A intenção do Governo de proporcionar ao grupo Mota-Engil um quase monopólio, com a extensão da concessão do Porto de Lisboa, seria apenas mais um favorecimento de um grande grupo económico, não fossem as suas enormes implicações na capital com as obras previstas para o Terminal de Contentores de Alcântara (TCA)
Desde logo, o tráfego rodoviário gerado. O número de camiões na zona de Alcântara iria aumentar 62%, atingindo-se uma média de 1,5 camiões por minuto e por sentido durante as horas de operação do porto. Para que esse volume de tráfego não fosse ainda maior, seria necessário o escoamento dos contentores por via ferroviária e por barcaças – operação que nunca se realizou devido ao seu elevado custo. Por outro lado, os seis anos apontados para as obras (previsivelmente muito mais, atendendo às características de Alcântara e à complexidade técnica do projecto) seriam um golpe profundo na vivência da zona das Docas, para além dos enormes transtornos que iria provocar no tráfego da cidade.
Primeiro, decidiu-se e só agora se iniciaram os estudos de impacto ambiental e as sondagens geotécnicas para ver as condições de enterramento da linha ferroviária, desconhecendo-se como se resolverá a incapacidade da linha de cintura para absorver mais comboios. No final, a factura de tanto improviso será paga pelos do costume. Em benefício de interesses privados.
O projecto tem sido justificado pela urgência em dar resposta à procura do mercado, sendo a inexistência de alternativas a Alcântara apontada como a razão para a triplicação da capacidade do TCA. Ora, se a urgência cai por terra com a actual crise económica, é surpreendente dizer-se que não há alternativas, quando a APL sempre defendeu a expansão do porto para a zona da Trafaria e, ainda recentemente, apresentava um projecto para a área de amarração da futura ponte no Barreiro. Isto para não falar de Setúbal e Santa Apolónia para os navios de menor calado, e de Sines como porto de águas profundas.Por outro lado, a capacidade do porto de Lisboa está subutilizada, movimentando apenas 500 mil TEU (média nos últimos anos) para uma capacidade instalada de 900 mil TEU. É possível aumentar a sua utilização passando o horário das actuais 16 horas por dia útil para um horário pleno. Mas as ‘folgas’ do TCA não se ficam por aqui. O presidente da APL, Manuel Frasquilho, afirmou, em Maio de 2006, que «com oito milhões de euros, duplico a capacidade do TCA: de 320 mil TEU para mais de 600 mil». O que terá mudado em dois anos para se avançar com um investimento quase nove vezes superior para garantir uma capacidade de 1 milhão de TEU, para que se passe por cima de um concurso público para uma nova concessão do TCA (quando esta termina só em 2014) e se menorize o papel de Sines no sistema portuário nacional?
Fernando Nunes da SilvaProfessor universitário/Urbanista
in "Sol" 10-02-2009
3 comentários:
Em 1975 os Lisboetas viam a sua frente ribeirinha completamente entupida por contentores de familiares e amigos que retornavam à metrópole contra a sua vontade, graças a uma classe politica surgida à pressa, que descolonizou sem alma e sem acautelar o interesse dos milhares que lá viviam.
Durante anos vimos contentores com os bens de quem teve de deixar a terra que já viviam como sua, nunca reclamando estes haveres, sobras de uma vida, fazendo pressentir naturalmente o pior desfecho aos seus proprietários.
O local é o mesmo; o contexto é outro. Vamos ter de novo a frente ribeirinha atulhada de contentores, desta vez sem a grave crise humanitária de então, mas na mesma, graças à idiotice dos que nos governam.
Jorge Santos Silva
Espanta-me como este homem, que se diz tão distinto, com um cargo civil tao honroso venha defender um porto na Trafaria e outro em Santa Apolónia mesmo no centro da cidade. Quer dizer, em vez dos cruzeiros com os turistas chegarem ao centro de Lisboa e à Alfama que tanto gostam, vão chegar os contentores?
Prosseguindo, espanta-me igualmente que este homem, que estudou às portas da linha de Cintura ecom um cargo civil de muita honra venha dizer isto "desconhecendo-se como se resolverá a incapacidade da linha de cintura para absorver mais comboios". Gostava de saber onde é que está a actual incapacidade na linha de Cintura para receber mais comboios, se a linha de Cintura se encontra quadruplicada entre Sete Rios e Roma Areeiro e vai sofrer obras de quadruplicação de Roma Areeiro a Braço de Prata. Se até há bem pouco tempo coexistiram comboios de 10 em 10 minutos procedentes do Pragal com comboios de 15 em 15 minutos procedentes de Alcântara e ainda os comboios de Longo Curso para o Alentejo e Algarve. E numa linha que até há bem pouco tempo teve o dobro dos comboios para a linha de Sintra que actualmente tem (devido ao encerramento do túnel do Rossio).
Foi provado que se conseguem colocar os comboios procedentes da linha de Cascais, na linha de Cintura com a actual infraestrutura e sinalização.
Mais por mais, os serviços Cascais-Cintura são simplesmente os actuais comboios que partem de Alcântara (2 por hora) acrescidos de mais dois outros comboiso por hora. Que já os houve, nos meses de Novembro e Dezembro de 2004 pelo encerramento do túnel do Rossio, os comboios de Alcantara para a linha de Cintura e Norte partiam aos seguintes minutos: 04, 18, 34 e 48 e nessa altura cabiam todos na linha de Cintura e não me lembro deste homem vir dizer o contrário.
Numa análise simplista repare-se aqui nas partidas de estação de Campolide para a hora 09 do dia:
0908 URBANO Coina-Cintura
0911 URBANO Cascais-Cintura
0914 URBANO Fogueteiro-Cintura
0918 URBANO Setúbal-Cintura
0925 URBANO Cascais-Cintura
0928 URBANO Coina-Cintura
0938 URBANO Coina-Cintura
0941 URBANO Cascais-Cintura
0948 URBANO Setúbal-Cintura
0950 ALFA P Faro-Porto
0955 URBANO Cascais-Cintura
0958 URBANO Coina-Cintura
No mínimo, um comboio por cada 3 minutos, com espaços onde não passa um comboio em 10 minutos! O sistema prevê, inclusivamente, que nesses 3 minutos possa passar mais do que um comboio. E, no futuro com a nova ponte para o Barreiro, os comboios de Longo Curso do Sul e Alentejo deixam de passar pela linha de Cintura, a não ser que alguns passem a fazer Sete Rios-Oriente-Barreiro-Sul. Se o fizerem, será nas linhas dos comboios que vêm de Sintra pois o terminal de Sete Rios está localizado nas linhas que vêm da linha de Sintra.
Lembro-me foi deste homem vir um dia defender o serviço de ML desde a estação de Alcântara (Terra ou Mar, já não me recordo) como se viesse substituir esta obra. Portanto, que este homem não venha com os seus moralismos de interesses de cordel que, para mim, é por demais evidente quais são os seus interesses.
De referir que o canal das 0911 e das 0941 indicados acima, existem actualmente para os comboios de Alcântara para Castanheira do Ribatejo.
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