prova que tens os olhinhos tapados. O anónimo das 11:02 até deixou uma sugestão para veres uma cidade cheia de riscos sísmicos materiais combustiveis etc. Aposto que o mais longe que estivestes de Portugal foi Ayamonte ou Badajoz mas quase de certeza nem isso.

Anónimo disse...

Melo Sousa escreveu:
"Desafio-o a encontrar alguma área em que eu defendo a intervenção do estado"

Invasão do território e o Estado também não deve intervir?

Então Sr. Melo Sousa diga lá alguma coisa sobre o assunto ou é só blablablablabla?

Ai - a - Tola disse...

Caro Chico205,

Os edificios da Baixa foram construídos com a melhor tecnologia anti-sismica que podem ter edifícios com esta tipologia e antiguidade. Melhor só o que se faz no Japão, mas esses vêm à Europa ver coisas bonitas e antigas que já não há no seu país - tenho imensos alunos japoneses e sei do que falo.
Todos esses melhoramentos de que escreve podem ser feitos sem danificar ou desvirtuar as casas. Aliás é o que acontece por toda essa Europa fora. Se eles têm tecnologia para o fazer aprendamos com eles. O que eles não podem mudar é a mentalidade portuguesa em que limpeza é para dentro de casa e passando da porta da nossa casa já não nos diz respeito e assim podemos descuidar, estragar e não ser criticos.
As florestas são desbravadas não pela construção civil mas pela indústria do papel, da carne e da exploração de recursos naturais.
Um técnico amigo austríaco fez elogios ao meu prédio como foi preservada a escadaria de madeira - e outros elementos - e como ela é mais segura em caso de catástrofes naturais. Uma escadaria de betão rebenta ao fim de alguns minutos de um incêncio. Tal não acontece com escadarias de madeira. E não se atreva a desdizer o que ele me disse porque ele tem mais de 50 anos de experiência na sua profissão.

Xico205 disse...

Anónimo disse...
Xico porque é que não compras um cartão Interrail e vais viajar por essa Europa fora porque o que escreves prova que tens os olhinhos tapados. O anónimo das 11:02 até deixou uma sugestão para veres uma cidade cheia de riscos sísmicos materiais combustiveis etc. Aposto que o mais longe que estivestes de Portugal foi Ayamonte ou Badajoz mas quase de certeza nem isso.

9:26 AM

Por acaso já fiz um interrail e até que não me importava de fazer outro, se qusiser contribuir para esta causa eu dou-lhe o meu NIB para a transferencia.

Os sitios mais longe que eu fui foram Quenia, Brasil e Estados Unidos, ainda se anda um bocado depois de passar Ayamonte e Badajoz.

Xico205 disse...

Ai-a-tola, tem toda a razão quando diz que a Baixa FOI construída com construção anti-sismica. Actualmente já não a tem. O metro acabou com ela. O rio que corre em baiixo da Baixa foi seco, e as estacas que suportam os edificios já não estão inchadas dentro de água. Secaram, apodreceram e desfizeram-se. Pode crer que quando houver um abanão a serio, não as festinhas que o ultimo fez, aquilo vai cair todo.

Tambem deve saber que a construção sismica pombalina, foi abandonada no seculo XIX, porque à boa maneira portuguesa, as pessoas esquecem-se do que já aconteceu à muito tempo.

Os piores edificios foram os construidos nos secs. XIX e XX até à decada de 60. A estrutura de gaioleira, e alvenaria é a maior porcaria que há. Qualquer pessoa com um minimo de conhecimentos de construção sabe que os piores edificios de Lisboa são os do principio do século XX nas avenidas novas. Não é por acaso que de vez enquando caem.

Olhem este em Campo de Ourique (e não foi preciso um sismo): http://www.youtube.com/watch?v=6vUD0nwtJw4&feature=PlayList&p=74051B816934A603&playnext=1&playnext_from=PL&index=18

Anónimo disse...

A estrutura de gaioleira, e alvenaria é a maior porcaria que há"

Xico nem sabes o que estás a escrever mas continuas dentro da tua gaiola a mandar bocas e agora diz-me lá se não fizestes o teu Interrail no youtube.

Ai - a - Tola disse...

Caro Chico205,

como a droga que sabe ser chá e caldos Knorr, porque viu e ouviu dizer, agora sabe também o que se passa no subsolo da Baixa. Caso tenha informações privilegiadas sobre o assunto partilhe-as connosco e com os demais técnicos que parecem nada saber sobre a seriedade do assunto. Em todo o caso as estacas em pinho verde não têm intenções anti-sísmicas mas antes assegurar a estabilidade diária de um terreno infiltrado por água. Quanto à gaiola pombalina, tenha sido ela mantida na integridade, oferece excelentes garantias de resistir a um terramoto. As construções fracas da década de 20 do século XX em Lisboa deveram-se ao forte aumento demográfico que Lisboa sentiu originado por populações rurais que, fugindo à crise económica - obrigado República - e política que grassou no nosso país migraram para a capital e outras grandes cidades. Construiu-se muito, muito rápido e com materiais de 2ª categoria. Mesmo assim esses edifícios mantêm-se sem obras há décadas, muitos nunca tiveram obras de fundo e, arruinados, teimam em manter-se de pé, completamente infiltrados pela água da chuva que as janelas convenientemente deixadas abertas deixaram passar. Edifícios de betão não aguentam tanto tempo sem obras. Veja-se o estado da ilha mineira abandonada de Hashima, no Japão e como três décadas puseram em causa todas as estruturas de betão. Eu não teria dúvidas em escolher qual das opções: Baixa ou Lumiar, Av. Novas ou Expo.

Xico205 disse...

Se quiseres que te mande o album de mais de 2000 fotos que fiz no interrail dá-me o teu mail, que eu começo já a juntar virus aos ficheiros para enviar.

Anónimo disse...

Bom. Por aqui andam culturas e visões completamente diferentes. Há quem não entenda uma cidade sem o pópó na garagem e quem prefira caminhar por calçadas tentando esquecer-se deles.

É fácil perceber quem viveu ou vive numa zona antiga e por isso a respeita e quem, na melhor das hipóteses, vai lá para beber uns copos quando os amigos excentricos os obrigam (com umas docas tão lindas e aqueles a teimar com o Bairro... )

Não vale pena guerrearem mais.

Quem gosta do estilo expo ou das construções actualizadas tem muito para onde ir. Infelizmente quem tenta zelar pelo pouco que ainda resta de história e de diferença não tem tanta oferta.

E não vale a pena fazer interrail... basta darem uma saltada aqui a espanha ... em vez de torremolinos experimentem ir Granada, Cordoba, Oviedo ou mesmo Cáceres para quem não quer ir longe... vá ... abram os olhinhos ou vão para a expo passear o cão ;-)

FJorge disse...

É o que dá falar de assuntos que não se domina. E que horror ao passado que alguns lisboetas têm - nem parecem naturais de uma das cidades mais antigas da europa!

Para os "entendidos" que para aqui vêm defender a demolição da gaiola pombalina aconselho visitas a alguns dos edifícios desse periodo recentemente remodelados. Não há nada como ver e experimentar para ultrapassar preconceitos e alargar os horizontes. Podem começar pelo hotel Bairro Alto no Largo de Camões ao Chiado. Os interiores deste edifício foram completamente remodelados para acolher um hotel de 5 estrelas mas NÃO se destruiu a gaiola pombalina. Antes pelo contrário: a gaiola foi tratada onde era necessário, melhorado o seu desempenho onde era preciso. O sistema de gaiola pombalino funciona bem, é perfeitamente recuperável e até pode ser replicado em edifícios novos.

Anónimo disse...

Pelo que aprendentes Europa fora deves ter tirado 2000 fotos às rodas do comboio.

Xico205 disse...

O problema é que há poucos edificios pombalinos que não foram alterados. Já estive dentro de muitos, e a degradação é geral. Além disso estão cheios de ratos, então as coberturas de tabique antes das telhas, estão cheios de ratazanas, ouve-se os guinchos delas e ouve-se a correrem. Um dos edificios que está cheio delas é o edificio do Totta na Rua Aurea.

Eu é que não ia morar para aquela podridão de edificios.
Já morei numa casa velha e degradada até aos 14 anos e chegou-me.

E por quê que querem ir a Espanha ver edificios ou bairros recuperados? Não os há em Portugal? Alfama foi quase toda reabilitada, o Castelo tambem, o centro historico de Faro está reabilitado, Guimarães tambem, a ribeira do Porto tambem, o centro da Guarda tambem, o mesmo na Covilhã, Aveiro, Leiria, Albufeira, Lagos, Cabeceiras de Basto, Fafe, Viseu, Mirandela, Vila Real, Funchal, Angra do Heroísmo e em Braga pelo menos.

Tristes portugueses que preferem só conhecer o estrangeiro antes de conhecerem o país onde vivem. E estarem sempre a denegrir a imagem de Portugal. Já vi muitos estrangeiros dizerem que Portugal foi o país que mais gostaram, que tem um pouco de tudo e com qualidade, e não compreendem como muitos portugueses emigram duma terra tão boa. Mas muitos portugueses devem pensar que são mais finos e importantes por falarem mal do proprio país e só andarem pelo estrangeiro e não conhecerem nada de Portugal, cambada de saloios.
Eu já andei muito pelo estrangeiro mas tambem conheço muito bem o meu país. Já estive em mais de 200 concelhos de Portugal, e hei de ir aos 308.

Anónimo disse...

As viagens no Youtube até nem são caras.

Anónimo disse...

Caros,

Caso não saibam, a gaiola pombalina foi um método de construção anti-sísmica, e muito eficaz, porque a madeira que está embutida nas paredes de alvenaria permite absorver os impactos sofridos pelos movimentos do solo, ou seja, ela abana, torce, mas não cai, as paredes ficam flexíveis. Esse senhor Xico tá a fazer uma tremenda confusão entre a gaiola pombalina e o sistema de construção assente sobre estacas, são duas coisas diferentes meu caro!!! Antes de escrever, informe-se...
Tenho uma casa de família, com 130 anos de idade, que ainda está de pé e recomenda-se e... adivinhem... A sua construção, o interior das paredes, é com a gaiola pombalina e alvenaria !!! Antigamente, as coisas eram feitas com gosto. Tudo era, para além de útil, bonito. A minha casa tem desenhos nas paredes, cada divisão com desenhos diferentes, que o meu avô fez questão de preservar e imagine-se... As paredes do corredor são em estuque pintado a imitar o mármore. Como vêem, nem sempre as coisas antigas são sinónimo de desgaste de recursos naturais, como alguém disse... Para não esquecer que as madeiras utilizadas na casa (portas e soalhos) são de origem, ou seja têm 130 anos de idade. Usando coisas de qualidade, elas duram séculos e poupam-se recursos. Aquela casa, em 130 anos nunca precisou de madeiras novas, mas as modernaças, como a casa dos meus pais, têm de levar tudo novo ao fim de 30 anos. Então digam-me lá qual é a casa mais ecológica? Eu sou a favor de se preservar o que tem qualidade e beleza.

Anónimo disse...

Ah, Xico, a propósito do prédio em campo de ourique que caiu... Todos caem, contrução de alvenaria ou cimento, quando não há manutenção, os edifícos degradam-se, mas se calhar um edifício de 50 anos sem manutenção tem mais problemas que um de 130...